Nova Chance

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Abri os olhos e ainda não tinha amanhecido, senti que Marcos ainda acariciava meu cabelo, me deixando com mais vontade de dormir. Minha dor de cabeça havia passado, senti que meus olhos estavam inchados de tanto que chorei.

Me virei pra olhar pra ele, que estava deitado ao meu lado. Ele olhou nos meus olhos e sorriu pra mim.
Marcos havia me deixado confortável, sem fazer perguntas, sem querer se intrometer. Ele apenas ficou comigo independente de fazermos algo ou não, ele ainda estava ali, e se preocupava comigo.

Ficamos um tempo olhando um no olho do outro, ele abriu a boca pra falar algo mais desistiu. E eu não sabia se falava algo ou não.

- Acho que tô com um pouco de vergonha... - Falei rindo enquanto me afastava devagar e se sentava na cama.

- Vergonha? Por chorar? - Perguntou ele cruzando os braços.

- Exatamente... Eu, precisava colocar tudo pra fora, não ia conseguir segurar até você ir embora.

- Não precisa ter vergonha por isso, todo mundo chora sabe? - Falou ele rindo, deixando a situação mais leve.

- Eu estraguei a noite num foi? Você deve está cansado, que horas são?

- Uma e quarenta e cinco da madrugada. Você dormiu por pouco tempo, achei que só acordaria de manhã. Está se sentindo melhor?

- Sim, tô melhor.

- Acho que agora é hora deu ir... Você precisa descansar.

Marcos se sentou na cama mais eu coloquei a mão sobre a dele.

- Quer mesmo ir?

Ele olhou sorrindo pra mim.

- Se quiser que eu fique, é só dizer.

- Eu quero... Bom, já que não saímos, podemos preparar algo pra comer aqui mesmo. Aliás, eu estou com um chef de cozinha na minha frente. - Falei rindo.

- Sabia que ia sobrar pra mim. - Respondeu ele rindo enquanto se levantava.

Marcos tomou conta da minha cozinha, eu tentei ajudar ele mais ele não me deixou tocar em nada, tava mesmo se sentindo o chef da minha cozinha.
Eu agradeci por isso, eu não gostava de cozinhar e de nenhuma tarefa relacionada a cozinha.

- O que vai fazer? - Perguntei enquanto abria um vinho na mesa.

- Bom, não tem muita opção aqui, mais vou usar tudo que tem. Talvez eu invente um prato novo... - Falou ele rindo.

Conversamos sobre várias coisas, Marcos me contou sobre sua infância com sua irmã. Sobre seu sonho de ser cozinheiro desde criança... E sempre que me falava algo sobre a sua vida, ele sorria muito. Ele tinha uma energia contagiante, que fazia todos ao redor se sentir confortável e feliz.

Assim que jantamos, sentamos no meu quintal aos fundo da casa. Tinha grama no chão e o céu era aberto. Sentamos no batente que tinha na cozinha, e ficamos olhando o céu enquanto bebíamos o vinha, minha barriga estava cheia de tanto que eu comi.

- Não sei se você vai se abrir comigo, mais quero que saiba que pode confiar em mim. Eu não estou aqui pra me aproveitar de você, ou pra me divertir um pouco... Te achei diferente desde a primeira vez que te vi, só não sabia como chegar em você. Você me intimidava um pouco.

Comecei a rir enquanto ele disse que eu intimidava ele.

- Eu sou assim? Intimido as pessoas? - Perguntei ainda rindo.

- Um pouco. - Ele olhou pra mim e sorriu, em seguida encheu sua taça de vinho novamente.

- Você é um cara bacana. Se eu contasse sobre minha vida, você sairia correndo por aquela porta. - Marcos sorriu, mais eu continuei séria.

- É tão ruim assim?

- Mais do que ruim... É pior. - Falei colocando a taça no chão. Eu não sabia se devia contar a ele ou não. Eu não tinha amigos, eu não desabafava isso com ninguém, eu já tava ficando cheia de tudo, de todos os problemas de todo o passado.

- Eu fui uma pessoa horrível no passado. Cruel... - Falei rindo, mais aquilo não tinha graça alguma. Eu só queria deixar aquela conversa mais leve se eu realmente fosse contar a ele.

- Acho que todo mundo tem algo que se arrepende de ter feito no passado.

Abaixei a cabeça tentando encontrar as palavras certas pra contar a ele que eu passei um tempo na prisão, que coloquei a vida da filha do meu ex marido em perigo, que eu menti pra o pai da minha filha sobre a existência dela... Era tanta coisa, que eu tinha certeza de que tudo não tinha mais jeito.

- Bom... Se isso te conforta. Eu sou o chef do restaurante.

Comecei a rir, o que aquilo tinha a ver?

- E? - Perguntei olhando pra ele.

- Conheço a vida de cada funcionário que entra ali... Empregos anteriores, brigas ou confusão, passagem pela polícia. Sou o chef principal.. Alencar só resolve a parte financeira, mais eu sou o braço direito do dono do restaurante, é eu quem digo quem entra e quem saí.

Gelei enquanto ouvia aquilo... Marcos ainda olhava nos meus olhos, e dessa vez mais sério. Senti meu rosto ferver... Ele sabia de tudo!

- Você sabe... - Falei baixinho.

- Desde o início.

- Porquê? Porque me deixou ficar?

- Todo mundo merece uma segunda chance, ou até mesmo uma terceira.

- Você sabe sobre tudo?

Ele concordou com a cabeça.

- E mesmo assim está aqui comigo... O que você quer?

- Algo em você me chamou atenção Cíntia. E não estou falando de beleza, lógico que você chama muita atenção, é uma mulher linda... Mais eu enchergo você por dentro. Você não desistiu de tudo, você correu atrás de um emprego, mesmo não sabendo nada de cozinha nem de restaurante, mas você arriscou nesse emprego. Está lutando até hoje pelos seus filhos, e eu vejo em seus olhos que você se arrependeu do que fez, vejo que você mudou completamente, e pra melhor dessa vez...

Abracei ele é chorei mais uma vez, mais dessa vez foi um choro feliz... Por saber que alguém acreditava em mim, saber que eu podia confiar nele.

- Quero te conhecer melhor, e quem sabe te ajudar nessa sua luta. Quero está do seu lado, se você topar... Quero ser mais do que um amigo pra você.

Me afastei pra olhar ele nos olhos e sorri.

- Eu topo. - Falei sorrindo.

Marcos me abraçou forte me dando um xero na cabeça.

- Quero colocar um sorriso nesse rosto mais vezes... - Falou ele sorrindo antes de me dá um beijo.

Cíntia ( Livro 3, final ) Where stories live. Discover now