Brandura eloquente

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ENQUANTO TOMAVA BANHO, tentou não pensar tanto em como era bom demais para ser verdade.

Haviam voltado a se falar. Apesar disso, as palavras de Nayeon eram um alerta. Precisava dizer logo. Pelo menos para que colocassem limites ou coisa parecida; Mina chegar nela para falar sobre garotas não seria a melhor conversa delas. Certamente que não seria.

Tinha que entender, afinal. Uma hora, Mina iria morar com uma namorada, iria querer constituir uma família ao lado de quem fosse a sortuda e não queria estar perto quando viesse a notícia.

Doía tanto, não podia negar. Era doloroso, pesado e brutal. Elas não seriam nada além de amigas. Causava desespero, fragilidade e medo de não ser forte o suficiente para superar. Era uma mulher sentimental demais.

À medida que tentava parar de pensar tanto, já estava no quarto, vestida com o pijama enquanto terminava de pentear o cabelo.

Precisava falar. Acima de tudo, eram amigas e contar o óbvio também tinha a sua obrigação. Talvez iriam descobrir uma solução para esse problema.

A Minatozaki se virou em direção da porta para que voltasse à cozinha. Mas antes disso, franziu as sobrancelhas em confusão e curiosidade quando Mina abriu a porta, meio acanhada no lugar.

Ela tinha escutado Sana abrir a porta do banheiro depois do banho, inquieta na sala após tirar a pizza do forno.

— Tenho outra coisa para dizer — confessou, o coração lépido no peito. — Não disse tudo sobre o meu encontro.

Sentando na cama, Sana pressionou os lábios e engoliu em seco, controlando a careta que quase se formou. Seria rude caso viesse a assumir que não queria saber. Não era a intenção descobrir o que tinha acontecido entre ela e Chaeyoung. De forma alguma.

— Não precisa dizer caso não queira — tentou.

Mina permaneceu na soleira, os ombros encolhidos e os olhos vacilantes.

— Eu beijei ela — murmurou tão baixo que se não fosse pelo silêncio no apartamento, a mais velha jamais teria escutado. — Nos beijamos e eu a convidei para passar a noite aqui, comigo.

Eu sei, Sana pensou. Eu vi a meia na maçaneta.

Se sentia tão mal e que choraria pelo acontecido, que foi o necessário para que a morena virasse a cabeça para tentar barrar a vontade gritante de chorar. Era uma dor horrenda, seu peito doendo de um modo mórbido. Sentia-se uma adolescente delinquente.

— Mas não fizemos nada. Eu não consegui...— porque não era você. Beijar ela não foi a mesma coisa quando beijei você, Mina pensou. Ela pensou e não conseguiu dizer.

Sana torceu muito para não deixar evidente o que sentiu. O alívio que lhe percorreu até a alma. Acalme-se.

— Você não conseguiu?

Mina concordou com a cabeça, os lábios pressionados quando sentiu o gosto das lágrimas. Mas antes que deixasse visível sua fragilidade, percorreu o quarto em uma ação rápida, os braços envolvendo com urgência a melhor amiga. O rosto vermelho pelo choro ficou escondido na camiseta da japonesa mais velha e o soluço que veio causou mais surpresa em Sana.

Ela não era você. Ninguém será igual a você.

Admitir em voz alta que estava gostando da melhor amiga mais do que era para uma melhor amiga gostar, evidentemente causava uma euforia em Mina que a deixava sem fôlego. Não era para isso acontecer.

Na noite passada, na qual tentou esquecer um pouco o modo que ficar sem falar com Sana a estava torturando, sair com Chaeyoung foi uma tentativa fraca que colocou em prova o porquê de estar tão irritada por ter sido enganada com uma mentira fajuta de que elas precisavam parar de fazer o que estavam fazendo; que estavam precisando conhecer novas garotas.

Lei de Murphy  (misana)Onde histórias criam vida. Descubra agora