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15 de julho de 1986

Terça-feira. Eu já estava em casa, mas ainda de repouso. Eu voltaria pra escola amanhã e pra falar a verdade, eu não estava nem um pouco animada.

Me levantei da cama com calma e tomei um banho demorado. Não de propósito, mas porquê é muito difícil se lavar com todas aquelas queimaduras.

Eu ainda tinha algumas bolhas e minha pele ainda estava se recompondo. A médica recomendou muita água pra essa fase passar mais rápido. Eu já estava me acostumando com aquela rotina super cuidadosa e tal.

Se doía? Muito, mas eu tentava não demonstrar isso. Meu irmão já tava com problemas demais pra ter que se preocupar com uma menina luxenta que não aguenta uma dorzinha.

Eu comecei a ir em um psiquiatra. Ele me receitou alguns remédios pra diminuir a dor e outros pra eu conseguir dormir melhor.

Coloquei novos curativos nas feridas e uma roupa folgada pra não me incomodar. Já eram 14:52. Steve estava fazendo só meio turno no trabalho, pra conseguir cuidar de mim. E as 15:30, Eddie trocava com ele.

Eu não sentia que isso era necessário. Eu sabia me virar muito bem sozinha, não era um bebê. Eu ficava sozinha só 20 minutos ao dia, que era o tempo dos dois trocarem de lugar.

Desde aquele dia no hospital, não tive outras lembranças do incêndio. Eu queria tanto saber o que realmente aconteceu. Não acreditava na hipótese do papai simplesmente largar o cigarro em cima de uma mesa ou algo assim. Ele não era tão burro.

Não fizemos nenhum enterro. Nem iremos fazer. Steve e eu decidimos que isso era extremamente superficial e não fazia sentido fazer um enterro sem corpos.

Muita gente não gostou dessa decisão, mas se eles querem um enterro, que façam eles. Nós não iríamos.

Ouvi o barulho da van de Eddie chegando. Logo depois, ele bateu na porta e eu mandei entrar.

- Oi princesa. Como você está hoje? - Perguntou.

- Melhor, obrigada. E você?

- Bem.

O garoto pegou sua mochila e virou ela em cima da cama. Vi caírem diversas fitas de diversos cantores.

Cheguei mais perto pra olhar quais eram e achei Metallica, Dio, Kiss, AC/DC, Iron Maiden, e vários outros que eu não conhecia.

- Meu Deus, você é definitivamente um metaleiro. - Disse rindo.

- É, você tava precisando dar uma renovada nas suas fitas.

- Espera aí, isso é pra mim?

- Não! - Riu. - Eu tô te emprestando. Pra você ver que a vida não é só Beatles, Madonna, Queen, Kate Bush e tal.

- Muito engraçado.

O garoto puxou o toca-fitas que estava em minha estante e colocou uma das fitas que ele trouxe. Escutei "Wasting Love" do Iron Maiden tocando.

- O que me diz?

- Eu conheço essa!

- Calma aí, você conhece?- Perguntou surpreso.

- Claro. Ao contrário de você, eu sou uma exploradora. Você que está me subestimando.

Nós dois rimos e começamos a cantar muito alto. As músicas de Eddie eram bem legais, na verdade. E é claro que eu tive que obrigar ele a ouvir uma das minhas também.

Coloquei "Yesterday" dos Beatles pra tocar. Eu cantava curtindo aquele momento e Eddie me olhava com uma cara emburrada. Um tempo depois, ele se rendeu com um sorriso me vendo dançar.

Ficamos a tarde toda disputando quem tinha as melhores músicas. Eddie levava esse assunto muito a sério, ao contrário de mim que ria dele quando ele ficava nervoso.

Mais tarde, liguei para Steve e pedi pra ele trazer algum filme quando voltasse. Eu e Eddie pedimos pizza e ficamos conversando por um tempão enquanto as músicas ainda tocavam.

- Você já parou pra pensar que você perdeu várias explicações lá na escola? - Perguntou.

- Já. E sinceramente, eu tô muito ferrada por causa disso. Provavelmente vou ter que ficar até tarde na biblioteca pesquisando.

- Quem poderá me explicar a matéria, dessa vez? - Disse ironizando enquanto fingia um desmaio.

- Você pode estudar comigo na biblioteca. - Respondi rindo. - Desde que não faça muito barulho.

- Prometo que fico caladinho.

Ri de sua fala e peguei outra fita aleatória da minha coleção. Eddie me olhou com deboche, provavelmente julgando a música antes mesmo de começar.

A música começou a tocar. Se chamava "Brooklyn Baby". Puxei Eddie pra dançar comigo, enquanto cantava.

- Eu sei que você conhece, não se faz de desentendido.

- Pelo menos uma das suas músicas é boa.

Coloquei a mão no peito fingindo estar ofendida e ele riu. Nós cantávamos como se fosse um karaokê, fingindo estar segurando microfones, comendo pizza e rindo.

"Well, my boyfriend's in a band
He plays guitar while I sing Lou Reed
I've got feathers in my hair
I get down to Beat poetry
And my jazz collection's rare
I can play most anything"

Eu olhava para Eddie sorrindo e ele fazia o mesmo. Parecia que só existia nós dois no mundo todo naquele momento. Na verdade, sempre me sinto assim quando estou sozinha com Eddie. E era perfeito.

A música se encerrou e nós caímos no sofá. De repente, a porta se abriu. Era Steve que nos olhou assustado e confuso. Eu e Eddie nos olhamos e rimos mais ainda.

- Eu nem vou perguntar. - Disse Steve indo em direção à cozinha.

Fui atrás dele e pulei em suas costas fazendo ele murmurar uma reclamação e rir também, logo depois de eu fazer cócegas em seu pescoço.

- Cadê nosso filme, maninho?

- Toma. - Respondeu me entregando uma sacola. - São 30 pratas.

Saí de suas costas e o olhei pedindo piedade. Ele riu e disse que era brincadeira.

Logo depois, pedimos mais pizza e assistimos "Os caça fantasmas". Eu me divertia muito com esses dois que discutiam sobre coisas bobas o filme todo.

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ok, agora vocês não podem brigar comigo
eu soltei dois capítulos no mesmo dia, minha gente AKAKKAKA

antes que falem algo, eu sei que "Brooklyn Baby" não foi lançada nos anos 80.

a isabelelly0511 sugeriu ela, porquê a música combina muito com a história, e combina MUITO mesmo.

daí eu tive que fazer :D

me and your mamaWhere stories live. Discover now