2017 - ESTADOS UNIDOS

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Circuito das Américas, Austin, final de outubro de 2017

POV Daniel Ricciardo

Nós nos tornamos um pouco relaxados. Passamos por Singapura, Malásia, Japão. E em todos os destinos o carinho migrou do quarto para os corredores do motorhome da RedBull. Eu gostava disso, era bom ter um pouco de liberdade, mesmo consciente dos constantes olhares e cochichos dos outros integrantes da equipe. Ninguém ousava falar nada - a explosão de Max e o meu cinismo criavam uma barreira invisível e segura. Mesmo Christian, que fazia pequenos comentários reprovando, não fazia nada. A força do apoio da família de Max o encorajou a dar os pequenos passos. Victoria, em particular, me mandava mensagens vez ou outra, querendo saber como nós estávamos.

Não raro éramos vistos abraçados contra a parede, conversando sobre a corrida a uma distância mínima. Eu gostava demais da sensação dele perto de mim, suas mãos pousadas em meu peito, eu enlaçando sua cintura. Às vezes brincava com os cachos de cabelo da minha nuca - e era, ao mesmo tempo um ato de amor e um erotismo, que me fazia arrepiar ao lembrar dos nossos momentos íntimos.

No quarto, Max se permitia cada vez mais ser mais... Max. Ele não perdera sua essência, mas se continha demais do lado de fora. Era um garoto tinha riso fácil e gostava de brincar. Perdeu a vergonha de demonstrar carinho em frente à pessoas que confiávamos, como nossos coachs. Quando estávamos a sós, sabia onde se encaixar nos meus ombros para assistirmos um filme abraçados. Saboreava as manhãs que acordava enrolado em meus braços. Ou quando deitava sobre mim e me despertava com beijos. Sua pele contra a minha, o peso de seu corpo me prendendo à cama davam a falsa sensação dele estar no controle. Minutos depois, não era bem assim que as coisas evoluíam. Ainda sim, Max se tornava cada vez mais atrevido em suas investidas, sabendo exatamente como me levar ao ápice. Muitas manhãs de horários atrasados por estarmos...ocupados. Foram semanas intensas e felizes.

Agora estávamos num dos meus grand prix preferidos: o Circuito das Américas, nos Estados Unidos. No Texas, um estado que eu amava sua cultura e respirava seu estilo. Andava por Austin com um sorriso enorme no rosto e chapéu de cowboy. Mesmo com os compromissos com o time, tivemos tempo de visitar o mesmo bar vazio que estivemos no ano passado. Nossas equipes técnicas se uniram e, além deles, somente mais duas pessoas dentro aquele ambiente. Eu estive consciente de todos os seus toques, mesmo quando a cerveja já falava mais alto: em público, para qualquer um ver, acariciava meu braço, minha coxa, segurava minha mão embaixo da mesa por longos períodos. A guitarra country chorava igual no ano anterior em algum canto do bar, mas jamais sairia de seu lado naquela noite. Max me surpreendeu quando roubou um selinho de mim. Ninguém percebeu ou ligou. Mas para mim aquilo era incrível. Pouco a pouco o meu garoto dava indícios que não queria mais se esconder.

No dia seguinte entrávamos na manhã de sexta, dia de treinos livres. No motorhome, eu aguardava do lado de fora do quarto de Max, o macacão na cintura e um dos pés apoiados na parede. Logo apareceu, também já uniformizado, e se encaixou contra mim. Me recepcionou com um beijo e me interrompia sempre com um novo toda vez que eu fazia menção de irmos para a garagem. Ouvíamos de longe a movimentação e os preparativos, mas aproveitávamos aqueles últimos minutos, imersos um nos olhos do outro. Conversamos sobre a corrida, sobre os treinos. Era uma pista que daria para fazer algo interessante por ali, talvez lutar por um pódio. Mas a principal briga não seria nas pistas.

- MAX. EMILIAN. VERSTAPPEN.

Eu sabia das histórias, sabia de toda a fama de seu pai. Mas o terror na face de Max e a velocidade que se livrou de meus braços me impressionaram. Ele não via o pai desde o início de 2016 e jamais pensaríamos que ele viria até aqui para acompanhar a corrida. O que diabos estaria fazendo nos Estados Unidos?

Como chegamos aqui?Where stories live. Discover now