15. Algo inesperado

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Já havia se passado dois dias desde a conversa com as trigêmeas. A casa ainda andava tensa e com um elefante gigante no meio da sala. Ninguém realmente tocava no assunto, mas todos sabiam que precisariam fazê-lo mais cedo ou mais tarde. Menos Camila.

Camila estava estranhamente aérea com um semblante de incomodo constante. Ninguém realmente entendia o que se passava, mas ela estava arredia até com Lauren. Sem falar da aparência de quem não dormia a dias. E tudo isso por um sonho estranho e cheio de enigmas que não parava de ter, e uma voz incessante em sua cabeça lhe avisando de alguma coisa.

E ela estava sentada na cama, na madrugada do terceiro dia, receosa por dormir. Mas o cansaço estava tão grande que não conseguiu resistir e deitou, dormindo pouco tempo depois.

Mais uma vez Camila estava naquele lugar escuro e fétido. Os gritos de uma pessoa ecoavam pelo local fazendo uma vibração tenebroso em seus ouvidos. Ela estava cansada de estar ali, mas mais uma vez foi em frente, seguindo sua intuição de procurar por alguém.

Passou por gaiolas com pessoas, talvez corpos, dentro. O chão era imundo e as pessoas ali estavam a muito tempo sem saber o que era um banho; rostos cansados, mascados por cicatrizes. Era um cenário de guerra. Um local de prisioneiros.

Camila continuou caminhando por ali até chegar em uma porta dupla; a empurrou e entrou. Parecia uma sala de cirurgia dos antigos, haviam muitos instrumentos estranhos em uma bancada e no meio uma pessoa deitada, amarrada em cima daquela maca.

De repente pessoas invadem a sala, Camila achava que poderia ser vista, mas ela não estava ali em corpo físico, sua presença não era percebida.

- Kiana, querida. Dormiu? – A voz do homem pingava em ironia.

O corpo em cima da maca se mexeu em um nítido desconforto. O homem chegou perto e deu um tapa na cara daquela pessoa. Camila se assustou com aquela cena de agressão gratuita.

- Acorda, vadia. – O homem gritou. – Já está disposta a contar o que eu quero saber?

- Vai se foder. – A voz feminina falou fraca, mas em uma afirmação nítida de desafio.

- Vamos ver o que você vai fazer depois que eu te der um trato!

Se afastou indo para a bancada, pegando um objeto pontiagudo com uma ponta em formato de broca e um martelo. Chegou perto da garota que se debatia em uma aflição nítida. Encostou o objeto pontiagudo em seu quadril e deu uma martelada.

Camila fechou os olhos gritou junto da garota. Foi uma cena que Camila já mais esqueceria. Uma cena que se repetiu por um tempo que Camila não conseguiu contar. Quando o homem saiu da sala, Camila se aproximou do corpo da garota, ensanguentada. Ela chorava muito e assim que Cabello chegou perto dela, Kiana a olhou nos olhos e gritou "CAMILA ME AJUDA!"

Camila acordou aos gritos. Gritos tão fortes de desespero que a casa toda acordou. Sinuh correu para acudir a filha que desesperada, não queria que ninguém encostasse perto dela.

Cabello não reconhecia ninguém a sua frente; em sua cabeça ainda se passavam as imagens da tortura, do sangue, dos gritos e da dor. Ela grita em desespero para que parasse, que ela saísse daquele lugar de dor e desespero. Ninguém conseguia ajuda-la e Jauregui que havia acabado de chegar, seguiu seus instintos.

Da mesma forma que Camila havia feito com ela em seus momentos de descontrole, Lauren o fez. Encostou dois dedos em sua testa. Foi como uma retirada súbita de energia. A latina entrou em um estado de transe e adormeceu, caindo nos braços de Jauregui.

Ninguém entendo absolutamente nada do que se passou naquele quarto. E o clima que já estava estranho, piorou.

No dia seguinte, Camila acordou sem lembranças nítidas do que ocorreu. Seu corpo estava dolorido e sua cabeça latejava como nunca. Não estava em seu quarto e nem na mansão. Ela reconheceu o lugar quando olhou para a lareira e viu um J esculpido na madeira de carvalho que adornava o lugar; estava no quarto de Lauren.

