Capítulo 9

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Aviso: Essa obra de ficção contém situações de abuso e tortura psicológica, menção a violência física, sintomas relacionados a depressão e ansiedade.

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Um sentimento horrível formava no peito de Aleksey, um monstro sem nome que subia arranhando sua garganta, desesperado para sair enquanto ele recebia as parabenizações, os lamentos e os incentivos de que no ano que vem ele conseguiria, não deveria ficar triste, ele tinha sido formidável; professores e colegas e alunos numa confusão de rostos e vozes e sons. Não sabia o que era pior: a sensação gigantesca de impotência; o orgulho ferido por ter chegado tão longe, utilizado de tanto esforço para não dar em nada, ou o olhar de completo horror que Morena lhe lançara quando os professores a arrastaram para longe dele, parabenizando-a por ter se tornado membro do clubinho exclusivo do qual faziam parte.

Aleksey só queria ficar sozinho.

Ele precisava, se não explodiria.

Tinha conseguido se desvencilhar das pessoas e se esconder no seu cantinho de sempre da fortaleza, no jardim que ele descobrira uma vez e que sentia que só ele conhecia, o lugar que sempre ia para se acalmar. No entanto, sua mente não parava de girar e girar e girar. Era assim que uma mosca provavelmente se sentia, presa numa teia de aranha, ciente do fim inevitável. Não importava para onde fosse, o que fizesse, quanto tempo passasse, ele tinha cada vez mais certeza de que seu tio faria de tudo para estragar qualquer chance de felicidade que tivesse.

Aleksey sabia que ele não era a melhor das pessoas, mas não conseguia entender o que tinha feito para merecer aquilo. Começara quando ele tinha nove anos, mais ou menos, e sua prima nascera, a primeira mulher da geração dele, tomando seu lugar como herdeira da família. Ela era seu bebê, sua irmãzinha, mesmo que fosse filha do seu tio; e a mãe de Aleksey a amava e a paparicava como se fosse sua. Talvez Yakov tivesse ciúmes, talvez tivesse medo de que a menina fosse gostar mais deles, talvez tivesse desprezo por eles – mas nada disso importara depois que ela morrera, logo depois de completar quatro anos de vida.

As coisas só escalaram nos anos seguintes. No início, Yakov usava toda e qualquer oportunidade para humilhá-lo, para relembrá-lo que quando decidisse ter outra filha, Aleksey deixaria de ser o herdeiro. Sempre ressaltava como Aleksey era um rosto bonito com um nome importante e que por isso ninguém nunca gostaria dele de verdade, que ele nunca seria capaz de honrar o nome da família, que ele era incapaz e inferior e era uma vergonha que o legado dos Barabash dependesse de uma pessoa tão patética quanto Aleksey. Seu tio amava deixar claro que toda e qualquer influência que Aleksey tinha era um favor que lhe fazia, uma concessão que poderia ser tirada a qualquer instante.

Porém nunca Yakov havia chegado num nível tão baixo, tão desprezível. Quantas pessoas ele teve que subornar para a prova ser desenhada como instrumento de tortura para ele? Quanta energia ele precisou gastar para tentar prever como cada uma das pecinhas do jogo de xadrez iria se comportar? No final, nem devia ter sido assim difícil. Aleksey era ridiculamente previsível e todas as vezes fazia exatamente o que Yakov queria. Detestava como sempre caía nas armadilhas que seu tio montava sem parar para pensar duas vezes.

Mas qual era a alternativa ali? Ele tinha tentado ganhar. Ele tinha feito seu melhor. E seu melhor nunca era suficiente.

Afundou o rosto nas mãos, sentindo-se exausto. Cada milímetro do seu corpo doía do esforço da prova, mas não era só isso – era horroroso lutar em uma guerra sem nenhum poder, sem nenhum aliado. Desde que sua mãe fora se tratar na casa de Recuperação em Vodorod, três anos antes, nenhum outro aliado restara na família. Não havia mais ninguém além dele e do tio, agora. Aleksey podia ser um adulto, mas se sentia com treze anos, incapaz de encontrar as palavras para revidar, incapaz de impedir a mão que descia contra ele.

Tratado sobre Tempestades e outros fenômenos extraordináriosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora