Capítulo 13- Train call

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Um dia negro se pusera sobre Sicília, terra do Sol escaldante do verão dos deuses que iluminaria as heranças do passado, quer fosse ele romano, renascentista ou até da era industrial do século XIX. A catedral estaria tapada pelo forte nevoeiro daquela manhã húmida de verão, onde o tempo tropical dominava a costa siciliana, as nuvens negras apenas deixavam passar uma radiação indireta do Sol que tentava iluminar o mar e a terra humana... A névoa húmida não só tapava Sicília, assim como também tapava as montanhas, o mar, e qualquer visão num raio de 500 metros dos olhos que qualquer pessoa que andasse pelas ruas na manhã de 3 de Setembro de 1939.

Apenas se ouvia um murmuro no ar, o típico barulho das ruas vivas de Sicília fora dissipado pelos suspiros dos que não tinham forças para falar pela desgraça sentida nas almas dos que partiam, dos que ficavam e dos que fugiam... na praça principal estaria uma multidão de pessoas, famílias inteiras juntas, de onde se ouviam murmúrios, choros, despedidas ou apenas silêncios sólidos, frios e mais dolorosos do que qualquer bala disparada...

Giovanna e Milena estariam no meio daquela atmosfera melancólica, vestidas de cores neutras, entre o preto e o branco, com apenas uma mala de viagem na sua mão com o mais importante, sem as suas famílias que estariam ainda a arrumar as suas coisas, á espera de Andrea que marcara com ambas a catedral como ponto de encontro antes da partida para a estação central.

Por entre a névoa, Giovanna e Milena avistavam Andrea, vestida em vestes cor verde tropa, vestes estas que não correspondiam às vestes das forças armadas, mas que não seriam alegres ou a condizer com o estilo da mesma. Esta apenas limita-se a levantar o braço para marcar a sua localização, indo para perto das amigas.

-Estão prontas? - apenas pergunta Andrea, chegando perto delas e abraçando-as. Um abraço caloroso entre amigas, que seriam afastadas por uma guerra que se aproximava.

-Sim, as nossas famílias encontra-se connosco enquanto apanhamos os passaportes na estação, vamos contigo.

-Certo, iremos depressa- diz Andrea não querendo desperdiçar qualquer minuto que pudesse ainda passar com Arlet e Diego.

Na estação central, igualmente coberta pela atmosfera melancólica e negra proporcionada pela névoa e nuvens carregadas de mais um dia atípico de Sicília, em conjugação com o fumo dos 2 comboios que estavam parados na mesma, onde multidões estariam á porta dos mesmos a falar, despedir, abraçar e a recordar belos momentos que teriam passado, mães chorariam pelos seus filhos, amigos despediam-se dos seus amigos, vizinhos de vizinhos, uma vila a despedir-se dos seus habitantes era o que se via.

No meio da mesma, perto de um dos pilares de pedra cinzenta que sustentava os telheiros da estação, Diego e Arlet esperavam pela chegada das restantes, Arlet de vestes castanhas escuras e leves, já Diego de fato militar negro, de patente mais elevada pelo que parecera, constituída por calças chino negras, uma camisa branca e um blazer estilo comandante por cima. Andrea avistara ambos e num piscar de olhos, estavam os 5 reunidos em frente aos dois comboios, que tinham apenas a plataforma onde as pessoas se encontravam no meio, paralelos um ao outro, apontados para lados opostos, prontos a seguir caminhos opostos.

-Diego! Arlet! - diz Andrea acenando, atraindo a atenção dos mesmo para a chegada das 3.

Após cumprimentos rápidos com abraços apertados e beijos em bochechas quentes, Diego perguntara.

- Têm tudo o que precisam?

Giovanna e Milena apenas acenavam a cabeça que sim.

-Ok, aqui tem os passaportes, - diz retirando o bolso de dentro 2 documentos, com a declaração de cada encargo familiar, dando os respetivos a Giovanna e Milena- vão numa embarcação que sai no cais daqui a 2 horas, chama-se "Lord" e vai levar-vos diretamente ao Porto de Setúbal, uma cidade debaixo da capital, lá encontraram um contacto meu que vos ajudara a assentarem-se.

𝑳𝒂 𝑳𝒂𝒄𝒓𝒊𝒎𝒂 𝒅𝒊 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂Where stories live. Discover now