- Acordou finalmente. – A voz rouca penetrou seus ouvidos levemente. Ela olhou em direção a voz e sorriu.

- Dormi tanto tempo assim? – Sorriu de lado.

- Bastante. Se sente melhor?

- Não lembro bem o que aconteceu, mas minha cabeça está me matando.

Lauren se aproximou da cama e sentou em frente a latina.

- Vou falar com Alessia para fazer um remédio pra você, pra ajudar nisso tudo. – Sorriu.

Camila notou as rugas de preocupação na testa de Jauregui, eram como montanhas que denunciavam seu estado de espirito.

- Desculpa pelo que aconteceu, mesmo que eu não lembre bem o que aconteceu, eu sinto muito. – A de olhos verdes suspirou profundamente e negou com a cabeça.

- Eu sei que não é sua culpa. Está tudo bem.

Elas se abraçaram e deitaram juntas para descansar mais um pouco.

Mais um dia se passou e Camila já havia se recuperado do surto, mas a voz constante em sua cabeça continuava a incomodando.

Estavam no jardim de Basset em treinamento e Camila estava tão distraída que levou um grande soco no nariz de Emeraud.

- Caralho Camila, desculpa!

- Não, está tudo bem. Eu que estava distraída. – Levantou-se e enxugou o sangue do nariz.

Robyn chegou perto e observou o que as duas estavam fazendo por uns bons minutos. Camila estava apanhando como se não estivesse tido treinamento na vida. Então...

- Eme, deixa que eu assumo daqui. – Emeraud não contestou, se afastou e foi beber água perto das outras meninas. – Ta distraída demais, Cabello. O que foi?

- Nada demais RR. Só dor de cabeça. – Mentiu.

Rihanna sabia que ela estava mentindo, e a raiva que ela ainda sentia só aumentou. Ergueu os punhos e sinalizou para Camila atacar. Começaram uma luta corpo a corpo intensa. Socos, chutes e todos os tipos de lutas era feitas ali, em uma clara disputa de poder. Até que...

- CAMILA SOCORRO – a mesma voz ecoou pela cabeça de Cabello a fazendo parar, tomando um chute no rosto que a fez cair.

- Camila! – Gritou Lauren, correndo para a amada e a virando para ver seu rosto. – Você ta bem?

- Eu estou. – Tentou levantar, mas a pancada foi muito forte a deixando desorientada por um momento.

- Olha o que você fez, Rihanna! Ta maluca? – Lauren se impôs, peitando RR.

- Ninguém mandou ela estar distraída. – Cuspiu no chão. Jauregui empurrou Robyn que revidou.

- Meninas parem! – Okoye gritou, se metendo no meio.

- Bastou umazinha chegar pra você largar a família não é Jauregui.

- Vai se foder, Robyn. Você não sabe que merda está falando.

- Você que não sabe! Camila se meteu nas nossas vidas e ainda quis se sair como boazinha na história, tentando limpar a barra de Basset. Vai se foder.

- Eu só tentei ajudar, Robyn. – Camila já estava mais alerta e de pé. – Você não sabe o que você pode perder se continuar assim, cheia de raiva e rancor. – Colocou as mãos nos ouvidos depois que escutou novamente o grito.

- De que porra você ta falando? Você não tem nada a ver com a porra da minha vida muito menos com o que eu sinto ou deixo de sentir, oh caralho.

- Eu disse a mesma coisa quando Lauren morreu! – Metade ali não entendeu o que Camila disse, já que Lauren estava ali, viva.

- Como você sabe disso?

- Não interessa como eu sei. Mas foi por minha causa que Set conseguiu matar Rá, na primeira vez. E tudo isso aconteceu porque eu me recusei a viver meu luto e minha dor. – mais uma vez a voz no seu ouvido.

- Você não sabe o que diz!

- Se você não lidar com isso, não vai conseguir salva-la!

Robyn resetou. Resgatar quem? Kiana? Como ela sabia de Kiana e porque ela havia falado aquilo?

- Do que você está falando?

- Ela está viva, RR. Kiana está viva e implora pra ser resgatada. 

Sui Generis - O Preço do Equilíbrio.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora