18. Rosto

937 140 50
                                    


"Você não precisa fingir que a perfeição é sua amiga
Oh, ame suas falhas
E viva por seus erros
A beleza na superfície está se esgotando
Se aproxime e mostra as marcas sobre sua pele"
— Human (Gabrielle Aplin)

Em contraste com a noite anterior, a manhã estava sendo um verdadeiro inferno.

A definição em si era justamente pela sonolência que envolvia Sal Fisher como um entorpecente dos mais fortes, e ele acreditava que possivelmente Larry se sentia da mesma forma, visto a maneira como ele sequer se mexia enquanto dormia feito um bebê.

A primeira situação que tiveram de suportar foi o chacoalhar que Ashley produziu em ambos numa falha tentativa de acordá-los. Ela era bastante insistente quando queria, e o fato de querer aproveitar o último dia naquele lugar parecia ter impulsionado ela a se tornar ainda mais persistente. Os dois garotos somente ignoraram-a, e ela desistiu. A segunda situação havia sido do feitio de Todd que, por sua vez, não conteve a impulsividade quando exclamou em seu típico tom natural de maliciosidade:

— O que fizeram ontem à noite para estarem tão cansados?

Mesmo de olhos fechados, Sal conseguiu captar o riso soprado que Larry soltou. Seu coração vibrou, e ocorreu de copiar o gesto involuntariamente. Ambos continuaram calados, dormindo tão próximos quanto um casal. Ele conseguia sentir o perfume característico que o outro exalava, e a calma de imediatamente retornava para deixá-lo confortável a continuar descansando. Não queria sair daquela cama tão cedo.

A última coisa que ele ouviu foi uma reclamação de Ashley sobre o estomago roncando antes de ela sair pela porta junto ao ruivo. O silêncio protagonizou o ambiente, e um bocejo sonolento escapou de seus lábios.

Ele abriu os olhos mais uma vez, e encontrou-se frente-a-frente com o rosto adormecido de Larry. Quase teve a impulsividade de beijá-lo, mas se conteve abastecendo-se apenas de observá-lo em paz, analisando a serenidade cujo ele esbanjava naquelas expressões tão doces. Ele respirou fundo com um sorriso pequeno, correndo os olhos pelos traços adormecidos que emolduravam o rosto do moreno. A respiração suave entregava que ele compartilhava da mesma sensação de pacificidade que Fisher.

Ele era como um anjo. Um terrível anjo extremamente atraente. Era quase um pecado querer beijá-lo daquela maneira, mas era impossível não se sentir hipnotizado daquela forma quando cada traço do rosto alheio parecia clamar por seu toque, carícia e olhar. Larry tinha um poder imenso sobre ele, até mesmo dormindo.

Sal resolveu ceder para a sonolência mais uma vez, se ajeitando na cama e passando a mão sobre o rosto cansado. Fechou os olhos. Demorou um, dois, três segundos para que toda sua serenidade se esvaísse por completo como se houvesse sido varrida com brutalidade de seu corpo quando ele notou que a prótese não atrapalhou seu toque como de costume. Ele não estava com a prótese. Ele não havia acordado primeiro que todos para colocá-la. Seu rosto estava completamente exposto.

— Merda! — esbravejou assustado, batendo a mão no próprio rosto como se repreendesse a si mesmo.

— O que rolou? — a voz sonolenta de Larry soou.

Fisher não teve capacidade suficiente para se virar para ele. Estava paralisado. O coração retumbava dentro do peito e ele não conseguia pensar em mais nada além do fato de terem visto seu rosto tão antes bem coberto. Era uma desgraça completamente inesperada. Não esperava revelar as cicatrizes daquela maneira. Seu estômago se revirou brutalmente apenas por imaginar as centenas de pensamentos degradantes que seus amigos poderiam ter tido.

— Eles viram... Ah, meu Deus...

— Viram o que?

Sal engoliu seco.

Piano || SarryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora