Capítulo 43

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Três meses depois

Lorenzo

— Você não acha que deveria conversar com Antonella? — a psicóloga pergunta enquanto ajeita os óculos no seu rosto e me olha com atenção, aguardando pela minha resposta.

— Tenho medo que ela vá embora.

— Mas você disse que quer que ela saiba a verdade, que ela não continue cuidando de você, amando você, sem saber quem você realmente é. — suspiro.

— Eu quero dizê-la tudo que fiz, mas eu sei que ela irá embora depois disso.

— Mas não acha melhor que ela saiba a verdade e vá embora? Porque você mesmo disse que desde que acordou do coma mal consegue olhar para o rosto dela sem ver tudo o que fez, sem se ver atirando no pai dela.

Não respondo. Me levanto e olho para a mulher loira de óculos na minha frente. Segundo a sua descrição ela tem 42 anos e é divorciada, mãe de um menino de 17 anos. Veste um terno preto e tem o cabelo solto.
As vezes me pergunto se foi uma boa escolha. Ela não é horrível, mas as vezes parece me deixar ainda mais confuso.
Talvez eu só quisesse que ela tirasse essa merda que fica a cada segundo me atormentando, vagando na minha cabeça.

Desde o dia em que abri os olhos não sei o que se passa comigo, é tudo muito confuso. Me sinto culpado, muito culpado. Por tudo, as vezes tenho medo, angústia, ansiedade. Tudo isso está misturado e acabo não sabendo como agir.

Lembro de exactamente tudo. Quem sou, quem são as pessoas ao meu redor, tudo que já aconteceu comigo, as coisas que fiz, e esta é a pior parte. Eu lembro que quando aquele helicóptero caiu eu estava indo atrás dela, disposto a levá-la de volta comigo, mesmo sabendo que destruí sua vida.

Eu não sei o que bateu na minha cabeça, ou o que aconteceu depois, mas parece que o meu senso de certo e errado mudou completamente.
Eu mudei.

— Obrigada Doutora, vou pensar sobre o que falamos hoje — digo depois de um tempo em silêncio. Ela nunca me interrompe quando estou pensando, apenas espera e espera até que eu diga algo.

— Tudo bem. O verei outra vez?

Não sei como responder a esta pergunta. Passam meses desde que venho aqui, três vezes por semana, e nada mudou. Minha cabeça ainda está um caos. Eu ainda não sou o Lorenzo Marchetti que costumava ser. Não sei se tudo isso está servindo para algo. E me pergunto se talvez eu não devesse apenas me conformar que nada será como antes.

— Não sei. Se eu decidir voltar, minha secretária entrará em contacto marcando a sessão.

Ela concorda com a cabeça e nos despedimos. Pego meu blaser no sofá do outro lado e me dirijo a porta.
Quando estou no exterior, me despeço da secretária que sorri descontroladamente sempre que me vê, e desejo bom dia à mulher sentada na sala de espera pela qual tenho que passar antes de chegar ao elevador.

[...]

Devia voltar para a empresa, mas ligo para minha secretária informando que não estou me sentindo bem e peço que ela cancele tudo que estava marcado para hoje.

— Lorenzo, você chegou cedo. Tudo bem? — Antonella pergunta assim que me vê entrando. Grazi e ela estão recortando algumas revistas, provavelmente deve ser alguma ideia maluca da minha irmã.

— Estou bem — respondo — Podemos conversar?

Antonella não consegue esconder sua supresa. Em todo esse tempo que passou não tivemos uma única conversa, uma conversa de verdade, e acho que chegou a hora.

Tudo está confuso na minha cabeça. Mas não tenho dúvidas do que sinto por ela. Amo-a e daria tudo para construir uma vida ao seu lado.
No entanto, para que isso aconteça Antonella precisa saber de tudo e querer continuar comigo mesmo assim.

— Claro, eu... — ela parece feliz.

— Estou subindo, me encontre no quarto — ela concorda com a cabeça.

Enquanto subo as escadas ouço Grazi dizer "finalmente vocês vão se acertar". Suspiro e continuo subindo.

[...]

— Antes de tudo Antonella, quero que saiba que eu amo você, com todo o meu coração, e mesmo com tudo o que aconteceu nos últimos tempos, essa é a única coisa sobre a qual não tenho dúvidas.

— Eu também te... — a impeço de continuar colocando meu dedo sobre seus lábios.

— Antonella você descobriu algo que eu devia ter contado logo que você me conheceu, eu sou Mafioso, não um simples mafioso, sou o líder. Você tinha o direito de saber e eu te enganei. Eu também afastei a única família que você tinha por ciúmes, eu ameacei a vida do seu amigo — ela encara seus próprios pés — Mas isso não foi tudo.

Antonella senta no canto da cama, com os cotovelos apoiados sem suas coxas e as mãos na cabeça, puxando levemente seus cabelos.

— Lembra dos russos de que falamos pouco antes do meu acidente? — ela assente sem olhar para mim — Eu tive algumas desavenças com o líder deles, Mikhail Barkov... — digo e engulo em seco me convencendo a continuar — E matei a mulher dele — nesse momento olho-a, para captar alguma reacção, mas Antonella continua inexpressiva, apenas encarrando o chão — Eles tinham três filhos, mas mesmo assim eu mandei explodir o carro daquela mulher. — digo com um nó na garganta.

— Ele faria o mesmo com você. Você não tem culpa, foi nesse mundo que o criaram, você aprendeu a resolver as coisas assim — diz olhando para mim, mas ainda sem se levantar.

— Isso não é o pior Antonella — respiro fundo para ganhar coragem — A muitos anos atrás, pouco tempo depois de assumir a liderança da máfia, um dos nossos aliados nos traiu, e, eu, eu tive que matá-lo — faço uma pausa sentindo que a cada palavra que digo mas difícil se torna abrir a boca ou falar o que quer que seja, mas preciso continuar. — Depois de matá-lo percebi a presença de uma criança na casa dele, ele tinha uma filha, eu não sabia, mas não sei se seria diferente se soubesse — suspiro. E quando olho para Antonella, vejo que ela está chorando — Eu... eu mandei meus homens pegarem ela, e... a coloquei em um orfanato.

— Para — ela diz se levantando. Seus olhos estão vermelhos e seus rosto cheios de lágrimas.

— Eu preciso termin... — ela me interrompe.

— EU SEI COMO ISSO TERMINA — grita — Eu sei que você matou ele — diz muito mais baixo enquanto soluça — Eu sei que você matou meu pai Lorenzo.

Obsessão De Um Mafioso Where stories live. Discover now