Prólogo

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— Bruno, caralho! Tá atrasado pra ir pro aeroporto!  — Bernardo grita. Nada de novo sob o Sol. Quem acompanha vôlei que o diga.

— Já tô indo, pai. Calma, porra!

As malas do capitão da seleção masculina de vôlei do Brasil já estavam prontas. Mas enquanto se arrumava, viu o celular vibrar com notificação do perfil de uma pessoa que tinha um lugarzinho na coração do atleta.
Durante a quarentena, enquanto não podia treinar com o resto dos caras, ele tentou se distrair com o que deu. Até que uma de suas amigas do vôlei feminino lhe mandou um video de uma atleta da ginástica artística. Ele não sabe porque, mas admirou mais aimda a atleta depois que viu um video que era ela cantando, depois de um treino suado. Era um vídeo antigo de antes da quarentena, mas ela decidiu postar pra mostrar um pouco de quem ela é para os seguidores. A partir daí ele começou a acompanhar ela nas redes sociais. Ele já a conhecia, mas muito pouco em questão de vida pessoal e personalidade, só sabia mais sobre seu trabalho. E nunca tinha prestado realmente atenção nela antes. Grande erro.

Então, quando ele se tocou, já tava comemorando a convocação dela como a principal promessa de medalhas da ginástica artística. Ele considerava só admiração, até porque a chance de terem tempo de se falar na concentração era mínima. Mas isso já dava brecha para ser zuado em todos os treinos sempre que era pego vendo os vídeos dela. Que culpa ele tinha que ela era especial? Ele só simpatizava com ela e com os ideiais dela, que ensinaram muito a ele inclusive. Não era nada demais, certo? Nunca daria em nada, né? Ele pensava assim, pelo menos. Coitado, nem sabe o que o espera. Enfim, a autora não vai dar spoiler.

No momento, o vídeo era dela dançando com mais duas atletas da ginástica, Rebeca e Flávia. Ele sorriu bobo, ela tava animada. Ele torcia por ela. Ele sabia que ela tinha potencial.
Mas seus pensamentos orgulhosos foram interrompidos pelo pai, o famoso carrasco Bernardinho, que no fundo era um amor.

— Tá vendo a ginasta de novo? Pelo visto, Lucarelli não mentiu. — o mais velho arqueia as sobrancelhas, brincalhão.

— Que? Nada a ver, eu só digo ela porque ela é talentosa e vai representar o Brasil na ginástica. — Bruno tentou disfarçar. Quem avisa?

— Sua cara de gado apaixonado não nega, além do mais eu sou seu pai, idiota. — ele riu e Bruno riu de leve.

— Eu só gosto do trabalho dela, porra. Tipo... Nada demais.

— Ah, tá. Senta lá, Claudia. — Bruninho só queria saber: onde que ele tinha aprendido isso, Deus? —  Desse tamanho mentindo pra mim, Bruno Mossa de Rezende? Tenha dó, meu filho.

— Tá, chega! Já tô indo, valeu?!

— Só não baba no celular, Bruno. Olha o vexame. — Bernardo cutuca, segurando o riso.
— PAI, CARALHO.
O mais velho saiu rindo e Bruno revirou os olhos, rindo de leve. Bloqueou o celular, colocou a máscara e pegou as malas, indo para a vã que levar o time ao aeroporto. Bruno se despediu do pai, que infelizmente não poderia ir. Não era mais o técnico há um tempo e os protocolos por causa da pandemia proibiram aglomeração, portanto sem familiares. Já na vã com o resto do pessoal, Lucarelli diz:

— Quem aposta comigo que ele se atrasou olhando o vídeo que Ana Cartari postou?

— Sai, imbecil. — deu um soco de leve no companheiro e eles riram.

— Mas agora falando sério... A guria é muito talentosa, é cada salto...

— Ela foi ouro no mundial de 2019 no i individual geral e em mais dois aparelhos, ela só não ganhou em 2016 porque teve alguns erros de execução, aí ficou com o bronze, além de que tava lesionada.  Mas esse ano é ouro. — Bruno disse. — Certeza! Aquela ali é foda. — tentou até disfarçar o sorriso de orgulho, mas não deu lá muito certo.

Cada Batida do Coração - Bruno RezendeWhere stories live. Discover now