Surya sentia muito frio com as roupas molhadas. Depois de longos minutos o jovem brâmane veio ao encontro dela e pediu para que ela o seguisse até outra sala escura onde dois brâmanes bem mais velhos esperavam por eles.
— Sente-se, por favor — pediu um deles e os quatro sentaram-se no chão. Não havia móveis de nenhum tipo, apenas velas vermelhas e pretas acesas diretamente no chão. — Shankar nos deu inquietantes informações. É verdade que é uma das três princesas avatar de Varanasi?
— Exatamente. Sou a irmã do meio. — respondeu Surya com o coração acelarado, então aqueles homens conheciam a história delas.
— Eu não sabia disso — respondeu Shankar e Surya finalmente prestou atenção no jovem brâmane. Pele escura, cabelos e olhos negros, um bonito típico indiano.
— Quando Raj, brâmane responsável pelo templo de Shiva em Varanasi, me contou sobre elas eu não acreditei. Mas depois fui até lá e vi a Rani, irmã mais velha, avatar de Lakshmi tranformando qualquer objeto em ouro, não pude mais negar— explicou o outro brâmane mais velho que estava calado até então. Possuía a pela mais clara que o outro — O que ocorreu?
— Maya, nossa irmã mais velha casou com o Marajá de Jhansi e juntos mataram nossa irmã mais velha e meu cunhado. Monarcas de Varanasi, mataram seus filhos e eu consegui fugir. Eu só consegui fugir porque Kali despertou em mim.
— Você fugiu sozinha? — perguntou Shankar.
— Não. Um inglês que estava trabalhando no palácio como professor fugiu comigo.
— Onde ele estar?
—Foi embora para a terra dele — respondeu Surya sem emoção.
— E o que quer aqui? — perguntou o brâmane de pele mais escura.
— Roupas limpas, secas, comida, água e um lugar para dormir — respondeu ela.
— Você sabe usar seus poderes? — perguntou Shankar.
— Não — respondeu ela e sorriu nervosamente. — Eu não faço a mínima idéia de como os usei contra Maya. Eu ainda tenho dúvidas sobre Parvati.
—Parvarti é Kali. Parvati é Durga. As três são apenas formas da mesma deusa. A Deusa mãe. — respondeu Shankar. — Você pretende se vingar? — perguntou ele sem rodeios.
— Sim. Não é justo que Varanasi fique nas mãos deles.
Os três brâmanes se olharam.
— Eu sou Rehan — disse o brâmane de pele mais clara. — Este é Jay e ao seu lado Shankar. Somos responsáveis pelo templo de Kali. Não poderíamos negar ajuda a ela.
— Como sabem que sou eu? Não me viram fazer nada fantástico.
— Há trinta anos Kali deixou de se comunicar conosco. Sabíamos que tinha encarnado. Esta é sua idade? — perguntou Jay.
— Sim.
— A vemos em você — disse Rehan. — Fique o tempo que precisar. Aprenda a usar suas habilidades. Não existe lugar mais certo para isso do quê aqui. E então decidirá o que fazer.
— Quando Indira despertou ela passou a ajudar a população da cidade. Eu e Maya tínhamos medo de quando despertássemos não saberíamos o que fazer. Indira ajudava financeiramente as pessoas. Mas o que eu poderia fazer?
— No momento você não poderia ajudar ninguém. Está confusa, com fortes ressentimentos. Quando for o momento vai descobrir o que fazer com seus poderes para ajudar as pessoas e para ter sua vingança — explicou Jay. — Não vamos contar a ninguém que está aqui. O templo é enorme e poderá se passar por umas das moças que nos ajudam.
— Uma coisa que nunca entendi. Por que agora? Veja, não sou mais jovem. — indagou Surya.
— Você poderia passar a vida toda sem despertar. O despertar ocorre quando e si for necessário — respondeu Shankar. —E só vejo um motivo para isso, ajudar Varanasi. Por isso temos que ajudá-la.
Os brâmanes se levantaram e ela fez o mesmo.
— Shankar irá levá-la para seus cômodos e lhe dar o que precisar — disse Raj.
— Obrigada. Nunca serei grata suficiente.
— É nossa obrigação. Aqui somos seus servos — disse Rehan e os quatros saíram da escura sala.
Shankar levou Surya por mais corredores e chegou em um quarto nos fundos do templo, depois de passar por vários jardins. Nada próximo do que ela tinha em Varanasi, mas a surpreendeu. Era enorme, confortável. Havia uma cama no centro dele e algumas baús para guardar roupas. Nada possuía bordados de ouro ou coisa do tipo, mas tudo parecia limpo. As paredes eram de pedras escuras, duas janelas grandes davam para o jardim e havia uma piscina de água cristalina em uma câmera lateral. O local era iluminado por velas que Shankar estava acendendo.
— Nos baús vai encontrar roupas limpas. Nada para uma princesa, mas sempre mantemos roupas para ajudar quem precisa de nossa ajuda — disse ele.
— Está ótimo.
— A piscina possuiu água limpa. Temos um encanamento que troca a água todos os dias. Em um dos baús vai encontras sabão e sais de banho.
— Nunca serei grata suficiente. Quando se perde tudo, essas coisas viram um grande luxo.
— Vou deixar que tome banho e descanse. Vamos mandar comida. Por hoje ninguém vai perturbá-la.
— Obrigada. Mil vezes obrigada.
Surya o viu saindo e fechando a porta. Ela tirou a roupa suja e rasgada e a jogou no chão. Não tinha como servir a mais ninguém. Depois mergulhou na piscina. Nem parecia real de tão bom para ser verdade. Fechou os olhos e ficou boiando. Tento esvaziar os pensamentos mas era difícil. Maya matando a Indira, a feição de decepção do Edward, com certeza seriam imagens que iriam assombrá-la para sempre. Maya pagaria pelo o que fez e Edward... Foi melhor assim, ele voltar para sua terra.
Depois de se banhar, Surya colocou a primeira roupa que encontrou no baú e se deitou na cama. Estava seca e aquecida. Sentia fome, mas teria que esperar pela comida. Depois só queria dormir.
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A escolha das Deusas
FantasyUm tradutor tem a missão de espionar o Marajá de Varanasi para coroa britânica. Na mística cidade sagrada para os hindus, ele descobre um grande amor e seu destino.