Temos um boi em casa

141 16 3
                                    


Quando voltei para casa, Percy Jackson estava lá. Ele, Jason, Piper e Annabeth, plus um cachorro preto que mais parecia um boi, estavam espalhados pelo meu humilde sofá enquanto assistiam um filme da Marvel. Sem mim. Um filme da Marvel sem mim. Imperdoável. Will entrou em casa logo depois de mim, fechando e trancando a porta. Em seu braço tinha uma sacola cheia dos doces que não aguentamos comer e que eu havia pensado em dividir com aqueles que eu considerava meus amigos, mas diante da vil traição, eu adquiriria diabetes antes de compartilhá-la.

O boi - que posteriormente descobri se chamar Sra. O'Leary - correu direto para Will, pulando e o derrubando no chão enquanto lambia seu rosto e o fazia desaparecer em sua imensidão de pelos. Gostaria de deixar registrado que tentar salvá-lo foi um erro. O cachorro era tão grande que facilmente prensou a mim e Will contra o chão enquanto lambia, lambia e lambia mais um pouco. A Sra. O'Leary era realmente pesada. Existem alguns cachorros que você olha e acha que são grandes, mas na verdade são somente ratos peludos, mas esse não era o caso aqui. Ela era grande, pesada, peluda e estava pressionando minha caixa torácica enquanto depositava uma quantidade absurda de saliva no meu rosto.

Parecia ter passado uma hora quando Percy a tirou de cima de nós, com muito sacrifício. Meu rosto inteiro coçava - até então eu não sabia que era alérgico a cachorros. Will parecia achar graça da situação, indo acariciar o lobisomem/boi após Percy ter conseguido fazê-la sentar do lado oposto da sala. Com certeza ele já estava acostumado àqueles ataques. Eu não aguentei cumprimentar ninguém e fui direto ao banheiro. A água gelada com sabão trouxe um alívio gostoso, mas eu ainda desejava arrancar meu rosto. Já havia tido experiências com cachorros antes, inclusive gostava deles, mas acho que a aversão a exageros não era somente uma parte da minha personalidade, mas também da minha genética.

– Will!!! – Gritei pela fresta da porta. Ele apareceu sorrindo, os cabelos emaranhados com a aparência de que tinham sido lavados recentemente, mas eu sabia que era a saliva do cachorro babão. Estava lindo e igualmente nojento. – Preciso de epinefrina. – Fiz drama.

Seu olhar era pura confusão, mas ele sorriu levemente, mostrando o dentinho encavalado que eu achava tão charmoso.

– Eu não sei o que isso significa, mas você está agindo muito fofo agora. – Ele respondeu à minha muda interrogação, aproximando-se e me beijando. Eu fui pego completamente desprevenido e admito que corei ao ponto de sentir fisicamente a quentura das bochechas e orelhas. – Você tá vermelho. – Ele riu ao se afastar. Um grandíssimo bastardo se quer saber minha opinião.

– Cala a boca! Eu preciso de um antialérgico, mas não quero pedir ao Jason porque ele estava assistindo Marvel sem mim, e... onde está a sacola de doces? – Desembestei a falar.

– Dei para eles. – Ele percebeu que havia algo errado assim que terminou sua frase. Acredito que eu não estava mais fofo agora... – Eu vou pegar deles.

– Pegue e esconda!! Eles não são merecedores de amor, atenção, carinho, compaixão e muito menos doces!! – Se fosse um filme da DC eu não me importaria, mas está nas regras de melhores amigos que não se deve assistir filme da Marvel sem a presença do outro. – E pegue o antialérgico. – Gritei para a sua sombra que se retirava do cômodo.

***

Will Solace com todo seu incrível poder de persuasão sobre mim conseguiu me fazer considerar perdoar Jason. Não dividi meus doces, mas nos juntamos para terminar de assistir o filme em uma quase paz – Sra. O'Leary tinha sido proibida de sentar no sofá e olhava com desgosto em minha direção, como se soubesse que eu era o causador disso. Tomei dois comprimidos de antialérgico - contra indicado por Jason, uma vez que eu era fraco para remédios desse tipo e ficava muito sonolento e zonzo - e senti o alívio depois de uns cinquenta minutos. Nisso o filme já havia acabado e Percy se desculpava para mim a cada dez minutos - eu estava me esforçando para passar através do fio todo o incômodo que eu estava sentindo com aquela alergia que fazia meu rosto inteiro coçar e arder e aparentemente estava funcionando.

Akai ItoWhere stories live. Discover now