25.

16 1 6
                                    

25.

Passou-se um dia desde o ocorrido. Enok ficara de recuperação no hospital por uma tarde. Ao sair de lá, foi direto para o leito de Tiara, contudo, a garota ainda não estava em condições de falar e ele respeitou isso.

***

Enok e Júlia tiraram dois dias de férias, para curtir um ao outro. Foram os melhores momentos que Enok já tinha passado em sua vida desde que envolvera com Júlia. Tinha esquecido de todos os problemas existentes, inclusive de um pendente que voltara para lhe morder.

Mais tarde, no último dia de descanso, Enok ouviu algo bipar. O barulho enervante foi ficando cada vez mais frequente até que ele encontrou finalmente o objeto que o emitia. Tomou um susto, pois se esquecera totalmente daquilo. Era um aparelho rastreador. Tiago, ao lhe confiar aquele objeto, tinha lhe dito que emitiria aquele barulho.

Entrou em um pequeno estado de pânico, não sabia bem o que fazer. Júlia tinha dado mais uma de suas sumidas comuns. Não tinha tempo para esperá-la. Fora muito descuidado, Tiago Barbosa estava contando com ele, com a sua vigília. Porém, estava tão satisfeito consigo mesmo e agraciado com a proximidade de Júlia que se esqueceu totalmente.

Aprontou-se e olhou novamente o rastreador, conhecia aquele endereço. Algo não estava certo, por que o dinheiro não estava em movimento?, por qual motivo Tiago não tinha entrado em contato e nem atendia ao telefone? Ficou paralisado por um instante, mas recuperou o fôlego e alcançou a viatura.

***

Começara a chover forte durante o trajeto, o frio estava mais cortante que nunca. Ao passo em que se acercou da residência de Felipe, viu ao longe as formas distintas de dois veículos. Um deles era o carro de Tiago. O coração acelerou. Alguma coisa ia realmente acontecer, com relação aos pesadelos que viera tendo.

Próximo do veículo de Tiago, confirmou o que já sabia. A chuva rareava no momento em que se aproximou da porta. Respirou fundo. Esperava que não tivesse chegado tarde demais.

Por um momento, quando bateu à porta, o ar pareceu lhe faltar. Enok sabia que isso sempre acontecia quando a morte se acercava, sempre que estava próximo do acontecimento que tinha previsto. Não, previsto não... nunca gostou de usar essa palavra, era muito forte, muito fantasiosa. Isso não era possível, ninguém poderia ser capaz de prever a morte de outras pessoas. Eram só coincidências, infelizes coincidências.

A porta demorou para se abrir, nesse ínterim, Enok tentou captar sons e movimentos advindos da residência. Talvez não houvesse ninguém ali, talvez fosse um engano. Quando a porta se abriu, tinha parado de chover.

Enok foi saudado por um Felipe todo molhado. Ele abriu a porta devagar, relutante e surpreso. Os olhos dele esquadrinharam Enok e os arredores, talvez estivesse esperando ver Júlia. O investigador queria começar a fazer perguntas, mas foi cauteloso, aguardou Felipe tomar a iniciativa.

— Investigador... o que faz aqui? — ele tentou abrir um sorriso, mas o que conseguiu foi algo demente e bizarro.

— Hã... boa tarde, Felipe, posso entrar? — começou tentando ganhar tempo.

Felipe deu mais um débil simulacro de sorriso e permitiu que Enok entrasse, a contragosto. Assim que Enok entrou, ele se afastou. Enok tentou compreender por que o assoalho estava enlameado. Os sinais de alerta pulsando em sua mente.

— Estou procurando por Tiago Barbosa, ele tá aí?

— Não — Felipe hesitou — Por que estaria?

Enok não respondeu na hora, ainda estava absorto em pensamentos, olhando as pegadas lamacentas, o chão encharcado. As pegadas vinham dos fundos da casa, em direção a porta.

O Inverno Mais Frio | Livro UMOnde histórias criam vida. Descubra agora