ℭ𝔞𝔭𝔦́𝔱𝔲𝔩𝔬 1 - ℭ𝔥𝔯𝔦𝔰𝔰𝔦𝔢

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Às vezes me pego pensando se tudo não passou de um sonho

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Às vezes me pego pensando se tudo não passou de um sonho. Talvez se fosse um, eu não estaria segurando essa carta amassada, com as letras manchadas devido às minhas lágrimas, relendo-a pela milésima vez.

E é apenas o fato de que o próprio rei a redigiu que não posso me dar ao luxo de pensar que talvez, só talvez meu pai ainda possa estar vivo.

Meu pai morreu... meu pai. O duque de Valles, um homem bondoso, que me ensinou muitas questões sobre a política, ignorando a etiqueta: "o que deveria ser ensinado a uma dama". Comandava a província mais desejada do reino de Casterllato. Com acesso ao mar e boa distribuição das riquezas. O lugar perfeito, pelo qual meu pai sempre lutou muito.

— Não falta muito para chegarmos ao castelo, senhorita Edevane — o cocheiro diz, fazendo com que minha atenção saísse pela primeira vez do papel e se fixasse na paisagem.

Agora estou em Castella, a capital, e já é possível observar o enorme palácio dos meus tios, próximo a imensa Floresta Naturáter, nome dado em homenagem à divindade da natureza, com seus característicos cedros, mognos e mais adentro, pinheiros. Suspiro incomodada. Uma linda floresta, de fato, a qual eu desejo adentrar e me perder para sempre. Quem sabe assim, eu não precise enfrentar aqueles nobres imbecis.

Eu não duvido que todos estão se preparando para minha chegada de forma exagerada e colocando uma máscara com sorrisos falsos em seus rostos nobres que nunca me aceitaram, como nunca aceitaram minha mãe. A maioria são fanfarrões hipócritas que ainda por cima acreditam em sacerdotes. Não passam de ignorantes.

Minha mãe, Alba Edevane, morreu em meu nascimento e em sua vida, foi uma mulher extraordinária, cheia de ideias. Ela era o terror da realeza, uma dama que se metia em "assuntos de homens" que preferiam ter esposas que cuidassem de seus filhos e de suas propriedades, do que uma que cuidasse de seus assuntos diplomáticos. Embora, alguns reinos já sejam mais flexíveis em relação às nós mulheres, Casterllato ainda permanece relutante, mas não tanto quanto o reino vizinho, Rochedo, o qual se localiza entre as montanhas de Iriterba. Um reino que fica abaixo das montanhas cujo nome é uma referência à divindade da Ira. Coincidência? Eu acredito que não. Sinceramente, é apenas um grande ninho congelante de pessoas desprezíveis.

Novamente fui tirada de meus pensamentos assim que a carruagem finalmente parou e o cocheiro desceu, a fim de abrir a porta e me oferecer a mão, que aceitei relutantemente apenas pelo fato do longo vestido preto que foi escolhido para mim ser pesado e meu sapato com salto com certeza não facilita minha descida do veículo.

— Chrissie, minha sobrinha. Seja bem-vinda! — Domênico, o rei se aproximou de mim com um belo sorriso no rosto. Já se passaram cinco anos desde minha última visita ao palácio, mas seus olhos castanhos escuros ainda me passam uma sensação de conforto, enquanto seus cabelos com um tom caramelo possuem alguns fios brancos já visíveis e sua barba está um pouco maior.

— Vossa Majestade — eu me curvei imediatamente, talvez de um jeito desajeitado, agradecendo por minhas longas ondas estarem presas nesse momento, se não, estariam extremamente bagunçados assim que erguesse minha cabeça e qualquer chance de não parecer apenas uma desleixada, seria arruinada.

Eterna - Corvos e corujas (VOL. 1) [Físico em breve]Where stories live. Discover now