9: De Pai Para Filha

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Bem que eu avisei para ficar em casa assistindo desenhos, mas criança é fogo e puxando-me pelo braço fomos para pracinha.

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Tarde ensolarada de domingo, calmaria que não pode ser interrompida por nada, pensava eu, pensava!

Chegamos no local, e pra mim que sou pai solteiro, existem algumas vantagens de ir na pracinha, uma delas é observar as mães, a outra é observar a monstrinha se
divertindo sem precisar me utilizar de amiguinha para brincar de bonecas.

E estava tudo nos conforme, até um pequeno demônio resolver mostrar toda sua insuportabilidade devido as 5, 6 anos de mimos compulsivos e irreversíveis causado por seus pais.
O pivete começou a empurrar e chacotear a minha filha, do outro lado da cerca a mãe alertava, "Enzo, não faz assim meu amor" enquanto o pai do menino mexia no celular, com um semblante que esbanjava a vontade de morrer.

Chamei minha filha, e fomos comer uma pipoca, enquanto eu dava uns conselhos para acalma-la.
"Não fica triste filha, provavelmente aquele guri vai acabar na cracolândia antes dos 18."

[Não! É claro que eu não falei isso pra ela, mas (confesso) pensei.]

Por mim eu já teria ido embora, mas ela queria insistentemente andar de balanço, e dando mais uma chance fomos lá.
Quando ela ia sentar no balanço, o moleque se atravessa na frente, senta e fala: "É meu, é meu, cheguei primeiro" mostrando a língua.
Olhei para os pais do maldito, e nenhuma reação...
Coloquei o meu pé na nuca do moleque, e estiquei a perna em um movimento bruto, fazendo aquele pobre corpinho dar uma volta completa no ar, antes de cair seco
de costas no chão.

Chorou tão alto, que na sequência não conseguia nem respirar. Os pais ficaram chocados, iam correr até mim
para tirar satisfação, mas no caminho preferiram socorrer o pobre Enzo, já roxo.

Berreiro estabelecido no local, algumas mães falavam aos
cochichos, "moleque era chato mesmo!", com toda a tensão na pracinha e aproveitando a deixa, duas mães mais a frente começam a sair no tapa, o que acabou gerando uma briga generalizada.

Vendo o medo nos olhos de minha filha, tentei acalma-la dizendo "viu filha, adultos também brincam de lutinha".

Nisso o pipoqueiro fala, "Acabou a palhaçada!" e puxa um REVOLVER dando três tiros para cima. Alvoroço e correria geral, mães arrastando os filhos pelas pernas e choradeira
por todo lado. Rapidamente peguei minha filha e entramos túnel do escorregador, ficamos ali quietinhos
esperando a confusão terminar.

Não sei bem o que aconteceu, enquanto ficamos confinados dentro daquele duto, mas quando resolvemos
sair, o pipoqueiro estava morto no gramado da pracinha, nos comércios ao redor, curiosos olhavam assustados os policiais isolando a área.

Um policial veio até nós:
- Vocês estão bem?
- Sim, sim, estamos bem... Mas veem cá. . . Da pra andar de balanço ainda?

...Voltamos frustrados pra casa.

Contos: Amoralidade Nas EntranhasWhere stories live. Discover now