Starbucks

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Regina

O dia estava nublado e as gotas grossas da chuva batiam contra a vidraça a minha frente. Particularmente eu gosto de dias assim, me fazem pensar. Não que exista um segundo sequer que minha mente pare, mas em dias como os de hoje, parece que tudo acontece em câmera lenta à minha volta e meu cérebro pega uma velocidade impressionante para processar as coisas.

Av. Paulista.

Nunca achei que um lugar tão "caótico" pudesse me trazer tanta paz. Observar o caminhar apressado dos pedestres e o deslocar lento dos carros, me faz pensar em Nova Iorque e em todo seu caos. Um sorriso triste rasgou meu rosto, me fazendo lembrar há quanto tempo estou longe de casa. Não me lembro bem em que momento da minha longa estadia em São Paulo, essa avenida se tornou meu lugar preferido, mas todos os dias tomo café na mesma Starbucks, sentada na mesma cadeira, que me dá uma visão privilegiada do Parque Trianon e do Museu de Arte de São Paulo. É como um ritual que não pode ser quebrado um dia sequer ou nada sai como planejado e todo o meu dia vai por água abaixo, como se nunca tivesse existido. A cafeteria abre às 07:00 em ponto e às 07:10 eu já estou fazendo meu pedido. Um espresso macchiato e para acompanhar um croque monsieur. Não é o acompanhamento mais indicado para o horário, mas como minha segunda refeição acontece só depois das 12h00, acho que apostar em algo mais substancial para o meu organismo não seja um erro.

A cafeteria nunca enchia aquela hora do dia, parecia que ninguém tinha tempo para parar e apreciar um bom café tranquilamente. Todos que adentravam o lugar, pegavam seus pedidos e iam embora. Exceto por uma mulher, que aparentava ser um pouco mais alta que eu, com cabelos loiros e ondulados abaixo dos ombros. E claro, sua inseparável jaqueta de couro. Não importava a cor, era sempre couro. Mas, em sua maioria, eram vermelhas.

Emma

Era esse seu nome. Como eu sei? Sempre a ouvia dizendo seu nome ao atendente e depois o ouvia chamando-a. Uma mulher intrigante, admito. Sempre com seu semblante fechado, mesmo quando sorria em agradecimento pela cordialidade dos atendentes. Vez ou outra nossos olhares se cruzavam e nos cumprimentavamos educadamente.

Pelo canto dos olhos pude ver o momento em que a porta de entrada foi aberta. Lá estava ela, a mulher que me acompanhava todos os dias, mesmo que não nos conhecêssemos. Ela adentrou a cafeteria e seguiu em direção ao balcão, fez seu pedido e naquela manhã, diferente de como fazia todos os dias, a loira se sentou um pouco mais próxima de onde eu costumava me sentar. Notei sua leve movimentação atrás de mim e me virei para ter certeza de que estava certa sobre meu palpite. E estava. O que estranhei, já que ela nunca ficava em meu campo de visão.

- Estão sempre com pressa! Nunca existe tempo para apreciar uma boa vista, para tomar um café tranquilamente... - me assustei ao ouvir sua voz soando e virei levemente minha cabeça em sua direção, concordando com seu ponto de vista - Nunca há tempo para viver.

- Às vezes, me pego pensando a mesma coisa - desviei meus olhos dos seus, que de onde eu estava, pareciam verdes e voltei a focar na chuva que caía e nas pessoas se amontoando do lado de fora - Há sempre um motivo para correr, sempre tem algo mais importante do que simplesmente desacelerar - pontuei - É certo que a vida adulta nos cobra responsabilidades e trabalhar demanda de muito tempo e energia, mas às vezes precisamos apenas parar e respirar.

- É... - Emma divagou - Nem sempre temos tempo para respirar e parece que sempre que fazemos isso, arranjamos um jeito de nos culpar. Sempre existe aquele sentimento de "eu não deveria ter perdido tempo fazendo isso, quando deveria estar investindo em outras coisas" - a mulher suspirou fundo - Você não é daqui, é? - perguntou e uma das minhas sobrancelhas se ergueu, questionando o que a fez chegar nessa conclusão - Um paulistano já estaria acostumado com toda essa correria - respondeu, me fazendo concluir que ela tinha razão. Minha falta de resposta deu a ela a abertura para me fazer outra pergunta - De onde você é?

Entre Tubos de EnsaioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora