Nossas Cobaias

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Emma

Após muita conversa e argumentos que realmente mereciam ser levados a sério, aceitei que dormir na casa da Regina seria a melhor opção. A morena falou algo sobre sermos monitorados nas dependências dos condomínios disponibilizados pelo Instituto e isso me deixou em alerta. Há alguns meses atrás, eu não acreditaria naquilo, mas hoje, depois de tudo o que Regina me contou, eu entendo o motivo de monitorarem tudo e todos. Era muita sujeira para esconder embaixo do tapete. As palavras ainda gritavam em minha mente. Tudo aquilo era absurdo demais para a minha cabeça e mesmo sabendo que era a mais pura verdade, e que eles poderiam sim ser capazes de todas aquelas atrocidades, ainda era difícil de acreditar. 

Antes de ir se deitar, Regina me informou que eu poderia ficar no quarto de hóspedes do segundo andar, mas eu simplesmente não consegui sair de onde estava. Os relatórios continuavam sobre a mesa junto com o copo e a garrafa de vodka que a morena abriu na noite anterior. Minha cabeça latejava, enquanto tentava processar as informações que eu passei a noite inteira lendo e relendo. Tinha o meu corpo levemente estirado no sofá, enquanto balançava minhas pernas que estavam penduradas. Não consegui dormir, o que resultava em mais uma noite em claro para a conta e mais motivos para a minha enxaqueca atacar. Não sei quanto tempo passei encarando aquele teto branco, mas era nítido pela claridade que adentrava a enorme janela, que o dia já estava amanhecendo. 

Depois de muito pensar, resolvi me levantar e organizar aquela papelada espalhada pela mesa de centro. Juntei as folhas na ordem exata que Regina havia me entregado na noite anterior e deixei o arquivo em um canto. Peguei a garrafa e a guardei onde me lembrava de ter visto a morena a pegar e os copos levei até a cozinha. Por mais que me sentisse estranha, como se estivesse invadindo a privacidade de Regina, não deixaria aqueles copos ali, então resolvi procurar pela bucha da pia e o detergente. Os encontrei dentro da primeira gaveta do gabinete da cozinha. No momento em que girei o registro da torneira, uma música começou a tocar, preenchendo todo o ambiente. De primeira eu achei curioso - até um pouco estranho - mas em seguida agradeci por ser uma música que eu conhecia e gostava. Passos um tanto quanto apressados chamaram minha atenção e logo Regina surgiu próxima a entrada da cozinha. 

— Bom dia, Swan! — me saudou, enquanto intercalava o olhar entre meu rosto e minhas mãos — Você não precisava fazer isso — apontou para os copos que eu havia acabado de lavar. 

— Não me custou nada… — a respondi, procurando por um pano para secar a minha mão — Bom dia!! 

— Me desculpe pela música! Uso o som ambiente da casa como despertador, mas esqueci de levar o controle comigo essa noite — explicou e por algum motivo, eu estava achando aquilo adorável. Por alguns instantes passei a prestar atenção em Regina e não no que ela falava. A morena usava um pijama de seda preto, com calça e blusinha de alça. Por cima do conjunto, um robe aberto na mesma cor — Não era minha intenção te acordar — sua última fala me arrancou dos meus devaneios e eu balancei a cabeça em negativa.

— Na verdade, eu não cheguei a dormir essa noite, então… — dei de ombros e a morena adentrou mais a cozinha — E sobre a música, não se preocupe. Não tem nada melhor do que começar o dia ouvindo Sara Bareilles — Mills sorriu suavemente, concordando comigo e ficamos em silêncio por alguns instantes. 

— Você está lidando muito bem com tudo, achei que surtaria — Regina apoiou os braços na ilha da cozinha e olhou pra mim. 

— Na verdade, eu estou surtando neste exato momento — me encostei na pia e cruzei os braços à frente dos seios — Mas são surtos internos e contidos — sorrimos uma para a outra — Isso que você quer fazer, Regina é loucura! Você sabe disso, não sabe? 

— Sim, eu sei! — a doutora arrumou sua postura e cruzou os braços como eu — Mas, não pode ser uma loucura maior do que a que eles praticam dentro daquelas paredes. 

Entre Tubos de EnsaioWhere stories live. Discover now