Confissões em sol menor

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O amor é complicado para os flamingos

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O amor é complicado para os flamingos.

Para atrair e conquistar um companheiro, os flamingos se reúnem em uma multidão cor-de-rosa e realizam uma performance complexa, barulhenta e perfeitamente coreografada. A dança, sincronizada como uma aula de aeróbica e sedutora como uma música espanhola, possui até 136 movimentos. Os melhores dançarinos, e os que souberem mais passos, têm maiores chances de sucesso.

Kyungsoo é um flamingo que não sabe dançar.

Longe de casa, em território desconhecido, ele se sente tropeçando nos próprios pés. Não só por ter passado o dia inteiro ocupado, ajudando as mulheres da família Kim, mas por não saber como reagir agora que está sozinho com Jongin. Especialmente porque ainda não conversaram sobre os beijos de ontem à noite.

Kyungsoo está surtando, e o motivo é simples.

O quarto só tem uma cama.

Sem colchões extras, sem sofás de três lugares. Nada. Só uma cama.

O antigo quarto de Jongin tem discos de vinil decorando as paredes, um rádio velho, tênis All Star pendendo da lateral do armário e um par de patins de quatro rodas. Tem também um skate longo que foi reaproveitado para construir um banco.

Há menos do Jongin baixista e mais do Jongin adolescente. A família preservou seu quarto do jeito que ele o deixou, para que soubesse que sempre terá um lugar para o qual voltar.

Para se distrair, Kyungsoo observa os porta-retratos sobre a cômoda. As fotos são de uma época em que Jongin ainda era uma página em branco. Ele não tinha tatuagens, camisetas de banda ou a aura despreocupada de um astro do rock.

Em uma das fotografias, um Jongin ainda criança está sentado no banco de uma praça, emburrado e claramente ignorando a câmera. Em outra, um Jongin descabelado e sorridente segura seu primeiro baixo.

Sua preferida é uma sequência de polaroides com as irmãs e o pai. Ele está no centro, esmagado pelas gêmeas em um abraço apertado, como pães brioches esmagam a carne em um hambúrguer. Na primeira, Junghee faz chifres com os dedos indicador e médio atrás da sua cabeça. As outras duas são cliques feitos quando Jongin percebe o gesto. Todos estão rindo, gargalhando alto. O pai é uma versão vinte anos mais velha do filho — os mesmos olhos castanhos pequenos, o nariz arredondado e a pele dourada.

— Consegui! — anuncia Jongin, entrando no quarto.

Kyungsoo gosta de todas as versões. Mas a atual, que invade o cômodo sorrindo e segurando um esmalte preto, é a mais bonita.

— Um... esmalte?

— É. Roubei da gaveta da minha irmã. O meu acabou.

— Legal.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Você acha? Tipo, acha que fico bem com ele?

— Fica... legal — Kyungsoo repete.

Amor em Quatro AcordesWhere stories live. Discover now