Epílogo: que a esperança de Obi-Wan Kenobi esteja conosco!

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SANA ABRIU A porta do apartamento com a ansiedade transbordando de seu peito. Está eufórica, meio com medo e surpreendentemente hesitante ao ponto de sentir-se tola. 

Se arrastou com urgência, batendo a limiar com o pé para que fechasse sem a necessidade de soltar as sacolas do supermercado. Ela trancou em meio de mãos trêmulas, xingamentos fracos e com um sorriso débil no rosto corado. 

A primeira coisa que notou, foi o ambiente vazio; a sala e cozinha sem qualquer sinal de vida e mal iluminadas pelas janelas que davam visão à quadra de esportes do prédio. 

— Mina? Querida, já está acordada?

O silêncio deixou evidente tudo que precisava saber naquele átomo. Tirou os sapatos e as meias, entrando em contato com o piso de madeira e respirando aliviada, porque finalmente poderia relaxar depois da agitação no trabalho. 

Pisou com cautela, não querendo causar qualquer ruído no ambiente que resultasse em acordar a namorada. Afinal, Mina estava muito atarefada nos últimos meses desde que mudou de emprego na área que se formou; aquele era um dos raros dias da semana que decidiu faltar, dando a desculpa para seu chefe que acordou com torcicolo (o que era mentira, mas ele não precisava saber). 

Era um ultraje necessário na visão de Sana, que notou há semanas a forma que a mais nova estava sobrecarregada e desanimada com o novo emprego. 

Permanecia preocupada: as olheiras fundas, os choros de madrugada e os desabafos de que não estava conseguindo se adaptar com os colegas, a pressão e a falta de tempo para ficar no apartamento consigo e com o Senhor Ketchup.

Sana tentava ao máximo animá-la, porque independente de tudo, a morena estava saindo da zona de conforto, conhecendo novos lugares, pessoas e tarefas. Era comum se assustar. 

Por isso, sempre tentava encorajar a namorada no final do dia; por trabalhar apenas no jardim de infância e dando aulas extras à criançada do fundamental pela manhã até o meio-dia, quando voltava ao apartamento, limpava e organizava, preparava algo bem elaborado para elas (tinha aprendido há pouco tempo cozinhar sem colocar fogo em alguma coisa) e ficava à espera de Mina para que pudesse transmitir todo carinho, respeito e amor que tinha. Logo passariam por esse período tumultuado, era irrefutável. 

Um miado dramático a trouxe de volta à realidade. Ao que abaixou a cabeça, enxergou o felino todo serelepe indo na sua direção para roçar o corpinho na sua perna, ronronando com devoção em um "estava com saudades, humana". 

— Oi, bebê! — ela sussurrou com empolgação. — Me dê um minuto...

Se atrapalhando com as sacolas, se agachou, afagando os pelos do gato, que deixou um miado lânguido surgir, empinando o traseiro e arrastando a cabeça na barra de sua calça flare.

— Mamãe ainda está dormindo? — Senhor Ketchup miou, erguendo a cabeça quando escutou a voz direcionada para ele. — Ei, por que não se deitou com ela? — Mais um miado. — Vamos lá ver?

Sana deixou a mochila caída perto do sofá, depositando as sacolas na mesinha de centro e a chave no pote que elas deixavam agora para isso. Então se levantou e foi na direção do quarto delas – antes, tirando a jaqueta e a deixando no cesto de roupas sujas quando passou na frente do banheiro. 

— Mittang te deixou para fora? — Indagou, olhando o felino à medida que abria a porta. — Que balde de água fria, hein? Você adora quando ela fica em casa para receber  carinho... — Os olhos verdes do gato estavam com as pupilas dilatadas, as orelhas se mexendo em alerta e o rabo dançando lentamente, tudo sendo compreendido que estava ansioso para entrar. 

Lei de Murphy  (misana)Where stories live. Discover now