4- Eu vi tudo

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É muito louco quando a gente planeja uma coisa e, na nossa cabeça, é tudo muito fácil, mas na realidade, se o plano tiver um por cento de chance de dar errado, sem dúvida nenhuma ele irá dar errado.

Eu já estava quase terminando minha parte da palestra quando notei que a câmera estava se mexendo, mas eu só via o chão. Quando a câmera ficou parada novamente, meu coração acelerou, pois já sabia o que iria acontecer.

Durante um bom tempo, eu não via ninguém, apenas ouvia a voz da Tessa, às vezes mais alta e às vezes bem baixa. Dei uma acelerada no conteúdo da palestra antes que o pior acontecesse.

Sim, é verdade que eu poderia desligar o telefone e não ver tudo aquilo, mas a curiosidade não deixava. Eu queria viver aquilo, queria saber qual seria a minha reação ao ver meu marido com outra. Sim, eu sei que ele não estava me traindo naquele momento, só estava fazendo o seu trabalho, e o pior é que a Tessa também não tinha culpa nenhuma, afinal, eu a envolvi em tudo isso.

Eu já estava no último parágrafo do texto que deveria explicar quando vi meu marido colocando a luva. Meu coração acelerou, e com ele, minha voz. Foda-se, eu apenas li o texto, me despedi e saí correndo para o banheiro do hotel onde estava ocorrendo a palestra.

No outro dia...

- Vocês não entenderam, eu vi tudo, e quando digo tudo, é tudo mesmo. Meu Jon metendo o dedo naquela garota, parecia que não ia acabar nunca mais. Na minha cabeça, ele ficou pelo menos meia hora com o dedo lá dentro, estava tão louca que tive a impressão de ter visto a garota com cara de quem estava gostando. Foram os minutos mais longos da minha vida. - Falei, pegando mais uma fatia de bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro.

- Mas também, quem não iria gostar? Com todo o respeito, minha amiga, mas o seu marido é tudo de bom. - Disse Carla, pegando outro pedaço de bolo e colocando uma bola de sorvete de baunilha ao lado no prato.

- Mas você não contou a parte mais importante, minha amiga, que é o que você sentiu na hora em que viu tudo aquilo? - Carola perguntou, realmente preocupada.

- Pelo incrível que pareça, eu achei que fosse me sentir bem pior. Eu achei que fosse querer morrer, que fosse ficar com raiva do meu marido e da garota, mas não. Na verdade, acho que até fiquei bastante excitada. Até porque não foi uma traição, ele estava apenas fazendo o seu trabalho.

- É isso, é isso que falta para apimentar o casamento de vocês, esse casamento ainda tem esperança. Já vi muito disso, homens ou mulheres que sentem tesão em ver seus parceiros com outra pessoa - Carla falou, amando a ideia.

- Isso tudo é muita coisa para minha cabeça. Como uma pessoa pode sentir tesão em ver o amor da sua vida com outra pessoa? - Carola perguntou.

- Eu não sei, eu não sei direito o que aconteceu, só sei que eu fiquei bastante molhada.

- Nina, por que você não faz a proposta para o Jonathan de sexo a três: ele, você e mais uma mulher? Estou pronta para me sacrificar pela causa.

- É claro que está, né Carla? - Carola falou, rindo alto.

- O pior de tudo é que ainda tenho que pagar a menina, mas estou muito envergonhada de falar com ela. - Falei, olhando fixamente para a mesa.

- Você tem três opções: ou toma coragem e entrega o dinheiro para essa garota, já que não aconteceu nada de errado, você pode apenas não pagar a garota, ou, se quiser, me dá o dinheiro que eu vou lá e pago. - Carla falou.

Após minhas amigas terem ido embora, pensei bastante até que peguei a carteira, o carro e fui até o shopping esperar o horário de saída de Tessa. Eu até tentei focar na contabilidade da minha loja ou em qualquer outra coisa, mas não consegui. Então, fui para a praça de alimentação e sentei na mesa mais próxima da lanchonete onde a jovem trabalhava.

Quando me viu, a morena ficou branca. Fui até o seu caixa, pedi um refrigerante, e depois de pagar, voltei para a mesa, onde abri meu notebook e fingi trabalhar. Eu me distraí um pouco, e quando olhei, outra pessoa já estava no caixa.

Fui até o caixa e perguntei por Tessa, e me disseram que ela já havia saído.

- Por quê? Por que será que ela não quer receber o resto? - Guardei meu notebook e fui para o único lugar que mais cedo ou mais tarde ela teria que aparecer, o ponto de ônibus.

Quando cheguei no ponto, Tessa já estava com o uniforme, mas seu longo cabelo estava  solto.

- Oi, acho que tem uma coisa sua comigo. Vamos sairdaqui para que eu te pague, pois não gosto de ficar com o que não é meu.

Tessa, ainda calada, veio atrás de mim até entrarmos no meu carro no estacionamento do shopping. Só então abri minha carteira, peguei cem reais e entreguei na mão da jovem.

- Eu gostaria de falar que não preciso, mas estaria mentindo. - Tessa falou, pegando o dinheiro da minha mão e abrindo a porta do carro para sair. - Você viu o que aconteceu? Han... O doutor fazendo exame?

- Aham...

- Você está com raiva? - Tessa perguntou com a voz quase não saindo.

- Não, pode ficar tranquila.

Casamento perfeito.  (+18)Место, где живут истории. Откройте их для себя