Capítulo 17

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"Bela vista". Eu disse.

"Mhm."

"Você vai sentir falta disso?" Eu perguntei.

Beau se aproximou: " Do mar? Sim."

"Não, de casa."

Nossos braços se encostaram quando Beau se inclinou para frente. Eu mal captei seu olhar fora da minha visão periférica. Eu não tinha certeza onde eu estava indo com isso, e se eu tivesse, talvez eu não tivesse perguntado.

"Quando você for para a faculdade, vai sentir falta? Nossa pequena cidade de Graysbury enfiada no meio do nada, com apenas uma sacola de supermercado degradada, um parque medíocre e um rio sujo para nos entreter."

"Eu provavelmente irei, eventualmente." Ele bufou. "Porém não é realmente da cidade que vou sentir falta."

"Dos seus pais?"

"Ele assentiu. "E amigos, tia Chelsea e tio Martin também, é claro."

"Mas não de mim"

Essas palavras ficaram suspensas no ar, como se fossem uma ameaça. Apertei as minhas mãos até as juntas dos meus dedos ficarem brancas como a neve.

Eu me recusei a encará-lo, nem mesmo quando ele sussurrou meu nome, "Devin?"

"Há uma trilha ao longo do penhasco." Eu empurrei a cerca. "Provavelmente tem uma bela vista também."

Ele agarrou meu braço. "Dev—"

Eu me afastei, marchando ao longo da trilha que observei anteriormente.

Então eu corri.

O caminho era ondulado, não mais do que uma trilha de bicicleta velha e irregular. Uma mísera cerca de arame mantinha os turistas a salvo do penhasco irregular. Respingos suaves de água subiam com o vento de baixo. Provei o mar, só parando ao avistar uma bifurcação na trilha. Um caminho levava mais adiante na costa, o outro era um conjunto de degraus para uma pequena praia rochosa.

Eu dei um passo para baixo. A areia estava molhada. Meu pé afundou. Eu caí pra frente. Havia uma contusão no meu braço. Fui arrastado para trás, caindo nos braços de alguém.

"Veja onde você está indo!" Beau grunhiu. A respiração quente fez cócegas na parte de trás da minha orelha. Havia algo igualmente quente debaixo de mim: Seu colo, no qual eu estava sentado. Caímos na trilha quando ele me resgatou da minha própria estupidez.

Ele me encarou. "Você é um idiota? Você poderia ter rachado sua cabeça!"

Eu me contorci para fora de seu alcance.

"Devin!" Ele gritou.

Minha teimosia me fez continuar a caminhada pelas escadas irregulares. Dedos tensos se agarraram à terra até manchar minhas unhas. Havia alguém vasculhando atrás de mim, sinalizando que ele me seguiu. Eu me movi mais rápido. O chão estava instável. Úmido. Rochas e conchas estalavam sob meus pés. Chutei uma pedra na água. Outra. Então outra.

"O que você está fazendo?" Beau bufou.

Eu não respondi.

"Você está realmente me dando o tratamento do silêncio?"

Chutei um pedaço de terra com a próxima pedra. Eu esperava que levasse um pouco de mim com isso. Deixe esses sentimentos afundarem no mar. Esmague-os sob pressão. Desapareça no escuro. Leve-os para onde eu não os enfrente novamente.

"Por que você está agindo assim?" Sua voz estava de repente bem ao meu lado. Eu pulei para longe, mas seu aperto abrupto foi firme. Dedos enrolados em minha camisa, em seguida, deslizaram em meu bíceps, mantendo-me no lugar. "O que você disse antes—"

"Esqueça." Tentei me afastar do seu aperto. Ele apenas o substituiu por outro. "Eu estava apenas falando qualquer coisa, ok?"

"Besteira." Ele estava procurando por algo, olhos cravados nos meus. Nunca me senti tão exposto. "Por que de repente você está agindo como se não quisesse que eu fosse?"

Seu aperto aumentou quando tentei escapar. Seu tom era afiado, acusatório. "Você é a pessoa que tanto tem falado sobre o quão feliz você está por eu estar indo embora. O que mudou?"

