Porcos não soam

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Quando acordei Jason já não estava mais na cama. Há um tempo atrás costumava ser ao contrário. Por conta das minhas dificuldades com meu sono desregulado eu tendia a acordar antes dele, mas ultimamente, graças a fatos já muito exemplificados aqui, eu tenho conseguido dormir muito melhor. Dessa vez talvez tenha sido a felicidade que me preenchia e atenuava tudo que costumava me impedir de ter uma boa noite de sono, mesmo que a ansiedade continuasse aqui, sempre a espreita, é como se ela tivesse perdido espaço e pouco a pouco se tornava mais obsoleta dependendo do contexto. Ou talvez fosse só o remédio que me capotou mesmo.

O cheiro do café dominava os cômodos. Essa era uma das vantagens de se ter uma casa pequena – a única junto da facilidade de se limpar poucos metros quadrados. Quando entrei na cozinha a mesa já estava posta e Jason havia feito o meu favorito: pão na chapa com queijo e orégano. Comemos em silêncio, como era confortável entre nós, mas eu sentia que ele estava remoendo algo. Ele parecia não ter decidido ainda como contar o que quer que tivesse para contar, então permaneci aguardando. Aguardei enquanto comemos, enquanto eu organizava a mesa, enquanto eu lavava a louça e o deixava sentado terminando de tomar seu café (a terceira xícara) e finalmente eu só aguardava, sentado em sua frente, respeitando o seu tempo.

"Bom dia amor"

"Obrigado por ontem. E por antes também."

"Meu pai te amou e já queria te incluir no passeio de hoje (vamos para a praia), mas não se preocupe, eu te salvei dessa."

"Ele gosta de me arrastar para praticar esportes estranhos em qualquer oportunidade que encontra, e decidiu que seria legal um aquático nesse frio desgraçado"

"Bom, a gente se vê amanhã."

"Tudo bem eu continuar te buscando no café né?"

As primeiras mensagens chegaram as cinco da manhã, já a última tinha um intervalo de quase cinquenta minutos, como se ele tivesse hesitado bastante antes de manda-la. Ainda era meio incrível para mim pensar que Will, com toda sua "presença" e carisma sentia-se inseguro assim como eu – que não possuía nenhum dos dois.

"Bom dia amor"

"Eu que preciso agradecer, sério, foi uma das melhores pizzas que eu já comi. E eu tive a oportunidade de vivenciar um pouco como é ser um burguês safado, então muito obrigado por ter me convidado."

"Na verdade, obrigado por ser presente na minha vida e por me convidar mesmo estando inseguro. As vezes eu posso hesitar sobre algo, e ter medo, e ficar ansioso, mas sendo com você eu quero tentar, apesar de tudo."

"Dito isso, eu estou muito agradecido de você ter me livrado dessa hahahaha eu definitivamente não me dou bem com esportes aquáticos. De resto, eu posso dar uma chance. Agradeça seu pai por mim... eu gostei bastante dele também ^^"

"A gente se vê amanhã, caso você sobreviva a hoje."

"E...."

"Por favor, continue vindo"

Quando bloqueei o celular e me voltei novamente para Jason, este tinha um sorriso divertido no rosto.

- Eu não preciso nem perguntar para saber com quem você estava falando. Quem diria que um dia Nico Di Ângelo sorriria para o celular dessa forma. – O puto gargalhou. E digo puto porque ele havia tirado uma foto de mim sorrindo para o celular que já estava enviada em seu chat com Piper.

- Eu preciso de cinco bons motivos para relembrar porque ainda somos amigos, sinceramente. – Suspirei. – Eu estou aqui te dando tempo para pensar, elaborar e começar a falar sobre a grande merda que você claramente tem para falar para mim e em contrapartida você está me expondo para sua namorada.

Akai ItoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora