Heart's On Fire

35

Enquanto Dwight colocava Daryl dentro da van, eu agarrei no braço de Negan e afastei um pouco do grupo.
- Porque vamos levar ele?
Negan sorriu. - Ora, baby doll, já olhou bem aquele cara? Precisamos de gente assim e eu pensava que você queria castigar os responsáveis pela morte dos Salvadores. Então, ele matou um grande número deles e estava no ataque ao seu posto.
Suspirei, vencida. Eu não podia argumentar contra aquilo, ou Negan descobriria minha ligação ao grupo de Rick e tudo estaria perdido.
Fiquei vendo eles trancarem Daryl e depois Negan colocou aquele taco horrível na minha frente. Franzi o cenho e olhei ele, que me sorriu.
- Mata o ruivo.
-  O quê?!
- Aquele grandão ali, mata ele.
Suspirei e afastei a mão dele, junto com aquela coisa.
- Não vou matar ninguém.
- Não?
- Negan, se matarmos todo mundo, como eles vão tabalhar para nós? Mortos não nos servem de nada, além disso, Alexandria é minha, certo? Porque sempre é o meu pessoal que tem de morrer?
Negan ficou me olhando, mas depois passou a língua pelos lábios e sorriu.
- Merda, baby doll, eu sabia que você era durona e esperta, mas assim? Vai me fazer apaixonar por você, hein?
Eu ri. - Você é apaixonado por si mesmo.
Vi ele se afastar e respirei de alívio, ganhara tempo e Rick não perderia um novo membro. Queria chorar por Glenn, mas ali não podia. Não podia estragar tudo.
- Essa é a Leah, minha melhor Salvadora nessa droga de mundo. - Ergui o olhar, percebendo que Negan falava com o grupo e que me indicava com o taco. - Ela será a responsável pela vossa comunidade. Nada de besteira nem ideias ridículas, Grimes, ou o Daryl terá o mesmo fim que o chinês.
"É coreano!", falou a minha mente. Baixei o olhar, mas depois ergui de novo e vi Rick me encarando.
Negan percebeu e sorriu.
- É linda, não é? - Perguntou ao Rick. - Deveria ter visto o babaca do irmão dela, era a coisa mais feia que já vi na vida. - Ele riu. - Mas era forte, isso era, aguentou tudo até ao fim.
Rick me olhou de novo e eu olhei o chão. Lembrar de Shane ainda era doloroso.
- Bom, iremos embora. Rick, Leah irá buscar minhas coisas daqui a três semanas. Esteja preparado.
Lancei um último olhar ao xerife e segui Negan. Meu grupo iria me odiar para o resto da vida.

- Vai enlouquecer ele também? - Perguntei depois de Negan colocar Daryl na cela onde eu estivera.
Ele sorriu. - Daryl é um animal feroz, não quero enlouquecer ele, só fazer ele entender quem manda agora. Não se preocupe - Negan passou a mão no meu rosto. - Pegaremos leve com ele.
Assim que ele terminou de dizer isso, escutei aquela merda de música recomeçar, dentro da cela e todo o meu corpo reagiu, estremecendo e querendo fugir dali.
- Leah?
Olhei para os lados e depois na frente, vendo que Negan me segurava pelos ombros e me olhava. Olhei ele, mas a tremedeira e a ansiedade continuavam.
Ele suspirou, baixou o olhar e depois me olhou de novo.
- A música. Eu mexi com você, não foi? Aqui dentro. - Tocou na minha cabeça e assentiu. - Foi pesado demais.
Não respondi, mas Negan me tirou dali.
- Consegue lidar com o Daryl, certo?
Assenti, respirando fundo e mandando meu corpo se controlar.
- Claro que sim. - Respondi.
- Ótimo. - Ele sorriu.

Estava sentada junto da mesa, em frente da cela, no dia seguinte iria em Alexandria e eu não sabia o que fazer.
Por um lado precisava continuar sendo uma Salvadora, mas por outro... Era minha família.
Segurei a cabeça com a mão, apoiando o cotovelo na mesa e olhei a porta da cela. Daryl estava ali, atrás daquela porta, depois de tanto tempo procurando ele, ele estava ali. E deveria me odiar.
Que merda eu ia fazer com a minha vida?
Escutei um som vindo do corredor e Dwight apareceu, trazendo comida que seria para Daryl. Levantei.
- Leah?
- Isso é para ele? - Perguntei, e ele assentiu. Ergui a mão. - Eu dou, pode deixar.
- Mas...
- Eu. Dou.
Dwight me entregou as coisas. - Tudo bem. Chefinha. Só não esquece de que lado você está.
Me aproximei dele, encarando.
- O quê?
- Parece bem diferente desde que Negan trouxe esse babaca aí.
Estreitei os olhos. - Está com vontade de queimar o outro lado do rosto, D? Ou então... - Sorri. - Que Sherry seja...
- Cala a boca! - Ele gritou. - Sherry confiava em você. - Negou com a cabeça. - Nossa, você é pior que o Negan.
E se afastou, me deixando ali, olhando o corredor.
Suspirei, não iria me importar com ele nesse momento. Tinha coisas mais importantes a fazer.
Olhei o pão que Dwight trouxera e joguei no lixo, me afastando dali e indo em direção ao refeitório.
Peguei o que eu sempre comia, para que ninguém suspeitasse de nada e saí dali, acenando com a cabeça aos que me cumprimentavam.
Andei pelos corredores e parei na frente da porta de Daryl, olhando para os lados. Não tinha ninguém por ali e eu abri a porta.
Daryl estava com uma roupa que outrora fora branca, com um enorme A na frente. Negan tinha deixado ele despido, mas depois de muita insistência minha, ele dera aquela roupa para ele.
Respirei fundo e entrei na cela, entregando a comida para ele.
Daryl nem se mexeu, apenas olhou a comida e depois para mim.
Suspirei. - Pega.
- Não costuma ser isso. - Ele falou.
Abaixei na frente dele e seus olhos me seguiram.
- É o meu café da manhã. Agora é seu. Pega.
- Você envenenou ele?
Eu ri, sem vontade e neguei com a cabeça.
- É... eu iria matar o cara que eu passei esse tempo todo procurando, a única pessoa que eu amei na minha vida. Faz todo o sentido.
Daryl ficou calado durante uma eternidade, me olhando daquela forma feroz dele.
- Essa era a minha cela. - Falei e depois indiquei um ponto atrás de mim. - Aquela mancha no chão, é o sangue do Shane. Negan matou ele aqui, na minha frente, como fez com o Glenn. Eu fui torturada psicologicamente e Shane foi fisicamente, por isso não me olha desse jeito. Eu escutei a mesma música, Negan gravou os gritos de Shane e colocava para mim. Não me odeia.
- Você é um deles. Glenn morreu. Nós estamos condenados! Isso é culpa sua! Eu pensava que você era diferente.
Tive vontade de chorar mas não o fiz, em vez disso, encarei Daryl e depois levantei.
- Come. Eu dou um jeito de você sair daqui e aí nunca mais irá precisar de olhar para a minha cara.
Saí da cela, fechando a porta e trancando, tremendo tal era meu sofrimento.
Daryl me odiava.