Templo

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Edward e Surya acordaram no outro dia. Sr. Smith deixou uma carta em cima da mesa da cozinha para o filho. Nela havia um convite formal do governador para que fossem à sede do governo imediatamente. Os dois respiraram fundo. Edward se arrumou com um fraque e Surya apenas se banhou e voltou a vestir a única roupa que tinha. Independente do seu destino tinha que conseguir roupas limpas.Lá fora chovia bastante. Edward conseguiu que uma carruagem os levassem para o palácio. Voltaram ao escritório do Governador, lá ele os esperava junto do Sr. Smith e Surya sabia que havia algo de muito errado ocorrendo.

— Boa tarde, espero que tenham descansado. Sei do que enfrentaram para chegar aqui e pedi para o Sr. Smith para não acordá-los. — disse o governador.

— Mas o que querem de nós? — perguntou Surya em inglês.

— Conversamos ontem e hoje e chegamos uma solução que será benéfica para todos nesta sala — respondeu Sr. Smith.

— Digam — pediu Edward.

— Surya, daremos a você todo apoio militar para tomar o trono de Varanasi. Com a morte dos seus sobrinhos, você é a herdeira do trono, e não a sua irmã mais nova. Colocamos uma herdeira legítima no trono. Você governa e Edward pode ficar ao seu lado. — explicou o governado.

— É perfeito — disse Edward.

— Você finalmente faria algo útil para seu país — resmungou Sr. Smith.

— Perfeito? — perguntou Surya e todos olharam para ela. 

— Vocês acham que eu irei invadir Varanasi ao lado de ingleses e depois fingiria governar? Já que Varanasi seria o mais novo reino para o Raj Britânico.

— Surya, você seria a Rani. — disse Edward.

— Eu nunca quis ser a Rani.

— Eu não acredito que está dizendo isso. É nossa chance de ficarmos juntos.

— Edward, eu não vou entregar Varanasi aos britânicos.

— Não é possível que prefira ver a cidade nas mãos dos assassinos da sua família, da sua irmã e sobrinhos, ao invés de alguma influência britânica. 

— Edward não conseguia entender o que Surya falava. Sr. Smith e o governador apenas assistiam.

— Eu não irei fazer isso! — exclamou Surya nervosa com a aquela conversa.

— Você está jogando fora nossa chance.— Não irei entregar Varanasi. Você não entende o que isso significa para nós. Vocês são invasores. Nos tratam como selvagens, como inferiores, acham que nossas mulheres são objetos, eu não daria mais terras a vocês!

— É assim que você me vê? — perguntou ele. Ela se calou por longos segundos.

—Edward, eu não posso lhe dar o fim que você estava esperando. Um belo final de um livro de aventura. Governar um exótico reino. — Aquilo o feriu muito mais o que ela gostaria, pois era o tipo de coisa que o pai dele diria. —O mundo real não é seus livros.

— O brâmane errou sobre você. Jamais você seria Parvati. — disse Edward dando as costas para ela e saindo do escritório. 

Ela respirou fundo e também saiu. Não o viu mais. Ela andou embaixo de forte chuva sem rumo. Ele tinha razão. Parvati lutaria pelo seu amor. 

O Sr. Smith lamentou o ocorrido ao governador e foi atrás do filho. O encontrou em casa arrumando malas em seu quarto.

— Filho, foi melhor assim — disse Sr. Smith que ainda estava decepcionado por ter perdido tamanha influência através do filho.

— Não diga nada. Voltarei à Londres no primeiro navio e vou assumir as minhas responsabilidades com nossa família.

Surya continuava a andar sem rumo. Estava anoitecendo e começava a ter frio. Não conhecia ninguém em Caucutá. Não tinha dinheiro. Não tinha nada. Poderia ser a Rani de Varanasi, ao lado de Edward, mas jogou tudo fora. De qualquer forma sabia que aquela proposta era descabida. Não passou a vida lutando contra os ingleses para entregar tudo de mãos beijadas para eles. Ela sentiu no chão e encostou a cabeça na parede fechando os olhos. Chorou muito, chorou até cansar. Sabia que se ficasse ali seria presa. Não seria melhor morrer? Acabar logo com aquilo? 

Perdeu tudo, mas a morte de Indira não deixaria de ser vingada. Se vingaria sem nenhum britânico ao seu lado. Não importava quantos anos se passassem. Não morreria, não passaria o resto da vida escondida. Maya pagaria pelo o que fez. Mas naquele momento precisava apenas sobreviver. Iria ao único lugar que poderia conseguir comida e roupas secas. O templo de Dakshineswar. Templo construído algumas décadas passadas dedicado á Deusa Kali. Ela mesma. Mesmo tendo grandes dúvidas sobre Parvati, teria que tentar. Se fosse reconhecida por algum brâmane conseguiria sobreviver por algum tempo.

Perguntou onde ficava o tempo para alguns indianos que passavam na rua e conseguiu chegar lá. Era um pouco afastado da cidade. Enorme e muito imponente. Tinha torres brancas e vermelhas.

Surya estava exausta, ensopada, suja e faminta. Ela caminhou pela estrada de terra por entre os indianos que a ignoravam. Afinal não era incomum ver pessoas desesperadas próximas aos templos. Ao chegar ao portão principal ela respirou fundo e entrou.

Aquele lugar era muito maior que o palácio de Varanasi. Havia dezenas de pessoas orando, sentadas no chão. Apenas poucas velas acesas iluminavam o lugar, deixando-o bastante escuro. Ela apenas entrava a procura de algum sacerdote. Até que finalmente foi parada por um Brâmane. Um homem de pouco mais de trinta anos, com roupas simples e brancas.

— O que faz aqui menina? — perguntou ele. Surya estranhou a idade dele. Nunca havia visto um brâmane jovem vivendo numa templo.

— Preciso de ajuda.

— Todos que vem aqui precisam, mas não podem entrar nessa parte do palácio.

— Sou Surya, cunhada do Marajá de Varanasi que foi assassinado junto da esposa dele minha irmã mais velha, por nossa irmã mais nova. Não tenho aonde ir.

— Não podemos abrigar todas mulheres que não tem onde ir. Mesmo que princesas.

— Sou avatar de Kali — disse ela sem rodeios. O primeiro pensamento dele foi que aquilo era um absurdo, mas algo nos olhos dela o fez acreditar.

— Venha comigo — ele a chamou e andaram por longos e escuros corredores. 

— Espere aqui que vou chamar os outros brâmanes.

Surya foi deixada numa sala escura que possuía apenas uma vela acesa. O chão estava molhado. Ela levantou o pé para tentar descobrir no que estava pisando eera sangue. Todo chão da sala estava coberto de sangue. Ela sabia que sacrifícios de animais era comum no culto à Kali.

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