CAPÍTULO- 3

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Yara Álvarez

Sou Yara, filha mais nova do milionário Sr. Hugo Álvarez....
Desde criança tive tudo que uma filha pode desejar, meus pais sempre me deram do bom e do melhor. Estudei em escolas particulares da cidade, pratiquei esportes, cursos de idiomas, frequentei desde a adolescência bares e restaurantes caros e chic's, além dos passeios e viagens.
Se eu gosto dessa vida de luxo?

"Haha, mas é claro!"

Quem negaria que o dinheiro pode facilitar nossos sonhos e desejos?!

Mas cá entre nós, minha vida nem sempre foi um mar de rosas, principalmente no que diz respeito à minha família. Não somos tão unidos.

Papai sempre viveu fora, viajando a negócios, minha mãe com seu pet no colo em compromissos nos clubes e encontros com outras madames da cidade. Meu irmão, Leonardo, esse é um mala, anda sempre com pressa, além disso, na maior parte do tempo chega de madrugada em casa das suas farras com os amigos...isso quando não dorme em seu apartamento.
Quando temos tempo de nos reunir, sempre aparece um motivo para eles brigarem, e de certo modo, posso dizer que o casamento dos meus pais está mais por aparência para a sociedade do que qualquer outro motivo.

A única vez que vi eles juntos e abraçados foi quando eu tinha apenas 10 anos, e sofri um acidente, fui vítima de atropelamento de carro. Dou um gole do meu suco detox relembrando o que aconteceu...

10 anos atrás

Estava parada em uma das calçadas de uma avenida no bairro Jaguaré, tinha acabado de sair do curso de inglês, e esperava meu motorista chegar para me buscar.
Eu sempre estive acompanhada de babá ou qualquer outro funcionário do meu pai. E nesse dia, foi como outros...

Derrepente ouço um barulho muito forte vindo do meu lado esquerdo e quando olhei na direção, um carro desgovernado quase que atropela um garoto em cima de uma bicicleta, ele conseguiu se desviar, foi tudo tão rápido que eu não tive a mesma sorte e acabei sendo atingida.

Fui jogada para trás, e fiquei caída no chão, com parte do braço esquerdo imóvel e doendo, pontos de sangue escorrendo do outro lado do rosto.
Era uma sensação horrível, a pior que já me lembro de ter sentido. Comecei a chorar em desespero...
Senti como se minha vida fosse acabar ali.

Vi que o mesmo garoto da bicicleta, se aproximou, correndo até mim, afim de me ajudar. Pediu para eu ficar parada, e perguntava onde doía, eu respondi.
Ele tirou o celular do bolso e ligou para a emergência pedindo socorro, detalhando local e o acontecido. O garoto, tinha um pequeno arranhão na mão, foi apenas o que vi, mas parecia nem se preocupar consigo mesmo.

Logo que desligou, passou as mãos por entre meus cabelos, procurando mais algum ferimento. Pegou um dos meus cadernos, arrancou a capa, e a rasgou com força,  tirou uma blusa de dentro da mochila que carregava, e fez um amarro em volta do meu braço fixando.

Disse ele:

- Isso é para evitar que mecha, porque parece ter quebrado...

Ele parecia entender bastante e ser muito inteligente, ou talvez, já tinha estudado sobre primeiros socorros. Não sei, mas fato era, eu estava amparada de alguma maneira, e me sentia confortável e feliz com ele ao meu lado.

Ele sorria para mim, como um anjo que caiu do céu, me dizendo o tempo todo, que não precisava chorar e que ficaria tudo bem. Mas, comecei a ficar fraca, minhas vistas escureceu e desmaiei...

Ele me chamou: Menina, menina...acorda! Não pode dormir... por favor! O socorro já esta vindo, aguente firme!

Voltei depois de um tempo...
- Graças a Deus! - ele diz sorrindo ainda mais e com suspiro de alívio...

Quanto ao motorista, fugiu sem prestar o mínimo de socorro. Um grupo de pessoas curiosas se juntaram em círculo ao redor de mim, protestando e indignadas com a ação desumana do culpado.

Logo a ambulância chegou, e junto viaturas da polícia. Pegaram o depoimento dele ali mesmo, eu ouvi ele se apresentando, Maicon, e que tinha conseguido anotar de cabeça, por memória fotográfica, a placa e marca do carro. Depois não consegui ouvir mais nada, pois fui colocada na maca e logo dentro da ambulância.

Chrgando no hospital, fiz vários exames e tinha quebrado o braço esquerdo e outros arranhões pelo corpo. Os médicos disseram, aos meus pais, que eu sobrevivi por um milagre, e por ter tido alguém que me ajudou, agindo rapidamente pois a fratura estava prestes a atingir partes delicadas, veias e até artérias, e poderia gerar uma hemorragia interna.

Meu pai ficou o tempo todo tentando saber quem era o tal garoto, mas pouco se tinha informações dele. Pois ele, não tinha sofrido lesões graves, então não foi para o hospital. Mas eu me lembrava de cada detalhe do seu rosto, seus cabelos loiros, sua pele clara e olhos azuis.
E o guardei na memória.

Ao final do tratamento, com a melhor equipe do hospital particular, que meu pai tinha boa parte de investimento, eu comecei a voltar a minha rotina. Ficou uma pequena marca no meu braço pela cirurgia, mas boa parte também foi corrigida com procedimentos de reparação.

O tempo passava e eu me perguntava se algum dia iria me encontrar com aquele garoto de novo, fiquei tão grata pelo que ele fez, que cheguei a voltar no mesmo lugar, até depois de ter terminado o curso.
Ficava esperando ver se ele passava por ali...mas nunca o vi novamente.

(...)

Ontem, em frente a faculdade, vi um rapaz alto, loiro vendendo lanches caseiros. E quando a Camila o chamou, e ele se virou para nós, reconheci aqueles mesmo olhos azuis. Fiquei tão surpresa que não conseguia acreditar, que depois de tanto tempo e de tanto procurá-lo, para tentar agradecer como merecia, ele está ali...na minha frente. Era ele! Maicon!

Meu coração disparou ao vê-lo, e não pude deixar de querer ajudá-lo da mesma forma que ele fez comigo.... era um dever eu tentar retribuir.
Ele parecia não ter me reconhecido, tanto que não demonstrou nada, mal conseguia me olhar. E também eu não me identifiquei

Comprei tudo o que ele tinha naquela caixa térmica. Não gostava de broinhas, mas aquelas eu comeria.
Entramos na faculdade e sentamos em uma das mesas, na praça de alimentação. Comecei a comer, uma delícia, até me surpreendeu ter gostado.

Camila me olhava perplexa, por me ver comer carboidratos, o que não fazia parte do meu cardápio.

- Amiga você tá bem? Que deu em você para comer massas?

Balanço a cabeça que sim...

Essas não eram simples broinhas, mas sim, as feitas por um anjo.

(...)

O Despertar do Paladar: 5 Sabores Where stories live. Discover now