Acordos em si bemol

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Ele disse não

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Ele disse não.

Jongin disse não.

Após dias tentando sobreviver com um saldo negativo no banco, e-mails automáticos da faculdade e um adiantamento de salário recusado cinquenta e duas vezes, Kyungsoo achou que sua vida se resolveria em um passe de mágica se convidasse Jongin para sair. É sempre tão fácil nos filmes.

A vida adulta não perdoa ninguém, nem o mais metódico e organizado dos alunos. O curso de Ciências Biológicas que começou tão acessível no primeiro período agora custa o triplo do valor. Como se não bastasse, o aluguel teve um reajuste salgado e Jongin, sua última esperança nesse mundo capitalista pós-moderno, simplesmente disse não. E uma rejeição, mesmo vindo de um cara que ele não gosta, ainda é uma rejeição.

Tudo bem, ele não disse "não" com todas as três letras, mas disse:

— Você não quer sair comigo, Kyungsoo.

— É claro que quero — insistiu.

— Por quê?

— Porque... — Não conseguiu terminar.

Porque preciso de dinheiro, e você é minha única esperança. Preciso que a gente namore por um mês pra eu pagar minha faculdade e quem sabe ter um futuro onde não precise etiquetar cuecas, espanar caixas de Barbie e rezar para que alguém compre aquela fantasia medonha do Venom, porque não aguento mais olhar para a cara dela.

É claro que Kyungsoo não podia dizer nada disso.

Jongin continuou:

— Você me cortou o dia inteiro...

— Foram quinze minutos.

— ...lá no depósito, me fuzilou com seus olhos de raio laser e deixou bem claro que não gosta da minha banda. Você negou todas as minhas investidas de conversar de um jeito amigável e é bem nítido que você me detesta, então qual é o ponto?

Ele deu de ombros.

— O ódio também é uma forma de amor.

— Nos filmes, talvez.

Resumindo: foi um desastre.

Depois disso, foram interrompidos pelo cabeludo que toca guitarra na banda. Não teve opção a não ser voltar para a loja com o rabinho entre as pernas, continuar a etiquetar coisas e fingir que não levou um chute na bunda.

Agora, sentado nas escadas da faculdade, logo abaixo de uma placa que diz "Proibido sentar nas escadas", Kyungsoo afunda a cabeça entre os joelhos e repassa mentalmente um dos momentos mais constrangedores da sua vida.

Jongdae está do outro lado, alheio aos dilemas da sua existência patética. Seus amigos parecem ter esquecido da aposta que fizeram, o que seria ótimo se Kyungsoo já não tivesse ultrapassado o limite entre o bom senso e o desespero.

Amor em Quatro AcordesWhere stories live. Discover now