8.

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As desculpas vieram uma semana mais tarde, quando ele chamou Remus para tomar um café depois do expediente. Foram esfarrapadas, mas obviamente foram aceitas e tudo foi jogado para debaixo do tapete.
Novembro chegou com pressa, e com ele, o aniversário de Sirius.
Os aniversários de Sirius eram sempre ótimos, ele gostava de fazer algo simples, apenas um jantar entre os amigos mais próximos. Costumava ser algo perfeito, familiar e aconchegante, mas Mary estava cada vez mais difícil.
Como sempre, ele e Emmeline chegaram juntos, ela trouxera uma sobremesa que Lily logo guardou na geladeira. Remus fitou Sirius sentado logo ao lado de Mary com um olhar meio perdido. Os dois se aproximaram para cumprimentá-lo e ele lançou apenas um sorriso que Remus sabia não ser verdadeiro.
Ele não estava feliz.
O mais alto logo foi ajudar Lily e James com a preparação do jantar, como era costumeiro também. Lily fazia questão dela mesma cozinhar nos aniversários de Sirius, sempre um prato diferente. Era seu presente para ele, visto que ele nunca teve isso na vida quando era adolescente, é algo que ela trouxe de Euphemia.
Remus ensaiou a noite toda para entregar seu presente ao amigo, não queria que ninguém mais estivesse com eles quando o fizesse para evitar especulações, ou olhares de pena como os de Lily. Foi difícil, porém, encontrar um momento com ele sozinho, porque Mary não o deixava em paz em nenhum instante. O presente que havia sido comprado em uma loja a alguns meses atrás, Remus encontrou sem estar procurando, apenas viu na vitrine e achou simplesmente perfeito, mas agora na hora de entregar ficou ligeiramente nervoso, pensando que o amigo poderia achar estranho.
— Moony, você sabe que não precisa me dar nada. — A voz de Sirius mudou repentinamente quando Remus apenas mostrou uma caixinha preta para o amigo, na saída do banheiro.
— Eu sei, não é por precisar.
Os dois falavam baixo para não atrair atenção, era quase como se fosse um contrabando.
Ele entregou a caixinha, e Sirius sorriu. Muito.
Ao abrir ele encontrou dois pequenos brincos de argola, um com uma estrela, e um com uma lua.
— Remus... — Sirius sussurrou, sem tirar os olhos do presente. — Eu... eu amei, é perfeito.
A lua era para seu apelido, e a estrela para o nome do amigo. Eram os dois ali em formato de pingentes, e Sirius entendeu, sem precisar de qualquer explicação, e pela sua expressão não havia achado estranho, apenas ficou feliz. Honestamente feliz.
Imediatamente os brincos foram parar em suas orelhas. Eles eram dourados e delicados, e ficaram lindos.
— Perfeitos. — Remus respondeu, demorando um pouco o olhar no rosto do outro, que fez o mesmo.
Voltaram para a mesa ganhando os olhares nervosos de Mary.
— O que você ganhou de Mary de aniversário Six? — Lily perguntou animada.
— Um relógio caro e algumas horas de sexo selvagem. — Mary respondeu, tirando risadas dos amigos.
Sirius riu, mas Remus sentiu que o amigo preferia que ela deixasse aquilo em particular.
Após lavarem a louça (Lily sempre mandava os homens lavarem a louça em seus encontros e eles faziam sem questionar), Sirius começou a beber. Exageradamente. Todos eles costumavam ficar levemente bêbados naqueles jantares, mas quando não saiam ninguém se excedia, era saudável.
Estava divertido no começo.
— Abram a boca todo mundo, nós vamos brincar de adivinhar a bebida!
Quando estavam na faculdade passaram diversas noites jogando aquele jogo. Apenas uma desculpa para se reunirem e se embebedar. Costumava ser divertido.
Lily ficou animada com a brincadeira e trouxe até a mesa tudo o que eles tinham de bebida alcoólica na casa.
— Eu primeiro! — Lily bradou.
Remus riu da animação da amiga. Estavam todos sentados em círculo na sala de estar dos Potter, e Sirius, como sempre naquela época, era o líder.
Escolheu Gin Doce de canela, pensando em enganar Lily Evans, que era expert nesse jogo. Ela fechou os olhos, levantou a cabeça e abriu a boca, deixando Sirius despejar o líquido transparente em sua língua.
— Arghhh! Credo, Black! — Ela disse após engolir, rindo muito e fazendo todos rirem. — Gin. Doce. Aquele de canela.
— Como você consegue, mulher? — Sirius perguntou, rindo com todos, bebendo um gole enorme de Gin.
Eles acertavam, ele bebia. Se alguém errava, precisava beber mais um gole.
Mary era a próxima, ela imitou Lily e Sirius despejou novamente um líquido transparente em sua garganta, fez uma cara de concentração.
— Não faço a mínima ideia! — Ela confessou.
— Sake, meu amor. — Sirius entregou a garrafa verde para ela tomar mais um gole.
