PARTE II - CAPÍTULO 23

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— Então. Eles a levaram.

Mierra vacilava com mais frequência. Eu estava conseguindo convencê-la de que falava a verdade.

— Mas por que a levariam? Não faz sentido, Caleb!

Nesse momento o Brutamontes atrás dela a abordou novamente . Dessa vez pude ouvi-lo mencionar o fato dos caminhões se aproximarem .

— Vamos abortar a missão! — Disse ela.

— Mas patroa, não podemos perder essa carga. São milhões... Estão todos esperando isso da senhora!

Mierra virou-se para o homem e respondeu:

— A missão está abortada, Hulk. Ou não fui clara o suficiente? Quem manda aqui, porra?

Definitivamente a Mierra antiga havia morrido.

— A senhora. A patroa que manda — Era engraçado ver aquele homem gigante baixando a cabeça para uma mulher pequena e frágil
feito Mierra.

Mas nem por isso ela tinha menos imponência ou firmeza no que dizia. Em seguida ela retornou os olhos para mim. Ainda estava desconfiada.

— Tudo bem, Caleb. Vou te dar uma chance de me contar essa história direito. Hulk — Ela apontou para mim com a arma — Reviste ele e amarre as mãos. Vou esperar no carro.

~*~

*Samamtha*

Eu estava certa de que havia visto a porta naquela sala aberta. Revisitava as memórias recentes e me convencia de que não estava maluca. Mas depois de um tempo até mesmo me questionei se o garoto que batia palma realmente existia.

— Sam, talvez seja estresse pós traumático. Eu sei bem noque é sofrer nas mãos de Conrado. Mas cada um lida de maneira diferente com as violências sofridas — Rebecca lavava a mão na pia após sair do box no banheiro.

— Mas chamou meu nome, claramente. Eu ouvi ele dizer "Samantha". — Olhava para o lado de maneira vaga, revivendo a lembrança da voz de Conrado me chamando.

— Sam, ele morreu naquela explosão. Não há mais o que temer...

— E se ele não morreu, Rebecca?? E se Raquel veio atrás de nós? Nos descobriu?

— É... Raquel seria uma possibilidade. Mas pelo pouco que a conheço não acho que seria o tipo de pessoa que pregaria peças ou faria brincadeiras.

Eu não conseguia me livrar do medo que sentia. Medo de Conrado estar vivo por aí me seguindo.

— Talvez a gente possa se mudar. Por via de dúvida...

— Calma, Sam. Não é para tanto. Estamos seguras em Petrópolis. E outra, ninguém que desconfia de que estamos vivas, e nem iria procurar num lugar tão próximo... Ficar aqui seria quase como uma psicologia reversa. É mais fácil caçarem você em sua antiga casa em São Paulo que no meu chalé... Relaxa. Tá tudo sob controle por enquanto.

Eu conseguia notar o esforço de Rebecca em me querer bem. Mas eu já me via em um poço difícil de sair, sufocada. Começava a ficar com medo de tudo e me isolar. Era algo complicado.

~*~

O passeio no hotel Quitandinha havia sido menos prazeroso do que eu desejava. As vezes permaneciam calada para não ser uma má companhia. Rebecca estava sendo gentil e eu não desejava ser o tipo de pessoa que emana pessimismo e energia negativa, apesar de ser completamente tomada por pensamentos de medo e angústia.

Quando chegamos em casa eu esperei Rebeca ir para o banho. E então aproveitei que estava só para trancar todas as portas e janelas.
Ao terminar fiz questão de refazer o trajeto e conferir se nada estava ainda aberto.

Mas não parecia o suficiente. Eu tremia apenas em pensar que Conrado poderia nos encontrar.
E então desejava verificar uma terceira vez se as portas e janelas estavam realmente trancadas.

— Aí meu Deus, eu estou ficando louca — Suspirava em lamento para mim mesma.

Me detive no sofá para não ter que fazer
Uma nova ronda, tentando colocar nas ideias que Conrado estava morto, de que não havia perigo iminente.

Dormir foi algo complicado. Estava arrependida do passeio. Era questão de fechar os olhos para me ver dentro daquele hotel gigante e vazio da década de 40 fugindo de Conrado. Só que tudo estava escuro e eu terminava no mesmo salão em que o ouvi me chamar.

Despertei aflita e ofegante. Rebecca dormia calmamente na cama ao lado.

Recostava no travesseiro novamente, porém
Não fechava os olhos com o pânico de qualquer sonho me transportar para o hotel
Quitandinha outra vez.

~*~

Não passei a noite necessariamente em
Claro. Dormia em pequenas parcelas mas
Nada substancial que me proporcionasse um
Sono reparador.

Rebecca levantou-se e foi ao banheiro. Eu também aproveitei para me sentar na cama. Bocejei duas vezes e esfreguei o rosto com as palmas das mãos. Era um cansaço enorme que me consumia, uma sensação de papel amassado no estômago e um gosto amargo na boca.

— Vou descer para fazer o café. Vai querer ovos mexidos? — Gritei para Rebecca que saiu do banheiro enxugando o rosto.

— Nossa, seria ótimo. Os ovos mexidos que você faz são uma delícia. Eu já desço pra te ajudar.

— Nao precisa. Vou cozinhar pra ver se me distraio.

Pressentimentos podem parecer uma coisa boba e supersticiosa. Não sei se alguém já estudou isso e pesquisou o quanto dos pressentimentos realmente são certeiros.

Porém, o que meus olhos viam assim que entrei na cozinha me fizeram gritar de maneira apavorada como se visse uma assombração.

— Samantha... O que houve?

Era capaz de escutar os passos de Rebecca correndo pelo assoalho em direção a cozinha. Meu grito a deixou em alerta.

— Meu Deus... O que é isso?? — Rebecca olhava ao redor tão perplexa quanto eu.

Havia inúmeros sacos de pão empilhados por todos os cantos. Pães de todos os tipos. Mal havia espaço para transitar pela cozinha.

— Não pode ser... — Eu murmurava chorando olhando ao redor.

— Vem, Sam. Vamos dar o fora daqui agora.

Rebecca caminhava em direção ao suporte na parede onde as chaves do carro estavam penduradas. Mas foi detida por alguém batendo palma.

Conrado surgiu pela porta da cozinha vestindo um terno todo preto.

— Ora, ora, ora — Sorria de modo macabro — Se não são as morta-vivas mais espertinhas do mundo...

NOTA: Meu Deus!

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora