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Ficou combinado que Júlia e Enok iriam ao encontro de Rubens Vasconcelos no horário devido. Agora que Júlia sabia de tudo, Enok se sentia mais leve. Contar com o apoio dela era algo indescritível, ele não soube bem explicar aquela sensação para si mesmo.

Os investigadores conversaram sobre o caso Tiara. Decidiram que deveriam começar a interrogar com mais severidade dona Antonieta e, principalmente, Alfredo. Planejavam entrevistá-los individualmente, para constatar se existiam inconsistências, uma acareação. Se bem que nem tinham entrevistado dona Antonieta, na realidade.

Enok lembrou-se do celular de Tiara na gaveta de sua mesa. Aquele aparelho indicaria quem entrou em contato pela última vez com a garota. Também poderia ter algum valor para quem tentou acessá-lo a todo custo. Deu uma olhada na foto da menina, era uma jovenzinha negra, com um largo sorriso, em um momento de descontração. Provavelmente, uma das amigas tinha tirado aquela foto. Todas elas estavam preocupadas com Tiara, ela sumira sem dar notícias a ninguém. Obviamente, Enok fora incisivo quando entrevistou as amigas de Tiara, supondo que a menina fugia de casa por conta da tia megera ou por conta de Alfredo, poderia ter ido se refugiar na casa de alguma delas. Fez o famoso policial mal e não obteve resultados, e acreditava nas adolescentes. Elas legitimamente não sabiam do paradeiro da amiga e estavam ajudando nas buscas mais que qualquer outro.

Somente quando estava no horário do almoço, Enok se deu conta de que não perguntara a parceira sobre o que tanto ela fazia nesse horário que ficava sumida. Estava aí algo que precisava mais que tudo saber dela. Tentou manter o questionamento em mente para uma ocasião mais propícia. Assim como tentou manter a lembrança de tê-la agarrado noite passada e lhe dado um beijo caloroso. Pôs um sorriso no rosto ao se lembrar da sensação.

Júlia agiu despreocupada naquela manhã. Havia um clima estranho no ar, Enok sentia algo o impelir a enveredar numa conversa sobre o beijo, enquanto a indiferença da mulher era um obstáculo. De qualquer forma, sentiu que tinha passado um pouco dos limites. Ponderou se deveria mesmo ter a agarrado daquela forma, talvez ela não tivesse gostado da atitude. O problema foram as brechas que Enok percebeu que tinham sido deixadas por ela. Será que tinha se enganado e aí se deixou levar pela atração e o sentimento?

Quatro dias tinham se passado desde que Enok e Júlia conversaram com Tiago e Felipe. Ambos foram intimados por Enok a depor formalmente há dois dias. Os dois eram suspeitos promissores, mas para Enok, Tiago era o homem da vez, ainda mais quando percebera que ele não estava contando toda a verdade. As buscas pela professora não levavam a lugar algum, o que era desanimador. O último lugar em que Viviane foi vista fora deixando a escola onde lecionava no segundo horário. Depois disso, nada. Ninguém sabia se ela tinha chegado em casa. As buscas por câmeras de segurança que pudessem ter filmado alguma coisa também não levaram a nada.

Júlia ouvira Felipe, enquanto Enok, propositalmente, Tiago. Júlia contou que Felipe não mencionara o fato de a mulher dar aula para os alunos irrecuperáveis e aos mais hostis porque nunca soubera de nada do tipo. O homem supôs que tinha sido Tiago quem fizera aquele levantamento e comentou "Tentando desviar a atenção de si para outras coisas, típico.".

***

Por volta das duas horas da tarde, Júlia e Enok estavam se endereçando a casa de dona Antonieta. Não sabiam se iriam encontrar Alfredo por lá e esperavam que não.

Durante o trajeto, Enok sentiu uma tensão no ar. Os dois estavam em silêncio a bastante tempo. Era um recorde, porque ele e Júlia passaram a manhã discutindo teorias sobre a trama do maníaco, sobre a nuvem espessa de mistério que cobria o acidente, o sumiço de Lucas e o delegado e suas atitudes suspeitas.

O Inverno Mais Frio | Livro UMWhere stories live. Discover now