Mentiras em mi bemol

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Kyungsoo espia sobre o ombro para ver se tem alguém atrás deles, mas a fila já se dissipou. Ele solta uma risada seca.

— Até parece. Sou apenas um ótimo ator.

Jongin o agarra pelo pescoço, pendurando-se nele, e o arrasta para a praça de alimentação.

— Claro que é. Sinceramente? Somos ótimos juntos, uma dupla e tanto. Alguém devia nos indicar para um Emmy ou sei lá o quê. — Ele aponta para uma mesa vazia do lado de fora. — Quer sentar ali comigo? Ainda tenho um tempinho pra te exibir por aí.

Kyungsoo estreita os olhos e esboça um sorriso pequeno.

— Achei que você fosse o astro popular do rock, e não eu.

Jongin faz uma careta, fechando os olhos com força como se o assunto lhe causasse dor física.

— Pra ser sincero, não sou assim tão popular. Baekhyun estava exagerando. Sou mais quieto e tranquilo do que pareço.

Eles se sentam nos bancos de concreto perto do jardim de inverno, de frente para a biblioteca, e deixam suas mochilas em cima da mesa. Kyungsoo dispõe suas garrafas de Gatorade lado a lado, de modo alinhado e assustadoramente simétrico.

Ele é seu namorado ou seu garçom?

Depois deita sobre a superfície gelada, esmagando a bochecha nos braços.

— Namorar de mentira é tão exaustivo — sussurra Kyungsoo, de olhos fechados.

— Fingir é exaustivo — Jongin concorda.

Continua olhando-o de cima, admirando secretamente as pintinhas recém-descobertas no rosto dele, como se soubesse algo sobre Kyungsoo que ninguém mais sabe. Em vez de abrir o pacote de salgadinho ou a garrafa, Jongin também apoia os braços na mesa, deita e se aconchega ao lado dele.

Kyungsoo abre os olhos, muito mais relaxado. Seu rosto é brando, pacífico. Ele parece tão em paz. É o retrato de alguém incapaz de fazer mal a uma mosca.

Então por que ele aceitou a aposta?

Por que foi desafiado, em primeiro lugar?

— Você não vai comer? — Kyungsoo pergunta, desviando o olhar para o pacote de salgadinho sabor cebola.

— Vou — ele promete, mas não se move.

Eles gastam o tempo restante trocando olhares em mútua contemplação e silêncio. A falta de diálogo nunca foi tão confortável.

Kyungsoo se ajeita na mesa para poder erguer o braço. Sem aviso prévio, move o indicador até o rosto de Jongin para ajudá-lo com uma mecha de cabelo caindo em seu olho. Ele afasta os fios para trás da orelha, devagar, os dedos deslizando pela mandíbula conforme recua.

A sensação do toque, de ter alguém cuidando dele, é nova e um pouco fascinante, apesar da farsa.

Jongin não sabe onde a atuação começa e onde termina, e aquilo é perigoso.

De repente, ele se levanta. Pega a mochila, joga sobre o ombro de modo desleixado e recolhe a garrafa de Gatorade.

— Kyungsoo, preciso ir — diz apressadamente.

— A gente ainda tem uns dez minutos.

Ele gesticula com a garrafa na direção da papelaria.

— Lembrei que preciso imprimir uma parada lá na xérox — Jongin insiste, achando-se muito estúpido e hipócrita por mentir.

Não foi ele que disse "Sem mentiras"? Que propôs serem sempre honestos, não importa o que aconteça?

Kyungsoo permanece deitado, mas esboça um sorriso fraco e sonolento.

Amor em Quatro AcordesWhere stories live. Discover now