66. Pedro

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-É ainda um quadro muito grave, mas, neste momento, a morte cerebral foi afastada por completo. Pode até haver uma evolução para morte cerebral, mas vamos torcer para que haja uma resposta benéfica. -Ouvir aquilo me fez sorrir pela primeira vez naquele dia terrível, sinceramente eu poderia até abraçar aquele médico, mas eu tinha tantas perguntas.

-Eu não entendi, disseram que... 

-Sim, sente-se. -Apenas sento e ele me acompanha, eu estava tão assustado. -Ele respondeu com reflexos do tronco cerebral, são respostas involuntárias a estímulos mediados pelo tronco cerebral, uma parte importante da anatomia cerebral responsável por várias funções diferentes. -Confirmo com a cabeça, mesmo entendendo muito pouco sobre o que ele disse, entendo perfeitamente que isso é muito bom, -Se ele respondeu, quer dizer que a morte cerebral foi diagnosticada incorretamente. Mas peço que se acalme, e não crie tantas esperanças.

Minha mãe me contava algumas histórias do meu avô, ela dizia que ele era um milagre, mas não era um bom homem, ele era absurdamente agressivo com suas filhas, mas ele sobreviveu a sete ataques cardíacos. Eu não o conheci, mas João Menezes sempre dizia que ele foi um grande homem, que depois de tudo, ele conseguiu deixar seu legado, acho que isso era algum tipo de castigo de Deus, não que eu fosse super religioso, eu entendia que existia um ser ali que olhava todos nós. 

Caminho rápido por um corredor tão apertado que estava me dando falta de ar, haviam transferido ele para outra área, eu não entendi muito bem o porquê, eram tantas palavras difíceis, eu não decorei se quer uma. Ao entrar no quarto dele, o ar foge dos meus pulmões, eu não tinha visto ele ainda, eu estava tão assustado desde que cheguei naquele hospital, que nem tinha parado pra pensar que eu poderia não ter tido uma última chance com ele, pois eu simplesmente não havia entrado para vê-lo, paro pra pensar que na verdade ninguém teria, aposto que essa era nossa segunda chance.

Respiro fundo e olho para todos aqueles aparelhos, estavam todos ligados, uma enfermeira estava ali arrumando seu travesseiro, e ele permanecia imóvel, eu espero muito que ele saia dessa, vamos ter muitos churrascos e com certeza eu vou contar várias piadas sobre como ele tá muito feio deitado nessa cama.

-O senhor vai ficar com ele o resto da noite? -me perguntou uma enfermeira assinando algo em um papel.

-Sim, só preciso fazer uma ligação. 

Pego meu celular, e disco o número do VN, eu estava extremamente animado, mas o médico disse que não deveríamos criar tantas esperanças, eu não faria isso claro, mas eu não passaria de novo por isto. Ele não atendia, tentei mais duas vezes e continuava a chamar e chamar. Peguei o radinho, chamaria o primeiro que respondesse, espero que a notícia não tenha se espalhado pelo morro, LK estava vivo, ele é forte, se ele tem uma chance, ele vai voltar.

-Chefe. -Uma brecha de sorriso escapa da minha boca, aproximo o radinho e digo:

-Corre até a casa dos Menezes, e diz que vaso ruim não se quebra, LK tá vivo.


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2 semanas depois

Era a sexta vez essa semana que eu vinha até o hospital, LK não havia acordado ainda, mas os médicos diziam que era só uma questão de tempo, ele teve vários reflexos, a cada dia ele mostrava o quanto era forte, eu sempre chegava quando não tinha ninguém, eram apenas alguns minutos que eu conseguia com ele, Geeh se quer olhava pra mim durantes essas últimas semanas, por isso decidi vir quando ela não estava. Quanto a Amanda, estávamos bem, mas ela se quer falava comigo, apenas sorria e baixava a cabeça, Vini estava tão ocupado com o morro, ele havia assumido como chefe, eu não estava em condições de assumir, mas estava como seu braço direito, eu ficava mais fora do morro do que dentro, as vezes ficava dias sem vir, era como nossas vidas estavam agora.

A Menina Do MorroWhere stories live. Discover now