Capítulo 5

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Aviso: Essa obra de ficção contém situações de abuso e tortura psicológica, menção a violência física, sintomas relacionados a depressão e ansiedade.

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Morena sentiu a boca seca enquanto tentava retomar o controle da sua magia, ciente de que estava encalhada na segunda seção, provavelmente a mais atrasada entre todos os concorrentes, e que suas chances de se titular naquele ano diminuíam exponencialmente a cada minuto que perdia. No entanto, não havia o que fazer além de esperar – se estivesse certa, Aleksey apareceria a qualquer instante, e ela conseguiria prosseguir com a prova.

Ainda sentia os vestígios da energia pungente do feitiço que Hadassa fizera para atravessar a seção sem ajuda de outro ser vivo, a magia dela se recolhendo em repulsa por aquela vibração que reconhecia como perigosa. Enquanto o resíduo não se dissipasse, não poderia fazer muita coisa.

Havia uma história sobre isso, contada pelas suas tias em noites estreladas nas semanas de verão que passara com a família do pai quando era pequena, e era parte do segredo da magia que corria em Tantalum. Duas irmãs, um rei ambicioso e uma guerra, uma história complexa que, como grande parte das histórias bashari que lhe contavam, desaparecera de sua mente no momento em que pisara de volta em Argon. Só lhe restava uma vaga memória, e uma cautela de origem confusa.

Levou uma mão ao lado direito do tórax, onde sua tatuagem latejava, quente, incômoda. Morena torceu internamente para que Ivan não tivesse sentido nada – seria complicado demais explicar para ele o que estava acontecendo e, ao contrário de Aleksey, ele nunca fizera muitas perguntas sobre as peculiaridades da magia dela. Se tivesse sorte, ele formularia uma teoria sozinho e ela não precisaria nem negar nem confirmar nada para o marido.

As hastes ao seu redor vibraram e Morena se levantou, apoiando-se em uma delas. Aleksey não demoraria muito tempo para chegar até lá se seguisse a espiral enquanto testava as saliências do chão para entender o que a prova queria dele, fazendo-as cantar. Logo os sons desconexos começaram a se encaixar e, em alguns minutos, Aleksey atravessava a porta que Morena não conseguira abrir.

— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou imediatamente, levantando as mãos em posição de defesa.

— Você sabe mesmo fazer as pessoas se sentirem acolhidas, Lyosha — ironizou ela, reclinada contra a haste, os braços cruzados. — Como assim, o que estou fazendo aqui? Estou te esperando, claro.

— Ah, não. É uma ilusão, não é? Eu não tenho paciência nem tempo para lidar com isso. Xô. Desapareça. — Ele fez um gesto com a mão e Morena riu.

— Eu não sou uma ilusão e se fosse, não ia desaparecer só porque você mandou! — Ela fingiu ultraje. — Não é assim que funciona.

Aleksey olhou para ela novamente, franzindo a testa em concentração, e se aproximou, encostando um dedo na ponta de seu nariz para se certificar de que ela era real. Morena mordeu o lábio inferior para não gargalhar, porque só pioraria a situação. O toque de Aleksey era morno, os dedos ainda reluzindo com a magia recém-utilizada. Por um breve instante, seus olhares se encontraram, e Aleksey rapidamente desviou.

— É você mesmo — falou ele, com certo alívio, as bochechas coradas. Depois, voltou a ficar tenso. — Eu disse que não precisava da sua ajuda.

— Eu não estou aqui pra te ajudar, presta atenção. Se eu comecei no fogo e você não me encontrou em nenhum dos outros elementos, esse obviamente é meu segundo. — Ela levantou uma das mãos, contando nos dedos. — E, pelas minhas contas, seu terceiro. Pra que eu ia te ajudar se você claramente está na minha frente?

Tratado sobre Tempestades e outros fenômenos extraordináriosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora