CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS

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- Você tem andado muito misteriosa, Samantha!

- Mierra estava comendo de frente para mim na mesa da cozinha.

- Impressão sua. Continuo a mesma! - Retruquei.

- Não nos conhecemos há tanto tempo assim, mas se tem uma coisa que ser policial me ensinou, foi a identificar padrões de comportamento. E o seu mudou, lindinha. Ah, se mudou!!!

Eu quase ri pela maneira desconfiada com que ela falava.

- Repito: continuo a mesma Samantha! Para de criar teorias malucas, Mi.

- E eu sou uma virgem! Ah, vamos lá, me conta! Somos amigas, caram*ba!

- Você é engraçada , Mierra. Mas relaxa, que se houvesse algo importante eu te diria com toda certeza desse mundo, ok?

- Ah tá, que eu vou acreditar! Eu ainda irei descobrir o que está tramando nessa cabecinha. Mas deixa te falar: as coisas que comprou pela internet chegaram. Marcos disse que estão na associação de moradores!

Perfeito. Uma boa vingança sem roupas adequadas não seria a mesma coisa.

- Ótimo. Será que o Tainha não buscaria?

- Vou pedir a ele , Sam.

- Obrigada. Achei que fossem demorar... - Tomei um gole do meu suco de laranja -  Mas e quanto a você, Mi? Como ficou sua situação na polícia federal?

A expressão de Mierra não foi das melhores.

- Bem, sei disso tanto quanto você. Meu chefe não me respondeu até agora.

- Aquele que tentou te ferrar?

- O próprio. Estou com muito receio de que ele use essa situação para me punir ou afastar do caso. Depois de tanto trabalho - suspirou um tanto decepcionada - Tudo perdido!

- Mas aquele segurança disse que falaria a seu favor. Que não veio para o morro por sua vontade. Foi uma questão de sobrevivência!
Mierra riu demonstrando certa descrença.

- A primeira coisa que aprendi, amiga, foi a não confiar em ninguém. E menos ainda se for um homem. Então, não tenho qualquer garantia de que ele testemunharia a meu favor. E pior: se meu chefe oferecer uma promoção a ele, é capaz de dizer até que reatei com Marcos. Imagina? Policial casada com traficante!

Era trágico o que ela dizia, porém Mierra empregava uma entonação cômica que ficava impossível não rir.

- Ontem percebi Marcos um pouco apreensivo, Mi. Ele falava algo com o Tainha. Está tudo bem?

- Estou sabendo disso agora. Marcos e eu quase não temos nos falado. Parece que ele tem ficado dias na base deles discutindo coisas. Eu desconfio que tenha a ver com um confronto entre o Dendê e o morro do Alemão. Essa rixa dura há décadas e a qualquer momento pode estourar uma guerra.

- Você diz sobre invadirem aqui?

- Uhum. O máximo que sei são informações que chegam à polícia federal, mas quem comanda as operações é a polícia militar. Então são dados superficiais, pra não dizer fofoca de corredor.

- Eita. Mas você sabe dizer quando será seguro sairmos daqui? Voltarmos para casa?

- Não, Sam. Os dados que tenho recebido por email dizem que a X- Rent é tão bem articulada que não será uma tarefa fácil levar uma acusação formal , como formação de quadrilha, adiante. Tem muita coisa sobre essa organização para desvendar. Queria muito voltar para minha casa, mas não posso te dar certeza de nada.

- E quanto a Caleb? Ainda monitoram os passos dele?

- Confesso não saber disso também. Mas tudo indica que o ataque sofrido lá na minha casa veio dele.

Pelo visto Mierra sabia menos coisas que eu. Obviamente não comentaria com ela sobre meu plano de vingança, pois era mais que certo Mierra interferir e estragar tudo, com o pretexto de me proteger.

- Mas tem algo que eu soube essa semana que vai te deixar de queixo caido, mulher!

- O que, Mierra?

