Percy e Jason são dois vagabundos intrometidos

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Cortinas blackout. Eu sempre gostei delas e invejei pessoas que a tinham. Para alguém que sofre com insônia e tem dificuldade de dormir com a claridade elas eram basicamente o meu maior objeto de desejo. Eu sonhei com cortinas blackout. Estavam dispostas em um quarto amplo cujos donos eram um caubói e um astronauta. Bizarro, certo? Mas o sonho cessou com um feixe de luz ardendo diretamente no meu rosto.

Meus olhos estavam doloridos, por isso mantive-os fechados. Queria voltar a dormir, enfiar a cabeça no meio das cobertas e fingir inexistência durante mais algumas horas, mas tinha algo no fundo da minha cabeça coçando. Uma informação importante do porque eu estava embolado em meio a cobertas do Toy Story em uma cama maior que o meu quarto. Cortinas blackout. Eu não tinha cortinas blackout. Espiei com um dos olhos - cortinas blackout abertas.

- Bom dia bela adormecida. - Os cabelos loiros brilhavam no contraste da janela e seu sorriso era relaxado. Will Solace estava sentado em uma cadeira de frente para a janela, parecia estar observando o lado de fora antes de virar em minha direção. - Eu estava esperando você acordar, mas começou a ficar tarde. Jason me ligou duas vezes já. Ele disse que a janela aberta definitivamente te acordaria.

- Que horas são? - Foi a única coisa que consegui balbuciar.

- Três da tarde.

O susto me acordou. As memórias da noite anterior vieram tão rápidas quanto a pontada que senti na minha nuca. Enxaqueca. Ressaca. Will notou minha careta de dor e se levantou, vindo sentar ao meu lado na cama. Sua mão direita veio em direção aos meus cabelos e eu tombei minha cabeça nela, como o bom golden retriever que eu me tornava em sua presença.

- Bom dia Will.

- Bom dia amor. - Ele sorriu e se aproximou para me dar um selinho. Minha mente gritou "você não escovou os dentes" e isso me impediu de avançar o carinho.

- Amor. - Eu repeti, bobo. Will riu.

- Ligue para o Jason. - Sussurrou contra meu ouvido.

- Daqui a vinte minutos. - Respondi puxando-o para a cama.

Aconcheguei-me no seu abraço e me escondi da claridade como o bom vampiro que sou. Nós dormimos juntos, mas não tenho lembranças de estar abraçadinho com ele na cama e isso era uma vergonha. Um erro inadmissível que precisava ser reparado. Jason entenderia.

***

Liguei para o Jason quase cinco horas da tarde. Ele resmungou que eu o abandonei e que era uma traição de alto nível demorar tanto para compartilhar a fofoca com ele. Sim, ele havia pedido para me acordar porque estava curioso e não podia esperar um maldito dia para saber sobre tudo. Se eu não morasse na casa dele, eu teria cortado relações ali.

Uma vez que ele era insistente pra caralho só consegui desligar depois de contar partes da noite - o que eu jantei, quanto eu bebi e se o pai de Will era tão gato quanto o mesmo (pergunta feita por Piper, mas que Jason demonstrou estar tão curioso quanto pelo resposta) - e prometer que contaria tudo quando voltasse, o que não seria logo. Will já havia preparado a sala de TV - sim, existia uma sala só para a televisão - e uma quantidade absurda de pipoca para o que seria uma longa maratona.

**

O sofá era largo e comprido, visivelmente mais confortável do que minha própria cama, mas Will insistiu em dividir um assento - eu tinha negado só de brincadeira, mas a forma como ele decidiu me convencer foi engraçada, então fiz um charme. Ele prendeu os cabelos em um rabinho ridículo que despontava para cima e se aconchegou em mim como um cão em uma fresta de sol. A sala tinha um aquecedor, mas ainda assim nos escondemos embaixo da coberta com dois baldes de pipoca lotados de manteiga. Espalhados na almofada ao lado tinha todas as variedades de fini existente.

- Você preparou tudo isso ou por acaso tem um estoque em casa? - Perguntei curioso.

- Eu preparei tudo no dia em que você aceitou vir - Respondeu procurando a série na netflix. Suas orelhas começaram a ficar vermelhas nas pontas. - Depois eu percebi que era loucura. Você ainda tinha uma semana para desistir.

- Eu prometi que viria.

- Mas eu meio que te encurralei. E eu não entendo muito bem ainda, mas até onde eu sei as coisas não funcionam assim com você. Sob pressão. Mas eu ainda assim queria te ver então comecei a ir te buscar todos os dias, o que foi totalmente contra o que eu acabei de falar, mas sei lá, eu não consegui me impedir.

Eu demorei um pouco para absorver tanta informação, então o primeiro episódio começou. Will respeitava meu silêncio. Sempre respeitou. E mesmo com o silêncio ele ainda me entendia bem - ou melhor, se esforçava para - e gostava de mim. Sentia minha falta. Queria me ver todos os dias. Comprava o meu salário em fini só para assistirmos tv juntos.

Pausei a série.

- Eu fiquei feliz que você veio todos os dias. Eu também queria te ver. Não me olha porra! - Segurei seu rosto virado em direção a TV enquanto continuava. - Obrigado por se importar o suficiente para tentar me entender. Eu fico feliz quando estou com você, então tudo bem. Eu vou avisar se estiver pisando no meu limite, então não se preocupe.

Eu não era bom com palavras, muito menos em traduzir meus próprios sentimentos, mas acho que fiz bem dessa vez. Will sorria contra minhas mãos e então começou a beijá-las. De repente o fio começou a arder em um vermelho vivo que eu poderia descrever como um reflexo do meu próprio rosto. Eu não sei o que Percy havia entendido da situação, mas ele estava ali. Maldito primo intrometido.

Dei play na série. 

Akai ItoWhere stories live. Discover now