Prólogo Final

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     Tarde da noite, dois homens conversando dentro de um quarto a meia luz. Lockbert deitado em sua cama percebe a movimentação leve de um dos homens saindo do quarto, batendo a porta, e logo abrindo outra porta. As chances de ser o taverneiro Alfred são grandes, mas ainda indeciso se valerá os riscos. Lentamente, tentando ao máximo reduzir o seu barulho na madeira, Lockbert se move em direção a porta do seu quarto. Uma forte batalha contra sua ansiedade e teimosia. Um ruído tenebroso é reproduzido pelas entranhas da porta. Lockbert se espreme para tentar passar pelo pequeno vão que abriu para não fazer mais barulho. Com um pouco de esforço, ele consegue passar, mas está tremendo, talvez não consiga fazer isso novamente. Está um pouco nervoso, em frente a porta do quarto em que está tão curioso, porém acredita ser fugaz. Levemente, com coragem, Lockbert abre a porta, expondo primeiro seus olhos para ver quem é o hóspede. Um quarto bem arrumado, iluminação a luz de vela, um cheiro agradável. Uma temperatura confortável e um lindo tapete com diversas formas geométricas no centro, com cores foscas e uma linda borda ondulada em volta de todo tapete. Então lá está, um homem velho, enrugado, deitado embaixo de suas cobertas e encostado na cabeceira da cama. Muito assustado, Lockbert entra no quarto e delicadamente fecha a porta. O velho está calmo, paciente, demonstrando frieza enquanto olha para o invasor. Ambos ficam se encarando por alguns segundos, e ninguém reage, enquanto Lockbert está com os olhos arregalados e seu corpo tremendo. Com uma voz suave, quase sussurrando, Lockbert diz.

     - Olá... Não queria assustar o senhor.

     - Rapaz, eu não sei o que é sentir medo faz anos. Venha cá. Me parece incomodado com algo. Me diz o seu nome.


Lockbert se aproxima e se senta na beirada da cama enquanto olha fixamente para o velho.

     - Me chamo Lockbert de Leonor. Posso saber a idade do senhor?

     - Prazer Lockbert, me chamo Eichendorf, e eu tenho 62 anos.


Uma felicidade surge no rosto de um homem cujo transbordava tristeza e ignorância. Lockbert se sente mais confortável perante o velho. Ansioso para falar.

     - O senhor viveu bastante tempo nessa crueldade que chamamos de Mundo.

     - Tempo o suficiente para saber que a vida acaba não sendo o que você imagina ser, não é?


Olhando descontraído com o canto dos olhos para o velho, Lockbert dá um sorriso, balançando sua cabeça.

     - Quem é você, afinal?

     - Um homem velho com sua vida chegando ao fim. Não se preocupe, não estou doente.

     - Não está doente, mas está morrendo.

     - A vida também possui seu limite. Ninguém vive para sempre, podemos morrer por vários motivos. Me diz você agora, percebo que está inquieto, assustado...


Lockbert se recompõe, olha seriamente para o velho.

     - Não há mais esperança aqui, lá fora, nem para mim. Cresci com todos em minha volta, todos me apoiando, agora o "todos" não existe mais. Estou sozinho, sem ninguém, sem nada. Perdi minha família, aqueles que amo... Agora, estou lutando contra o tempo, enfrentando o mundo, o caos para salvar a única pessoa que restou em minha vida. Minha pequena filha. Deus escolheu esse destino para mim?


Novamente um olhar triste, voz trêmula, roçando uma mão na outra, e claramente segurando suas lágrimas.

     - Você é um homem forte, guerreiro, consegue enfrentar qualquer coisa. Se nada foi capaz de derrubar você, então Deus está ao seu lado. Se sua filha for igual ao pai, pode ter certeza que irá enfrentar o mundo com garra, e vencer.

     - O que eu devo fazer? Você tem mais experiência... Me diz o que eu faço!

     - A minha experiência não significa nada perante as decisões que tomei. Nunca deixe o que está atrás interferir no seu bem maior. Ponha-se à frente de qualquer situação, pois o medo pode acabar com uma vida.


Eichendorf respira fundo, sua voz está cansada e está ficando sem forças para respirar. Então diz.

     - Essa vai ser minha última noite. Deus me contou que um último homem falaria comigo em minha despedida. Agora posso descansar em paz... Acredito no guerreiro que você é, um homem pode mudar o Mundo. Você pode vencer essa doença, você pode ser mais forte que essa Peste Negra.

O BastiãoWhere stories live. Discover now