10. Cicatrizes

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"Eu preciso me esconder
Porque eu sou feio
Estou assustado
Sou tão patético
Estou com tanto medo
Tenho medo de você me abandonar no final mais uma vez

Então coloco uma máscara para ir te encontrar mais uma vez"

— The truth untold (BTS)


— Que... Quem? — perguntou confuso. — Aaah, Larry — passou a mão pelo rosto alheio.

— Senta aí, tu extrapolou demais — Larry aconselhou ao sentar-se no gramado em frente à casa.

Sal deitou-se junto de forma relaxada, quase que cambaleando. Fechou seus olhos buscando equilíbrio para a tontura que vira sentindo, mas não obteve exito. Estava bêbado, e isso não significava boa coisa.

Vendo Sal deitado, Larry, antes distraído, resolveu deitar-se também, se remexendo até sentir-se confortável ao lado de Sal.

— A noite está linda — comentou Sal.

— Sim...

Um silêncio pairou pelo local, o jardim estava vazio, exceto por ambos, que encontrava-se em uma distância mínima da casa barulhenta. O perfume masculino de Larry aparentou estar mais vivido naquele momento. Amadeirado. Sândalo. Sal teve de controlar a vontade de se jogar no pescoço dele e sentir aquela fragrância como se necessitasse dela para viver. Era inebriante.

Conteve-se, no entanto, olhando para o céu e buscando por algum assunto.

— Eu costumava a dar nomes para as estrelas quando era criança. 

— Você deve ter sido uma criança adorável — Larry riu soprado. — Na minha infância eu normalmente ficava jogando.

— Eu era assim também — riu fraco. — Mas quase todas as noites eu e a mamãe contávamos estrelas, ou dávamos nomes a elas... Ela era uma mulher incrivelmente doce... — suspirou, mantendo o olhar fixo nas estrelas, enquanto Larry olhava curiosamente para ele. — Mas um dia tudo acabou.

— O que aconteceu? — Larry perguntou curioso, com um olhar de pena virado para o amigo ao lado.

— Foi num parque. Estávamos fazendo um piquenique em família. As coisas deram errado quando meu pai se levantou para caminhar e um maldito cachorro apareceu pela comida — Sal deu uma breve pausa, junto a um suspiro. — Minha mãe tentou afastar ele, de maneira inocente mexendo as mãos, mas ele se enraiveceu por algum motivo e nos atacou. Ele era forte. Meu pai mau teve tempo de fazer algo.

Larry olhou incrédulo para Sal, no momento sentiu seu coração apertar, e um frio percorrer por sua espinha. Não espera por aquilo.

— No final ele atacou a minha mãe, e ela faleceu, e eu... Fiquei com o rosto completamente desfigurado e... Horrível — Sal teve de conter as lagrimas impertinentes que se acomunaram no canto dos olhos.

Ele se surpreendeu, no entanto, quando sentiu dois braços envolverem seu corpo num abraço afável. Inicialmente, Sal arregalou os olhos nada preparado por algo daquele tipo, mas logo suavizou as expressões formando um sorriso pequeno los lábios. Sentiu-se acolhido e protegido por Larry. O aroma adocicado da bebida misturado ao perfume alheio fazia uma incrível sintonia, e Sal queria nunca mais solta-lo. Estava se sentindo tão bem ali. Era como se toda a escuridão do sentimento amargo não estivesse mais lá, atormentando-o; como se estivesse em sua sala tocando o piano novamente. Larry era como seu porto seguro.

Piano || SarryWhere stories live. Discover now