Capítulo 52 - Feliz ano-novo.

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Sofia tinha me emprestado um pouco de dinheiro. Depois da consulta, peguei um táxi até o salão. Quando Lucy viu o meu rosto, pulou da cadeira e disparou em minha direção.

- Ai, querida! - exclamou ela, me dando um abraço.

Quando se afastou, seus olhos estavam cobertos de lágrimas.

- Não chore, Lucy. Você vai me fazer chorar também.

- Camila em casa - disse ela, sorrindo.

- Isso mesmo, Camila em casa.

Ela fez minhas mãos e meus pés e conversou com tanto entusiasmo que, daquilo que ela contou, compreendi ainda menos do que de costume. Mencionou Austin umas duas vezes, mas fingi que não entendi. Quando terminou, me abraçou novamente.

- Obrigada, Lucy. Volto em breve - prometi.

Saí do salão e olhei para baixo, para as minhas mãos. Estavam congelando sem as luvas, mas eu não queria estragar o esmalte. Meus dentes estavam limpos e lisos quando eu passava a língua por eles. Senti o cheiro de cachorro-quente vindo de uma carrocinha enquanto eu passeava vendo vitrines, apreciando, através das vidraças, as últimas tendências da moda. Decidi voltar no dia seguinte para comprar roupas que coubessem em mim.

Eu esperava estar irreconhecível, com os óculos escuros e o gorro de lã que Sofia tinha me emprestado, e caminhei a passos largos pela calçada, com um sorriso no rosto, sentindo como se tivesse molas nos meus sapatos. Chamei um táxi na esquina e dei o endereço de Sofia.

Mesmo os repórteres que se aglomeraram ao meu redor quando cheguei à casa de Sofia não conseguiram abafar minha alegria. Abri caminho entre eles, destranquei a porta e a fechei rapidamente atrás de mim. Lauren me ligou à noite.

- Como foi no oncologista? - perguntei.

- Só vão ter os resultados do exame de sangue e de imagem dentro de alguns dias. Mas o médico disse que estava otimista, já que não tenho nenhum sintoma. Fui ao meu clínico geral também.

- E como foi?

- Preciso ganhar peso, mas, fora isso, estou bem. Contei para ele sobre a minha doença na ilha. Ele tem quase certeza de que sabe o que tive. Você estava certa. Era uma virose.

- Mas o quê, exatamente?

- Dengue hemorrágica. Ela é transmitida por mosquitos.

- Você estava sempre cheia de picadas de insetos. É como a malária?

- Acho que sim. Chamam também de febre quebra-ossos. Estão certos.

- É muito grave?

- Tem uma percentagem de morte de cerca de cinquenta por cento. O médico disse que tive sorte de não entrar em choque ou sangrar até morrer.

- Não consigo acreditar em como você sobreviveu a tanta coisa, Lauren.

- Nem eu. E então, como foi a sua consulta no médico? Está tudo bem?

- Vou ficar bem assim que ganhar mais peso. Minha médica disse que a desnutrição não será difícil de reverter. Tenho que tomar uma vitamina diariamente.

- Quase não aguento esperar para ver você amanhã, Camila.

- Também estou louca para ver você.

* * *

Na véspera do Ano-Novo, tomei um banho, fiz um penteado e passei a maquiagem que comprei. Meu novo brilho labial não sairia quando eu beijasse Lauren, o que eu planejava fazer uma porção de vezes. Cortei a etiqueta do meu jeans novo, assim como a de um suéter azul-marinho com gola em V, e os vesti sobre um sutiã preto meia-taça e uma calcinha de renda.

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