17.

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João Lucas narrando:

Dias se passaram, mais precisamente três dele, desde o meu inesquecível beijo com a Isabelle. Inesquecível porque em três dias eu não consegui pensar em outra a coisa a não ser o gosto do seu beijo. Já estava ficando louco, não conseguia raciocinar e estava cada vez mais difícil esconder do meu irmão.

Acordei numa quinta feira determinado a voltar a ser quem eu era, o João Lucas pegador que nunca ficou três dias pensando na mesma mulher. Levantei, tomei uma ducha, fiz minha higiene matinal, vesti uma roupa confortável e desci pro café da manhã. Na cozinha estavam Má e, estranhamente, meu pai.

- Pai?

- Oi meu filho, bom dia. – ele se levantou e veio me abraçar. Estranhei. Estranhei muito. Ele nunca foi de abraços, era um aperto de mão e olhe lá.

- Bom dia. Está tudo bem?

- Claro que está! Por quê?

- Você nunca foi assim... carinhoso.

- Sempre fui carinhoso, Lucas. Do meu jeito, mas não deixava de ser carinhoso.

- Eu e você temos uma definição bem diferente de carinho. – ele me olhou com indignação e eu resolvi dar o assunto por encerrado. – Enfim, onde está a mãe?

- Deve estar dormindo, chegamos tarde ontem.

- Hm. E quando devem partir novamente?

- Filho, falando desse jeito parece até que eu não fico em casa.

- E não fica mesmo.

- João Lucas! – seu tom de voz foi autoritário, mas não me intimidava mais. Foi-se o tempo que eu me importava para o que ele dizia.

- Pai, só estou falando a verdade. Se ela é demais pra você encarar, só lamento.

- Me trata com respeito, eu sou seu pai!

- Não parece muito. A Márcia é mais minha mãe do que a Juliana.

- Chega, Lucas! Não admito você falar desse jeito comigo e com sua mãe. – ele estava irritado, como sempre foi. Esse sim é o meu pai.

- Nossa, que milagre. Não me comparou com o filinho perfeito.

- Você não acha que já está muito grandinho pra ficar com ciúmes do seu irmão?

- Não é ciúmes, já passei dessa fase. O que eu sinto mesmo é raiva.

- Raiva? Raiva de que? De o seu irmão ser melhor que você?

- Ele não é melhor do que eu! – gritei, minha paciência não durou por muito tempo. Já estava guardando isso dentro de mim há tempo demais. – Ele só é o filho planejado, que vocês sempre quiseram. Já eu, sou um acidente, um erro. Um erro que vocês fazem questão de jogar na minha cara toda vez que me veem. Ainda bem que não são muitas.

- Gente, o que tá acontecendo aqui? – Diego perguntou assustado, nunca havíamos brigado daquele jeito.

- Pergunta seu irmão, esse moleque mimado que parece ser 13 anos.

- Pai, não fala assim dele. O que aconteceu, Lucas?

- O que aconteceu é que eu estou cansado de aguentar esses dois, que se dizem meu pai, me tratando como se eu fosse um coitado, um lembrete de que estraguei a vida perfeita que eles tanto planejaram. Se me odeiam tanto assim, por que não me abortaram? Iriam fazem um favor a mim e a vocês mesmo.

Saí correndo daquela cozinha, não aguentaria ficar mais um minuto naquele lugar sem desabar. Odeio chorar em público, na verdade eu odeio chorar de qualquer jeito. Sinto-me um fraco, derrotado, um inútil que não conseguiu ser forte diante de um obstáculo.

Peguei as chaves do carro, a carteira e saí o mais rápido que pude daquela casa. Antes de saí, ouvi a Má chamar meu nome com uma voz chorosa, mas eu não tinha cabeça pra explicá-la alguma coisa naquele momento.

Dirigi o mais rápido e o mais longe que pude, e por mais que eu tentasse, as lágrimas não cessaram. Esse era um choro antigo, que demorou 21 anos pra se libertar. Meu peito já não aguentava mais tudo isso, precisava fazer alguma coisa a respeito senão eu morreria. Mal prestava atenção no caminho, só conseguia pensar no quanto eu sofri quando criança, no quanto as palavras dele me machucaram e no quanto eu aguentei sem reclamar. Agora já deu, meu limite acabou.

Acabei passando na rua da Isabelle. Estacionei em frente ao seu prédio e até cogitei a ideia de chamá-la, mas depois lembrei-me do nosso último encontro, no quanto seria inconveniente pedir algum conselho seu. Fiquei ali estacionado por 30 minutos, olhando pra janela do seu apartamento e pensando no quanto eu precisava dela naquele momento. E ali eu me dei conta do que negava a mim mesmo há tempos: eu estava apaixonado por ela. Eu precisava dela. A única coisa que eu nunca quis que acontecesse, aconteceu.

- Você está me espionando? – ela bateu no vidro do carro e disse, assustando-me por completo.

- Isabelle, você quer me matar de susto?

- Por que você está parado na porta do meu prédio há tanto tempo?

- Eu...  – não sabia como dizer a ela as minhas verdadeiras intenções.

- Dá pra abrir a porta, por favor? – destravei a porta e ela entrou, sentando-se no banco do passageiro. – Olha, eu sei que foi estranho o que aconteceu domingo, mas nós precisamos superar isso. Você está ficando com a minha melhor amiga e eu estou com seu irmão, ou seja, vamos ter que conviver...

- Eu preciso de você – disse de uma vez, interrompendo-a e deixando-a mais assustada do que nunca.

- O que?

- Eu preciso de você. Tô parado aqui há meia hora criando coragem pra tocar o interfone e dizer que eu preciso de você.

- Eu não to entendendo.

- Nem eu, isso tudo é novo e muito confuso pra mim. Eu tenho a necessidade de estar perto de você e mesmo sabendo que era errado beijá-la, eu não consegui resisti.

- Lucas, o que você quer dizer?

- Eu briguei com meu pai. Disse a ele o que está guardado dentro de mim há 21 anos. Eu não aguentava mais – desabei novamente, na frente dela. Eu odiava chorar na frente de outras pessoas, mas naquele momento eu não me importei. Não liguei pro que ela ia pensar, no que viria depois daquilo. Eu apenas chorei, chorei como nunca na esperança de encontrar dela o conforto que precisava. E eu encontrei.

Ela se aproximou e me aninhou em seus braços, deixando-me chorar sem me fazer nenhuma pergunta. Ficamos naquela posição por uns 10 minutos enquanto eu encharcava sua blusa de lágrimas. Ela acariciava meus cabelos com calma e ás vezes até dizia que ia ficar tudo bem. Era isso. Isso era tudo o que eu precisava, não só naquele momento, mas pro resto da minha vida. Eu precisava daquela mulher como nunca precisei de alguém antes. Eu estava apaixonado, perdidamente apaixonado.

IrresistívelWhere stories live. Discover now