"Eu não sei, porra, ok?!" Eu o empurrei. Eu não sabia mais o que fazer. Ou eu estava com medo do que eu queria fazer.

Havia muito em minha mente ao mesmo tempo. Lembranças de infância de nós ficando acordados a noite toda desafiando o outro a procurar um monstro debaixo da cama. Longos dias passados no parque, tênis esmagando o asfalto, nossa respiração ofegante sob o sol de verão. Refrescando-se no rio, deitados na margem lamacenta, ele rindo quando pensei ter visto uma cobra e pulei provavelmente três metros no ar. Nos fantasiando no Halloween e comendo doces até ficarmos doentes. Tomando notas para ele na aula quando ele faltou e alegando que todas as suas boas notas foram graças a mim por causa disso. Ele me chamando de idiota enquanto me ensinava matemática por dias a fio, só para eu mal passar quando o teste chegou.

Todas essas pequenas instâncias de nós, que construíram muito mais.

Todas essas pequenas instâncias de nós que eventualmente não existiriam mais.

Eu sabia que não estava trilhando esse caminho sozinho. Beau estava apenas alguns passos atrás. Seu olhar queimou em minhas costas, mas não falamos uma palavra. Nem mesmo quando cruzamos a trilha para o forte por onde passamos no caminho. Árvores se alinhavam em ambos os lados, nos ocultando até chegarmos a outro penhasco onde o velho e abandonado forte estava coberto de grafite e ferrugem.

O forte tinha bunkers abertos, apenas um estava fechado com portas de ferro. A ferrugem corroeu as dobradiças. Dentro dos bunkers havia pichações e garrafas quebradas. Sinais de festas, provavelmente dos moradores. Degraus levavam a um segundo nível, onde as janelas tinham grades de ferro na altura dos olhos.

Havia um bunker solitário ao lado, mais próximo do oceano. Rastejei para entrar. Era muito pequeno para alguém ficar de pé, então eu sentei desenhando formas na terra com um galho, mesmo quando Beau se juntou a mim silenciosamente.

Estávamos sozinhos. Sentados no chão de terra. Cercados por cercas enferrujadas, pedras em ruínas e grafites coloridos. Um cadeado estava pendurado na cerca. A luz do sol entrava em cascata; laranja, vermelho e amarelo. Como fogo contra a pele pálida de Beau. Como o fogo em sua mão que rastejou sobre a minha, ligando nossos dedos.

Eu não me afastei. Eu não admiti para mim mesmo o porquê. Eu me perguntei se Beau sabia.

Nós éramos iguais? Eu era o dente-de-leão de Beau? Uma erva daninha que ele não conseguia arrancar.

Eu esperava que sim.

"Eu vou sentir a sua falta", ele disse suavemente.

Eu ia chamá-lo de mentiroso, mas não consegui fazer isso quando encontrei um firme olhar verde. Um que estava muito perto e muito longe, tudo ao mesmo tempo.

"E o que eu mais vou sentir falta é você, Devin", ele repetiu, como se honestamente não achasse que eu o ouvi pela primeira vez. Como se ele não tivesse ideia do que estava fazendo comigo.

Quando ele se inclinou, o sol lançou fogo em seus olhos. E quando me inclinei, deixei aquele fogo me queimar com um beijo. Um beijo trancado em um bunker à beira-mar. O sabor do sal. O cheiro metálico de ferrugem. Os lábios macios de Beau. Sua mão na minha.

Pensamos que poderíamos deixar isso para trás, mas nossas mãos se mantiveram firmes e entrelaçadas na caminhada silenciosa de volta ao carro.

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Twoony

*le smoochy smooch* Uhuuu, eles realmente se beijaram e Beau disse que sentiria mais falta de Devin. Este é o calor do momento? Será que eles vão se arrepender depois? Quem sabe! (eu, eu sempre sei~).

Nota da Tradutora:

Ninguém me toca, eu tô sensível! Eu não esperava um beijo e ele veio tão suave e tão significativo.

Nota da revisora: Demorou mas valeu a pena. Foi um belo cenário e uma bela construção pra esse momento!

14 Days (PT-BR)Where stories live. Discover now