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Primavera Morta

Sob a mira da consternação
Nasce uma nova estação,
Esta, morta por completa
Unicamente repleta.

Vida torta...
Que julga-me e joga-me contra a parede,
E sequer abdica resquício de sentimento,
Fico seco, fraco e com sede,
Estagnado e mortificado com o tempo.

Quanta aflição,
O Sol não me renova mais com seu brilho,
Os pássaros já não me seduzem ao cantar.

Talvez seja a solução
Seguir mania como andarilho
Incansavelmente a chegar a algum lugar.

Quanto primavera morta,
Eu continuo aqui,
Esperando se concretizar uma última aposta
Para que finalmente cumpra-se o fim.

Neste corpo, pois, não voam até
o estômago as borboletas,
Não tem mais indício de âmago,
Sobrara-se só um gosto amargo,
Em viver mecanicamente esta vida obsoleta.

As flores não brotarão outra vez,
Morreram uma a uma.
Cada flor, um amor,
Cada amor, uma despedida,
Cada despedida, escassez.
Responsabilidade em suma
Que cada atenuante, à sua, assuma.

Túmulo das flores; predomina-se o furor,
Eu, hospedeiro dos parasitas
A consumirem a boa carne que restou,
Me chamo primavera morta,

Enfraquecida no inverno das mentiras
Que agora não mais importam,
A colheita, entretanto, será maldita
Isso ainda tem graça e ainda me conforta.

Poeta: Mateus S. de Almeida

ALAMEDA DOS POETAS - VOLUME 3 (Concluído)☑️Where stories live. Discover now