6-Poncho

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Às 19 horas, Core ouviu a campainha tocar e foi até a porta do quarto, tentando ouvir a conversa.

- Boa noite, senhora Rondel, eu poderia falar com a Core? - O rapaz falava enquanto fazia carinho no cachorro da garota, Auau.

A mãe da jovem, como combinado, disse que ela não estava, mas fez um sinal discreto apontando para cima.

Poncho agradeceu, e a porta foi fechada.

Core se sentou na cadeira de escritório cor-de-rosa em frente à mesa branca com seu notebook da mesma cor e prendeu a respiração por 5 segundos até ouvir três batidas, e Poncho já estava sentado em sua janela. Isso não foi uma grande surpresa, já que o rapaz havia feito 3 anos de parkour, enquanto Core, no meio de tantos internações, só havia frequentado algumas poucas aulas.

- Por que mandou sua mãe dizer que não estava? - Perguntou o rapaz, ainda sentado na janela, tirando o boné de policial e deixando à mostra o rabo de cavalo.

Poncho sempre usava boné ou outros tipos de chapéus que faziam parte de seu uniforme para que não vissem seu cabelo grande, vendo apenas a parte devidamente cortada.

- Eu não sabia o que dizer depois daquele beijo - Core olhou para o chão, tentando evitar o olhar do rapaz.

- Por que não gostou? - Poncho tentava entender o que estava acontecendo.

- Não é isso. Não quero que fique comigo por pena - Core falou ainda de cabeça baixa.

- Você está louca? Já te pedi em namoro três vezes - O rapaz, dando impulso, pulou para dentro do quarto da garota e sentou em sua cama.

- Uma quando eu acabei de saber que tinha câncer, outra enquanto segurava meu cabelo para eu vomitar e outra enquanto raspava meu cabelo. Como eu poderia esquecer? - Falou a garota, olhando para o notebook.

- Meus pais me ensinaram que é nos momentos difíceis que conhecemos quem verdadeiramente está ao nosso lado. - O rapaz foi até a cadeira de escritório e rodou, fazendo com que a garota não ficasse mais de costas para ele. - Eu sou apaixonado por você desde os 10 anos de idade; com 15 anos entrei na academia porque ouvi a Milena falando com você que o mínimo que poderia esperar de um garoto é que fosse forte o suficiente para te proteger.

- Milena só fala besteira - Core falou revirando os olhos.

- Quando tirei a carteira de motorista, pedi para que minha mãe usasse o dinheiro que estava juntando para minha faculdade e comprasse um carro, pois seu pai viajava muito e você, como andava muito doente, precisaria de um carro à disposição. Não entenda mal, não estou jogando nada na sua cara, só quero que entenda que não é pena, eu sempre gostei de você. Era difícil te ver saindo com os garotos na escola.

- Também não foi fácil ver você ficando com outras garotas, e muito menos namorando a Milena - Core encarou o chão, e sua voz saiu quase inaudível.

- Só namorei com ela porque você havia me dado um fora pela terceira vez. Você não queria namorar comigo, e a Milena queria. Eu não sabia que ela fazia bullying com você, você nunca havia me contado, e passou pela minha cabeça que eu poderia ensiná-la a ser uma pessoa melhor. Porém, como nos outros namoros, bastou você ligar falando que estava passando mal, e eu a levei para casa para ver como você estava. É claro que ela terminou comigo, como todas as outras meninas que namorei. Nenhuma mulher está disposta a ser a segunda opção. Eu te amo, mas tenho uma vida, e um dia eu posso cansar de ficar correndo atrás de você feito um cachorrinho - Poncho falou deitando na cama da moça e encarando o teto.

- Desculpa, nunca foi minha intenção. Não quero jogar meus problemas em cima de você. Sei que você se lembra que há alguns anos atrás tive um diagnóstico dizendo que estava curada, e meses depois eu estava internada novamente. Penso nisso o tempo todo. Vamos fazer uma coisa: vou tentar melhorar minha cabeça, eliminar esses pensamentos ruins, e assim que eu estiver melhor, eu te dou uma resposta.

*Toc, toc, toc.*

- Amores, trouxe um cafezinho para vocês - A senhora Rondel trouxe um café expresso para Poncho e um cappuccino para Core.

- Obrigado, senhora Rondel, seu café é maravilhoso - Poncho falou sorrindo e sentando na cama branca com cobre-leito rosa da garota.

- Poncho, o que você acha de trazer umas roupas e deixar aqui em casa, ou pelo menos colocar umas roupas na mochila para quando vier aqui, poder trocar de roupa? Não gosto nada de você de farda em cima da cama da minha filha, sei lá com que sujeira deve estar essa farda: sangue, terra de cemitério ou...

- Pode deixar, senhora Rondel, eu trago outra roupa, mas se te deixa mais tranquila, não fui em nenhum cemitério hoje - Poncho interrompeu a mãe de Core enquanto se levantava para pegar seu café na bandeja que a senhora Rondel havia colocado em cima da mesa de cabeceira.

Foi quando o senhor Rondel, ouvindo o barulho vindo do quarto, foi até lá e, vendo Poncho, ficou curioso e falou.

- Senhor Fernandes, boa noite. Que engraçado, não te vi chegar.

- Cheguei há mais ou menos uma hora.

Os demais seguraram o riso.

- Tem alguma notícia sobre a menina Petit? - Senhor Rondel perguntou, encostando-se no batente da porta.

- Nada conclusivo. Lara foi morta por uma faca da sua própria casa, que foi deixada no local do crime, sem nenhuma digital.

Core poupée, a Garota do Cabelo de Boneca( +18)Where stories live. Discover now