2017 - PÓS TEMPORADA

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Circuito de Yas Marina, Emirados Árabes Unidos, final de novembro de 2017

POV Daniel Ricciardo

Pelos últimos três destinos antes das férias, vi Max deteriorar. Voltou a ser muito explosivo, a responder mal e a evitar brincadeiras. Passamos pelo México, Brasil e agora Emirados Árabes. E parecia que cada vez ficava mais irritado. Não ajudou o fato de seu carro ter mais um fatídico problema em terras brasileiras - soube que arremessou o próprio volante contra a parede da garagem, tamanha frustração de mais um abandono.

Às vezes, pela manhã, roubava-lhe um beijo recheado de sono. Ainda existiam umas carícias ou outras, mas sem diálogo. Via que se importava comigo, mas a falta das suas palavras me deixavam maluco. Bastava dar um passo para fora do quarto, assumia outra persona. Sim, era o mesmo 'Max-meu-melhor-amigo', mas não chegava próximo de mim, seus receios eram mascarados com sua irritabilidade.

Imagino seu nervosismo quando tivemos que fazer uma sessão de fotos juntos. Os itens para venda do ano seguinte já tinham seus protótipos e queriam aproveitar a pista de Yas Marina para fazermos as imagens de divulgação. Eu tentei fazê-lo rir a todo tempo - e muitas vezes funcionaram. Ele se permitia a poses que tinham nossa interação - um apoio, um abraço, uma pose engraçada. As fotos ficaram naturais e realmente nada nelas transparecia a tensão entre nós. O silêncio era substituído pelas brincadeiras internas que tínhamos. Os fotógrafos adoravam, as entrevistas também fluíam.

Mas, se entre as pessoas parecíamos sempre os mesmos, a sós já era diferente. Eu insistia em sairmos para boates, ele recusava. Dava a sugestão de um bom jantar, ele retrucava com a desculpa de dieta. E durante a noite, nada. Max se fechava dentro de si e era desesperador. O que pensava? Era uma situação que se apresentava cada vez mais insustentável.

E eu precisava fazer alguma coisa.


POV Max Verstappen

O último dia em Abu Dhabi finalizava. Dali em diante, férias de inverno. Eu chegava ao hotel para finalmente descansar. E talvez ter a coragem de conversar com Daniel sobre esse período de descanso. As coisas estavam bem estranhas entre nós - e como poderia culpá-lo? Todas as vezes que estávamos juntos, lembrava de meu pai. Daquele julgamento e raiva. Não me sentia bem nem discutindo sobre o ocorrido e nem sobre o futuro com ele. Daniel queria tornar nosso relacionamento mais público e progredíamos para isso, mas todo o episódio nos Estados Unidos me deixou com mais medo ainda. Se meu próprio pai reagia dessa forma, o que seria do restante do mundo?

Eu já estava na frente da porta de nosso quarto, buscando o cartão para abrir, quando notei. Havia música do outro lado da porta. Não achei estranho, Daniel tinha o costume de ouvir música sempre que possível, então deveria estar ter deixado para ouvir durante o banho. Reconheci vagamente a melodia e entrei no quarto.

"Before you met me, I was alright
But things were kinda heavy
You brought me to life"

Havia um globo, daqueles de discoteca, no lugar da luz do teto. Em diversos cantos, jogos portáteis de luz, simulando lasers multicoloridos, recortando as paredes do quarto, como se dançassem. Tocava uma música antiga da Katy Perry ao fundo. Não fazia o menor sentido - nenhum de nós ouvia Katy Perry. Pétalas de rosas enfeitavam a cama e o chão. Buquês das nossas flores em cada cabeceira. Uma pequena mesa com comidas e bebidas. E ele. Daniel estava encostado contra a porta e cortinas que davam acesso a uma pequena varanda, bebendo whisky. E, se ainda era possível, estava mais lindo do que nunca. Um visual todo preto, não fosse o cinto amarelo quebrando o minimalismo. Sua camisa estava atrevidamente mais aberta que o necessário, revelando um mix de colares prateados - entre eles, o que eu o presenteei em seu aniversário.

Como chegamos aqui?Where stories live. Discover now