- Sabe aquele policial da sua cidade? O que mal fez o boletim de ocorrência na noite em que foi atacada?

- Lembro, como poderia me esquecer?

- Então, parece que ele passa informações a X-Rent. Tudo indica que na noite do ocorrido, a pior que coisa feita foi ter procurado a delegacia. Todos os seus dados, inclusive o endereço, foram passados a X-Rent.

- Por isso eles descobriram onde estava tão rápido!

Eu me lembrava que na mesma noite já havia
sinais de terem invadido a minha casa.

- Exatamente! Policial idiota. Só de lembrar daquela cara de sonso dele eu tenho vontade de socar!

- E como descobriram?
Mierra riu.

- Como sempre, ué. Um investigador monitorou cada passo dele. E advinha? Trai a mulher, para variar. O imbe*cil ainda tem duas filhas. Mantém a amante em uma cidade vizinha. A esposa nem sonha... Olha as imagens! - Mierra me apontou a tela do celular.

Havia uma série de fotos do delegado. Varias dela eram dele em bares, provavelmente com a Amante.

- Não tem muitas fotos comprometedoras, mas as ligações grampeadas... ah, essas são demais!
Olha o que ele dizia a amante...

Mierra deu play no áudio e me senti enojada. Eram coisas muito sujas para um homem casado dizer.

- Acho que estou nauseada. Cruzes!

- Eu também. E menina, a amante queria ser a única. Mas parece que o delegado tá enrolando ela, pois não quer desfazer a família por causa das filhas... É tanta fofoca. Essa parte até que é divertida de ser uma policial.

Meus neurônios já faziam suas conexões rapidamente. Aquele delegado , que teoricamente deveria ser um exemplo de seriedade mantinha duas famílias bem debaixo do nariz da esposa. Como seria se um escândalo desses vazasse para a imprensa local da minha cidade? Sabem como é: essas fofocas correm tão rápido em cidades pequenas...

As roupas que comprei eram maravilhosas.

Abria as embalagens com uma empolgação de menina adolescente. Era como se estivesse num desses filmes em que a mocinha retorna para acabar com todos que um dia a prejudicaram. Seria a minha "Doce vingan*ça" como naquele filme.

Experimentei uma calça de couro preta e uma bota de cano alto. Aprendi com Mierra que essas botas eram perfeitas para esconder apetrechos, tais como uma arma. A regatinha serviu perfeitamente e meus peitos pareciam ligeiramente maiores vestida com ela.

Me virei para a esquerda e depois para a direita em frente ao espelho. Todas as roupas haviam servido perfeitamente. Era sorte? Uma boa sorte?

Com um sorriso leve e sereno no rosto, disquei o número do caleb. Ainda me olhava no espelho enquanto aguardava ele atender.

- Já decidiu o lugar?- Perguntou ele.

- Já sim. Será em um galpão abandonado na Avenida Brasil, sentido zona Oeste do Rio de Janeiro. Mando a localização por sms.

- Sam, quero muito que acredite em mim. - A voz dele transmitia súplica.

- Mas quem disse que eu duvido de voce, meu doce?

- Seu tom de voz. Nem mesmo parece a Samantha que conheci. - Reclamou.

- Jura? Pena que não posso dizer o mesmo ao seu respeito! - Eu já começava a me inflamar, lembrando de tudo que acontecera. Mas me contive - Enfim, as dezesseis horas estarei lá.

- Não sabe o quanto estou ansioso para te rever!

Eu sorri mais ainda.

- Digo o mesmo, querido! Até lá!

Cretino! queria vê-lo sofrendo na mesma medida que sofri.

Enfim, seria uma vingança de cada vez.

- Jornal Local, com quem eu falo? - Era uma moça que havia atendido a ligação.

O barulho de digitações em teclados sugeria que estivesse na redação do jornal.

- Prefiro não me identificar. Mas acho que vocês vão adorar saber a respeito de algumas informações sobre o querido delegado da nossa amada cidade...

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Where stories live. Discover now