As rodadas foram passando, todos se divertindo muito, até que chegou a vez de Remus. Ele pensou que seu amigo iria se esforçar para que ele errasse, estava preparado para o pior. Ergueu a cabeça e olhou profundamente no cinza dos olhos de Sirius, sentindo as já conhecidas borboletas dançarem em seu estômago.
— Feche os olhos, Lupin.
Sirius estava mais bêbado no final da primeira rodada, essa foi a desculpa para ele segurar o queixo do amigo enquanto despejava a bebida que desceu doce pela garganta de Remus, fazendo seu coração acelerar. No meio do processo ele se desequilibrou e acabou derrubando um monte de whisky honey em seu suéter.
— Pads! — Remus bradou.
— Opa, desculpe Moony!
— Whisky Honey. — Remus respondeu, revirando os olhos.
A bebida o fez lembrar de uma noite bem específica. Franziu o cenho e fitou Sirius que bebia um gole enorme da bebida gostosa. Seus olhares se cruzaram rapidamente, e ele deu uma piscadinha provocativa.
— Não vale! Ficou muito fácil esse! — Marlene bradou.
Sirius apenas mandou um beijo para a amiga, e Mary bufou para deixar claro seu descontentamento com a situação toda, fazendo o sangue de Remus ferver. Ultimamente bastava ela abrir a boca para deixá-lo irritado.
— Vou limpar isso aqui, continuem a próxima rodada.
Remus levantou e foi até a cozinha, sentindo o líquido na sua pele. Ele tirou o suéter, ficando apenas de camiseta, de modo a limpar primeiro a parte debaixo. Molhou um pano na pia e começou a passar em si.
— Deixa eu ajudar. — Sirius falou meio enrolado da porta da cozinha.
— Não acredito que esteja em condições de ajudar ninguém, Six.
Ignorando qualquer coisa que Remus falasse, Sirius tirou a toalha de suas mãos e empurrou o amigo levemente para que ficasse encostado no balcão. Passou o pano na região molhada, devagar.
Aquela proximidade fez o coração de Remus acelerar. Estava hipnotizado assistindo Sirius o limpar, certeza de que seu rosto estava corado e não havia forças para pedir para ele parar.
— Prontinho. — murmurou.
Sirius ficou na ponta dos pés e deixou um beijo no rosto de Remus.
Não. Não no rosto. No canto da boca.
O rapaz saiu e deixou Remus congelado e sem reação alguma, ainda sentindo a boca gelada do outro em seu rosto.
Ele ouviu gargalhadas vindo da sala, o que fez ele acordar, limpar e vestir seu suéter e voltar para lá.
Sirius conseguiu ficar ainda mais bêbado, o que preocupou Remus e James, que se olhavam cada vez que o amigo virava a garrafa de whisky garganta abaixo. Mary não falava absolutamente nada e aquilo estava dando nos nervos dos amigos.
— Sirius, acho que está na hora de trocar essa garrafa por essa outra aqui. — James sugeriu, cuidadoso, com uma garrafinha de água em mãos.
Sirius recusou.
Na hora de ir embora, é óbvio que Sirius e Mary brigaram. Ela puxou o rapaz de cabelos compridos para fora da casa, ele estava sem condição alguma de discutir qualquer coisa, mas mesmo assim ela insistia em fazer da vida dele um inferno.
Os amigos deixaram o casal na parte de fora da casa, Lily aumentou o som da música e eles esperaram, como costumavam fazer quando acontecia.
No final das contas, Mary se despediu de todos e saiu, entrando no Uber, deixando Sirius para trás.
— Que ótimo! — Lily suspirou.
— Eu queria entender esses dois, realmente queria. — James comentou. — Pads, quer dormir aqui essa noite?
Todos foram para a parte de fora do apartamento, vendo Sirius encostado na mureta, fumando um cigarro. James rapidamente cobriu o amigo com o casaco pesado de inverno.
— Eu vou para casa, já que minha querida e amável namorada me deixou aqui sem nem se despedir, no dia do meu aniversário. Feliz vinte e sete anos para mim.
Sirius estava cada dia mais melancólico e Remus simplesmente odiava aquilo. Lembrou de quando eram adolescentes e ele ainda morava na casa dos Black, usava frequentemente a bebida como fuga. Ou isso, ou se isolava de todos, era assim que ele tratava de seus maiores problemas.
— Vem Pads, eu levo você, vamos andando, pode ser? — Remus sugeriu num tom alegre, tentando melhorar um pouquinho o sentimento ruim que ele sabia estar dentro de seu amigo.
— Não precisa Moony, estou bêbado, não invalido, e não quero atrapalhar sua noite. — Ele lançou um olhar amargo para Emmeline.
Ignorando a resposta dele, Remus enganchou o braço em sua cintura magra e automaticamente, mesmo sem querer, ele colocou os braços sob seus ombros. Emmeline se juntou a eles, se despedindo dos amigos.
— Isso é um convite para hoje à noite? — Sirius perguntou, sorrindo ladino.
Emmeline riu alto, enganchando um braço em Sirius.
