🦻🏻- Prólogo.

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"O amor é cego, surdo e mudo. Cego pois Jimin não consegue ver a maneira como o desejo. Surdo pois ele não pode ouvir meus suspiros quando me abraça e eu sinto seu perfume de baunilha. E bem, mudo pois não sou capaz de dizer o quanto o amo."

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Jimin pov

O bom de ser quase cem por cento surdo é que eu não preciso escutar as pessoas falando mal de mim. Nesse exato momento, por exemplo, tem um garoto sentado em uma mesa logo a minha frente. Ele está cochichando com outro garoto, um pouco mais baixo e loiro.

Ele cochicha enquanto olha pra mim.

Olho para minha mãe com os olhos de cachorrinho, em rendição. Ela apenas balança os ombros e continua contando os poucos troquinhos do caixa.

Eu respiro fundo. Afinal, ambos os garotos são muito bonitos. Muito mesmo. Limpo minhas mãos no avental preto e pego a bandeja, caminhando em direção à mesa três, onde eles estão.

Com o melhor coreano que sei falar, abro minha boca e largo um "boa tarde, o que desejam?". Se falei certo? Não tenho nem ideia.

Não fui sempre deficiente auditivo. A minha audição foi se despedindo de mim ao longo dos anos e, se eu não usar um aparelho auditivo logo, não vou escutar mais nada.

Antes, quando eu era menor, escutava as coisas quase perfeitamente. Um pouco baixo, mas entendia. Não ligava pra nada além dos meus brinquedos e dos abraços do meu pai. Ele me ensinou a falar para quando eu não pudesse mais ouvir a própria voz, pelo menos me lembrar de como ela foi um dia.

Olho para o menino alto dos cabelos castanhos e percebo que ele está falando comigo. Olho para o loiro com uma cara confusa, depois olho de volta para seus olhos de jabuticaba.

Ele não deve ter lido a plaquinha no meu pescoço.

O loiro abre a boca pra falar. Acho que ele avisa que eu não estou ouvindo e dá um tapa na cabeça do maior. O moreno esfrega a mão na cabeça e sorri pra mim, constrangido. Nessas horas eu me sinto curioso para saber o que eles estavam conversando.

Eu aponto para a plaquinha que dizia "Não ouço. Por gentileza, aponte no cardápio o seu desejo". Ele assente e aponta para uma fatia de pizza de calabresa e uma coca-cola. Saudável.

O loiro não pede nada além de um café preto. Ele estava de terno e parecia ser bem rico. Já o moreno estava com uma roupa simples, mas não desleixada.

Dou meia volta e vou preparar os pedidos. Esquento a pizza e passo o café. Enquanto espero minha mãe buscar a coca lá atrás, coloco meus olhos nas jabuticabas do menino. Seus olhos eram viciantes e encantadores. Ele tinha uma pintinha debaixo da boca, uma na bochecha e outra no pescoço. Tinha também uma cicatriz na bochecha bem perto do... merda.

Sinto minha mãe me cutucar e apontar para o café que estava todo virado no balcão. Desligo a máquina e olho bravo para o menino das jabuticabas, esse que está rindo para mim enquanto o loiro revira os olhos e dá outro tapão no maior.

Dessa vez ele revida e eu jurei sentir o tapa no meu próprio pescoço.

Sirvo outra xícara de café para o menor, um copo de coca e coloco tudo na bandeja, ja levando para a mesa três.

Um pouco antes do meu expediente acabar, os meninos fazem seus pagamentos e acenam para mim, amigavelmente. Eu apenas sorrio, mas apenas o menino das jabuticabas estava virado para ver.

E então ele sorri de volta.

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É isso meus amores, espero que tenham gostado! Beijinhos ❤️

O Som da Sua Voz • PJM+JJK•Onde as histórias ganham vida. Descobre agora