Jongin acorda com a campainha tocando.
Um toque. Quatro toques. Dois toques. O riff simples de sete notas de Shave and a Haircut é inconfundível e o faz lembrar do filme Uma Cilada para Roger Rabbit. Só existe uma pessoa no mundo que toca sua campainha desse jeito, e a única capaz de usar um toque personalizado escandaloso às sete e meia da manhã.
Aquilo parece uma cilada do destino. Exceto que a pessoa na porta é sua tia Hwajung, e não um coelho chamado Roger.
— Ah, não — ele murmura para si mesmo, esfregando os olhos.
Antes que possa se levantar, Kyungsoo invade seu quarto aos tropeços. Quase se esqueceu de que ele dormiu no sofá ontem à noite. Sua franja sempre impecavelmente caída na testa está despenteada e as calças jeans pendem nos tornozelos. Recostado na porta, ele ofega, nervoso, enquanto sobe o tecido pelas coxas.
É uma das coisas mais bonitas que ele já viu pela manhã.
Jongin não faz por maldade, mas se apoia nos braços para assisti-lo abotoar a calça. Kyungsoo percebe que está sendo observado. Seus olhares se cruzam por dois segundos, e ele aponta vagamente para a sala.
— Tem uma mulher na porta — ele constata o óbvio.
— Ela é alta e se veste como se fosse dona de um brechó?
— Como é que eu vou saber? Eu só ouvi a voz dela.
Jongin se levanta da cama com um pulo e amarra a cordinha da calça de moletom com mais força.
— Pode deixar. Eu cuido disso — garante ele, como se receber sua tia preferida fosse uma missão impossível.
A campainha toca de novo. Dó, sol, sol, lá, sol, si, dó. Os dois correm para a sala e Kyungsoo fica observando à distância, parado no batente da cozinha, enquanto Jongin abre a porta.
Kim Hwajung é um vendaval. Ela entra no apartamento como um vento forte entraria pela janela, as franjas de seu xale esvoaçando às suas costas. Está usando botas, um vestido longuíssimo e sua bolsa cheia de penduricalhos. A combinação excêntrica é a prova de que o visual hippie dos anos 60 e 70 não está morto.
Jongin encara a explosão de cores e sorri.
— Passou na vó?
Ela dá uma voltinha, exibindo o novo xale colorido de crochê.
— Como você sabe?
A vovó Kim começou a fazer crochê depois que assistiu a uma reportagem no jornal sobre os benefícios da técnica na terceira idade. Desde então, não parou mais. Além dos macacos trigêmeos de crochê que ele carrega no retrovisor do carro, a avó já criou e presenteou a família toda com suas artes.
Assim como Jongin, Hwajung sempre ganhava toucas e cachecóis de crochê no Natal. Depois da transição, a avó passou a fazer tapetes, almofadas, jogos de cozinha e xales. Foi o jeito que ela encontrou de demonstrar apoio à filha mais velha. Isso e a bandeira da comunidade trans pendurada na varanda da casa.
CZYTASZ
Amor em Quatro Acordes
RomansKyungsoo é um universitário falido que está prestes a trancar a faculdade por falta de pagamento. Quando seus amigos o desafiam a paquerar alguém em troca de dinheiro, ele não vê outra saída a não ser mergulhar em uma aposta perigosa. O alvo escolhi...