— Sabe que não seria má ideia, sou aberta a experiências diferentes.
— Em! Não piora a situação! — Remus grunhiu.
Ela riu mais ainda. O caminho foi tranquilo, eles ficaram em silêncio, mas era confortável. Logo chegaram até a casa de Emmeline, se despediram cordialmente. Remus esperou ela entrar em casa antes de seguir viagem.
Eles chegaram no apartamento de Sirius quinze minutos depois e Remus estava congelando. Pegou as chaves do bolso do amigo e abriu a porta rapidamente, tomado pelo conforto do apartamento quentinho.
Ele soltou Sirius, que foi direto até a cozinha para se servir de um copo de água e pegar algum remédio no armário. Remus tomou a liberdade de fazer um chá para si mesmo antes de ir embora. Seu amigo parecia mais sóbrio, seria seguro voltar.
Ele deveria ir embora. Naquele mesmo instante.
O clima estava tenso, Remus sentia-se nervoso. Sua mente também não estava totalmente sã, e estava cansado. Cansado demais. O silêncio era pesado.
Sirius estava esperando, encostado no balcão enquanto Remus tomava seu chá sem olhar realmente para ele. Seus nervos estavam à flor da pele, parecia que todo o ser estava aceso para qualquer movimento que o outro fizesse.
Estava cansado demais de pensar e de frear seus sentimentos. Exausto, até, poderia dizer. Por esse motivo, quando soltou a xícara na pia e sentiu Sirius se aproximando, ele ignorou todos os pensamentos que diziam que ele precisava ir embora e ficou.
- Six... - Ele sussurrou quando Sirius estava em sua frente, tão perto que conseguia sentir seu hálito doce.
Sirius colocou as mãos delicadas em seu rosto. Era mais baixo que ele, então precisou ficar na ponta dos pés para beijá-lo. Foi primeiro apenas um selar de lábios, como se estivesse com medo.
Os olhos cinza se levantaram para encarar os quase amarelos de Remus, que cansado do jeito que estava, decidiu mandar tudo a merda. Segurou Sirius pela nuca e novamente selou suas bocas, num beijo faminto e intenso demais para sua sanidade.
Sirius abriu a boca e procurou com sua língua a de Remus, arrastando-a deliciosamente contra a sua. Automaticamente as mãos do menor começaram a abrir os botões da camiseta dele, enquanto Remus derrubava o casaco e a camiseta de Sirius no chão.
Ele começou a conduzir Remus pela casa, até que eles se encontrassem em seu quarto. Não disseram nada enquanto Sirius abria o botão de sua calça, a puxando para baixo com destreza, sem nem tirar os lábios dos do mais alto.
Com um leve empurrão, Remus caiu na cama enorme de Sirius, que subiu por cima dele, ambos já usando apenas a roupa de baixo. Sem pudor algum, Sirius se movimentou, pressionando-se deliciosamente em cima do outro, como se tivesse feito aquilo a sua vida inteira. Estavam ambos excitados. Remus, na verdade, pensou que nunca havia se sentido tão excitado em toda a sua vida.
Ele segurou firme na cintura do outro, vendo estrelas a cada vez que Sirius se movimentava. Este, por sua vez, estava uma bagunça de gemidos gostosos que faziam Remus ficar cada vez mais próximo de seu clímax.
Tudo o que Remus conseguia fazer era passar a mão pelo seu corpo e beijar seu pescoço, certamente deixando marcas que seriam visíveis de manhã. Não era muito prudente, mas não havia qualquer pensamento racional em sua mente agora, apenas desejo.
— Moony, eu... — Sirius disse com a voz falha, olhando dentro dos olhos amarelos.
Soltou um último gemido alto quando chegava ao clímax. Aquela imagem e a pressão feita em Remus o fez seguir Sirius logo depois, fechando os olhos enquanto a sensação gostosa tomava conta de si.
Pareceram apenas segundos.
Sirius deitou-se ao seu lado, ofegante.
Imediatamente Remus tomou consciência do que fizeram, sentindo algo estranho. Era um sentimento ambíguo. Primeiro estava maravilhado pelo que acontecera, os gemidos de Sirius ainda frescos em seu ouvido. Segundo, estava apavorado pelo que fizera. Sirius estava bêbado, eles deveriam ter parado no segundo que começaram, mas tudo se escalou de forma tão rápida que não teve forças para evitar. O pior era que havia sido perfeito, tudo encaixava perfeitamente com Sirius. E fora ele que iniciou, no final das contas.
Olhou para o lado e viu o rapaz já dormindo, tranquilamente, com o vulto de um sorriso nos lábios.
Decidiu que seria melhor se não estivesse ali pela manhã. Certamente haveriam arrependimentos, e ainda corria o risco de Mary aparecer.
Levantou-se em silêncio, vestiu suas roupas e foi para sua casa, mas não sem antes deixar um beijo na cabeça de Sirius, como se ele fosse saber que ele estava indo embora para o bem de ambos.

Velhos AmigosWhere stories live. Discover now