Como uma moeda

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EU NÃO SABIA o que fazer...!

— Vocês duas estavam dormindo juntas e você não sabia como ia dizer que é apaixonada por ela desde o colegial?

Sana encolheu os ombros e abaixou a cabeça, sua ação deixando visível que não era o melhor momento para levar um sermão de Nayeon.

O que não passou despercebido pela Im, que no mesmo átomo desfez a carranca e suspirou derrotada, porque morria de pena da companheira.

Estavam na praça de alimentação da faculdade, afastadas das outras universitárias e – com urgência – longe de Mina.

Acontece, para ser mais exata, Sana não tinha trocado qualquer palavra com Mina desde o término do trato delas. E o fuzuê havia ocorrido há seis semanas. Quarenta e dois dias sem conversar com a sua melhor amiga.

Era um pesadelo.

Sana estava péssima. Os dias tinham passado à base da urgência em ganhar notas nas provas finais, ganhar um estágio em uma escolinha e fazer seu trabalho de conclusão de curso sem pirar tanto; tudo executado com os pensamentos de que havia perdido a melhor amiga.

Mina não lhe direcionava uma palavra sequer. Quando se encontravam no apartamento, a mais nova simplesmente fingia não notá-la no ambiente (embora ainda quando fazia comida, sempre deixava um prato no micro-ondas com "Sana" escrito em um post-it), erguendo o queixo e fixando o olhar em qualquer lugar, exceto ela.

Nos finais de semana – sendo os únicos dias em que elas ficariam sob o mesmo teto o tempo todo, a Myoui permanecia no quarto, saindo apenas para tomar banho e comer alguma coisa.

Era um clima desconfortável para ambas.

Por um momento, quando tentou arrumar as coisas entre elas, Mina murmurou que ainda não conseguia. Porque estava chateada e também que não entendia o porquê de esconder a verdade.

Mas Sana não tinha estruturas cabíveis para dizer o motivo. Não, porque o medo de fazer Mina repudiá-la pesava mais do que uma bigorna maldita.

As semanas foram angustiantes, sofridas e deploráveis. Chorava por culpa de Mina, era fodidamente apaixonada e ficar sem dialogar com a melhor amiga lhe causava noites mal dormidas, rosto inchado de tanto chorar e falta de atenção em suas tarefas diárias.

Cogitou a possibilidade de se mudar, voltar a morar com seus pais ou coisa parecida. No entanto, faltava pouquíssimo tempo para sua faculdade chegar ao fim; a intenção era arrumar emprego definitivo no mesmo colégio que fazia o estágio, era perto e futuramente mudaria de apartamento.

— Ok, então tente dizer a ela o mais cedo possível. É melhor para vocês — Nayeon comentou, levando a garrafa de água até a boca.

Sana passou as mãos no rosto abatido, colocando alguns fios castanhos atrás das orelhas. Tinha voltado para a cor natural recentemente, após perceber que não estava tendo tempo — e cuidado – necessário para se manter loira. Mal cuidava de si atualmente, parecendo um zumbi. Seria imprudência continuar com os fios descoloridos.

No dia em que tinha voltado ao apartamento depois de passar no salão para mudar de visual obrigatoriamente em prol da estética que ainda tentava mantê-la no mesmo nível – embora as olheiras deixassem quase palpável o seu estado emocional –, Mina estava na sala resolvendo algumas questões da faculdade. Assim que entrou no cômodo e pegou o carregador do celular na mesinha em que a mais nova estudava, ela lhe direcionou o olhar, franzindo os olhos pela cor castanha, porém sem dizer nada a respeito.

Sana ficou insegura com a possibilidade daquela cor não combinar mais consigo depois de tanto tempo com o cabelo loiro. Entretanto, foi questão de mandar uma breve foto para Nayeon questionando o que achou, para receber uma resposta positiva em segundos.

Lei de Murphy  (misana)Onde histórias criam vida. Descubra agora