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VINNIE HACKER

Essa semana passou voando. Hoje é sexta-feira de tarde e eu - para variar - estou praticamente sozinho no internato. Os alunos sempre voltam as suas casas depois que as aulas acabam, nem mesmo almoçam na escola; Troy na maioria das vezes almoça comigo e hoje não foi diferente.

Eu e meu amigo planejamos durante a semana inteira o pedido de namoro ideal para Nailea, desde a roupa que eu deveria usar até as palavras que deveria falar. Estou ansioso de fato, porque quero ter ela de uma vez só pra mim e pra sempre.

"Ok, chaves do carro e celular nos bolsos da calça, aliança e rosas" penso, pegando as coisas nas mãos. Sim, Zarbruh me obrigou a comprar rosas.

Estava de frente para a escrivaninha perto a parede, então me viro e vou em direção a porta, girando a maçaneta da mesma. Quando ela se abre, tomo um susto, sinto meu coração bater deacompassadamente; minhas mãos tremem e cambaleio para trás, deixo cair no chão todas as coisas que segurava. Minha mãe estava parada ao lado de fora. Ela mesma, Maria Hacker. De cabelos loiros escuros e olhos claros. Sua aparência não mudou em nada desde a última vez que a vi.

Lembram de quando eu falei "ela vem me visitar raras vezes"? Pois é, isso não acontecia a mais de um ano e meio. Todas as vezes que ela veio me visitar, me avisou pelo menos uma semana com antecedência e eu podia me preparar psicológicamente para vê-la mas dessa vez pelo jeito, é diferente. Não estou entendendo absolutamente nada.

- Ah, não precisei nem bater, que bom. - Então ela passa rapidamente por mim e adentra ao meu quarto, sem nem ao menos olhar em meus olhos.

Não é que eu não queira ver minha mãe, é só... Estranho? Talvez, não sei.

- O que você está fazendo aqui? - Pergunto com a voz trêmula.

- Te ver filho. Estava com saudades! - Maria vem me abraçar calorosamente e eu tento retribuir mas não consigo.

- Por que não avisou que vinha?

- Preciso avisar? Além do mais, queria fazer uma surpresa.

- Eu tenho compromisso agora, precisa avisar pra evitar esse tipo de coisa, estou de saída.

- Então cancele o compromisso! - Ela da de ombros como se fosse a coisa mais simples do mundo.

- Não posso.

- Achei que fosse gostar de me ver.

- Fica difícil gostar de te ver quando você só vem me procurar pra me xingar pelas minhas notas da escola e os caralho.

- Ei, não fale palavrão Vincent.

- Desculpa. - Respondo já irritado. - Da pra você ir direto ao ponto? O que veio fazer aqui?

- Queria te levar para passar o final de semana lá em casa! Você não vai a muito tempo, já está na hora de voltar.

- Não.

- E por que não? Nunca entendi sua revolta de ter saído de lá, isso já foi longe demais.

- Seu marido ainda mora lá?

- Sim, sempre vai morar.

- Nunca volto para aquela casa.

- Vincent, qual o seu problema com ele? Meu marido nunca fez nada e sempre se mostrou preocupado contigo. Você é ingrato, sabia disso?

- Eu sou o que? - Falo num sussurro, me controlando para não explodir de raiva.

- Exatamente o que ouviu, sua birra infantil pela perda do seu pai já passou dos limites. Seu pai era um idiota e te abandonou filho, me abandonou também, supera isso.

- Você não tem a porra do direito de falar do meu pai assim.

- Falar como? Que ele era um idiota? Eu falo sim, se quiser até soletro! Tentei te avisar antes mas você fazia questão de me ignorar.

- Se meu pai não prestava, seu marido é pior em dobro. Eu tenho certeza que ele te manipula todos os dias e você é tão tonta que acaba caindo no joguinho dele. Eu sai da merda daquela casa porque era impossível viver com alguém tão pobre quanto aquele homem sujo.

Essas palavras foram o suficiente para tirar todo o peso das minhas costas mas não adiantou porcaria nenhuma, porque isso irritou Maria como nunca. Ela me deu um tapa extremamente forte no rosto, como se fosse um pedido para que eu calasse a boca.

Coloco a mão no local dolorido, sinto formigar tanto que tenho certeza que ficará vermelho. Fito profundamente os olhos de minha mãe, meu semblante está completamente sério. Não demonstro reação alguma, a única coisa que faço é dar um passo para frente e me aproximar dela, o que a faz ir para trás assustada.

- Per- perdão... Não era minha intenção, eu juro. - Ela diz com a voz falha.

- Não volte aqui, nunca mais.

Saio do quarto sem olhar para trás, deixo minha mãe e toda sua estupidez lá, sem me importar com nada mais. Meu sangue ferve por toda a região do meu corpo, sinto tanta raiva que tenho vontade de socar uma parede e faço. Soco a parede do corredor da escola com tanta força que quase desloco meus dedos. O local não quebra pois não é feito de gesso - graças a Deus. Minha mão doi demais, porém não consigo me preocupar com isso. Sinto uma lágrima quente pingar na minha bochecha e passo a mão rapidamente pelo local tentando limpar, mas acaba saindo várias gotas de água e eu não tenho controle. Levo pontadas fortes na minha cabeça que fazem eu ter vontade de arrancá-la fora. Tantos pensamentos, as cenas do meu padrasto me batendo voltam como um flash na minha memória e tudo extremamente nítido como se eu não tivesse esquecido de nenhum detalhe. Perturbador. Completamente, perturbador.

Passo pelas portas do internato e me vejo em seguida no estacionamento, meu carro é o único aqui. Coloco as mãos trêmulas no bolso e encontro as chaves; destravo o automóvel e entro no banco do motorista.

Afundo minha cabeça no assento a levando para trás. Mais e mais lágrimas, meu coração batendo forte, minhas mãos suando e uma puta crise de ansiedade aparecendo.

Tento controlar minha respiração mas é impossível. Levo devagar minhas mãos até o volante e prendo elas firmes no mesmo. E faço o que mais tento vontade de fazer: gritar.

Grito descontroladamente enquanto puxo o volante quase o arrancando, me movimento para frente e para trás rapidamente; sinto o banco se mexer junto. Quero tirar de mim toda a raiva que eu sinto, grito tanto que provavelmente ficarei sem voz. Depois, finco as minhas unhas por toda a extensão do meu braço, deixando marcas vermelhas no mesmo. Arranho a área do meu pescoço também e me belisco forte; tentando fazer com que a dor externa diminua a interna.

Acabou minhas chances de pedir Nailea em namoro hoje, percebi que deixei tudo jogado no chão do meu quarto e não tenho coragem de voltar lá e buscar. Pego meu celular para tentar mandar mensagem a ela avisando do meu imprevisto mas está completamente sem bateria. Que se dane. Bufo irritado e ligo o carro indo em direção a casa do Troy.

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» idealizo esse capítulo há tantos meses...

𝐀𝐓𝐑𝐀𝐕É𝐒 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐂Ê 𝐌𝐄𝐒𝐌𝐎 - Vinnie Hacker e Nailea Devora. Donde viven las historias. Descúbrelo ahora