Os dois passaram horas calados apenas olhando a paisagem lá fora. Edward pela primeira vez pensou em si desde a morte do Marajá Dinesh. Ele aceitou ir a Varanasi com a promessa de poder sair da Índia com muito dinheiro. Agora nem haveria mais pagamento e ainda perdeu os poucos pertences que tinha. Não tinha ideia do que faria.
Olhou para Surya a sua frente e pensou que talvez tenha perdido tudo para ganhar algo muito maior. Há nos que não se sentia tão vivo, com tanta vontade de continuar a viver. Mesmo que não soubesse o que faria com aquela vida nem sabia se ela iria querer viver ao lado dele.
Foram dois dias de viagem até a capital do Raj Britânico. Surya e Edward pouco conversaram e dormiram as noites sentados com a cabeça encostada na janela. Estavam exaustos.
O trem parou e eles desceram na estação junto do capitão Evans e outros soldados. Estava lotada de gente. Ingleses e indianos por toda parte mostrando-se bastante ocupados.
O capitão disse que fazia questão de levá-los ao governador antes de qualquer coisa. Edward e Surya não tiveram muitas escolhas. Negar aquilo poderia colocá-los em problemas desnecessários.
Os três entraram em uma carruajem e ela olhava abismada na quantidade de ingleses ali. As ruas estavam lotadas deles. As casas, o comércio, nada parecia a Índia que estava acostumada. Acabou sendo um choque de realidade. Havia ido a Calcutá há muitos anos e cidade estava muito mais ocidentalizada que a última vez.
Chegaram em frente do palácio do governador. Passaram pelas portas de madeira escura, tipicamente vitoriana e seguiram para a sala do George Evans. O governador logo se levantou ao ver Edward, uma indiana e seu irmão, capitão James Evans, entrando.
— O que aconteceu?
— Encontrei esses dois em Chunar. Houve um golpe em Varanasi. O Marajá de Jhansi tomou a cidade — explicou o capitão.
— Isso é terrível. Como isso aconteceu? — perguntou o governador para Edward.
— Houve um casamento entre a irmã mais nova da Rani e o Marajá de Jhansi.
— E você não nos informou? — replicou o governador.
— Nem eu sabia — respondeu Surya em inglês. — Sabíamos da intenção de Dinesh de casar os dois, mas fomos pegos de surpresa pelo casamento.
— Você é a irmã do meio, não é? A que sabe lutar? — perguntou o governador.
— Sim — respondeu Surya sem emoção.
— Mas o que aconteceu?
— Depois do casamento eles foram para um quarto, para haver a consumação. Ao nascer do sol soldados de Jhansi junto de alguns de Varanasi cercaram a todos no palácio. Dinesh e a Rani, minha irmã Indira, foram mortos no salão na frente de todos. Meus sobrinhos, herdeiros do trono, também foram mortos. — Uma lágrima desceu dos olhos de Surya. Conseguimos fugir. Certeza que me matariam também e por mais que saiba lutar, não tinha como enfrentar centenas de homens. — E uma Deusa, completou ela em pensamento.
O governador se sentou e respirou fundo.
— Dinesh era um aliado. Não nos obedecia, mas tentava dialogar sempre.
— E mesmo assim o senhor quis os espionar — disse Surya sem se controlar. O governador olhou para Edward buscando explicações.
— Desde do primeiro segundo lá eles sabiam que eu poderia servir à coroa. Mas confiaram em mim do mesmo jeito.
— Agora eu começo a entender sua demora em enviar informações — disse George olhando para ele e Surya.— Mas vou fingir que não ocorreu. Isto tudo é muito mais sério do quê qualquer vislumbre de traição sua. O Marajá de Jhansi agora controlar quase todo norte da Índia e tendo visto de quem ele é filho. Ele facilmente pode estar querendo continuar o trabalhado da mãe dele. Sr. Smith continue na cidade. É uma ordem. Tenho motivos para prendê-lo, mas só vou pedir para que fique em casa. A senhorita, por favor, fique por perto também. Mas sei que sabe que se for para o norte terá problema. Hoje é a única possível herdeira do trono de Varanasi fora sua irmã que está viva. Ou até ela engravidar. Por último, Sr. Smith tem alguém em sua casa a sua espera. Estava nessa manhã escrevendo uma carta que seria enviada ao senhor para avisar.
— Quem chegou na minha casa?
— Seu pai e sei que ele ficará muito surpreso com sua companhia — respondeu o governador e Edward sentiu o chão faltar. Seu pai por perto era a última coisa que precisava naquele momento.
— Capitão Evans, por favor acompanhe nossos amigos até a casa dele e volte para cá de imediato — disse George ao irmão.
— Sim senhor.
Os três voltaram para carruagem e seguiram direto para casa de Edward. Surya percebeu a inquietação dele e segurou firmemente sua mão. Pararam na frente da casa no bairro mais inglês que bairros na Inglaterra e os dois desceram da carruagem.
Edward pegou a chave que havia em baixo de um dos vasos de plantas e entrou. A casa estava mobilhada e seu pai estava sentado lendo um jornal perto da janela.
Mais jovem do que Surya esperava, o Sr. Smith tinha os cabelos pouco grisalhos e os mesmos olhos claros do filho.
— Papai? — chamou Edward.
— Ora essa. Esperei cinco anos para vê-lo. Não esperava vê-lo assim. — disse Sr. Smith se levantou. Edward foi até ele o abraçou. — O governador disse a insanidade de cometeu. Se estava ruim das finanças por quê não voltar para Londres? Principalmente depois que Jocelin morreu...
— Pai era uma excelente proposta. Meu plano era voltar a Londres depois.
— Era? O que aconteceu? Afinal George disse que estava em Varanasi e não tinha como a carta chegar lá tão rapidamente — perguntou Sr. Smith olhando para Surya.
— Vamos nos sentar — disse Edward se sentando em um sofá na frente do pai e Surya fez o mesmo a contragosto.— Essa é irmã do meio da Rani de Varanasi. Houve um golpe de estado lá e fugimos para nos manter vivos.
— E o quê você tem a ver com tudo isso? — perguntou o governador e Edward e Surya se olharam.
— A irmã mais nova dela casou com o Marajá de Jhansi, e junto dele matou o Marajá de Varanasi e sua família. A Surya era a próxima.
— O quê você tem a ver com isso?— insistiu Sr. Smith. Edward se levantou e andou inquieto. Sabia que seu pai jamais aceitaria um romance seu com uma indiana. Muito menos uma que metida numa confusão dessas. Seria um escândalo. Mas não tinha como mentir.
— Eu amo a Surya.
— Você só pode estar brincando — disse Sr. Smith.
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A escolha das Deusas
FantasyUm tradutor tem a missão de espionar o Marajá de Varanasi para coroa britânica. Na mística cidade sagrada para os hindus, ele descobre um grande amor e seu destino.