Capítulo 34 - Na floresta.

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Camila

Vomitei meu desjejum em uma manhã de novembro. Eu estava sentada no cobertor perto de Lauren comendo um ovo mexido, e o enjoo veio do nada. Eu mal andei três passos para fora da casa antes de vomitar.

— Ei, o que houve? — perguntou Lauren.

Ela me trouxe água, e enxaguei a boca.

— Não sei, mas isso não ficou na minha barriga.

— Você está se sentindo bem?

— Muito melhor agora. — Apontei para Galinha, que estava andando em volta de nós. — Galinha, esse foi um ovo ruim.

— Você quer tentar comer uma fruta-pão?

— Talvez mais tarde.

— Tudo bem.

Eu me senti bem pelo resto do dia, mas, na manhã seguinte, logo depois de comer um pedaço de coco, vomitei de novo.

Como no dia anterior, Lauren me trouxe água, e enxaguei a boca. Ela me levou de volta para o cobertor.

— Camila, o que está acontecendo? — perguntou ela, com uma expressão preocupada no rosto.

— Não sei.

Eu me deitei e me encolhi, esperando que o enjoo melhorasse. Lauren se sentou ao meu lado e afastou o cabelo do meu rosto.

— Isso vai parecer loucura, mas você não está grávida, está?

Olhei para minha barriga, quase côncava, já que eu não tinha recuperado o peso perdido da época em que Lauren estivera doente. Eu continuava sem menstruar.

— Mas você é estéril, não é?

— Eles disseram que eu era. Que eu provavelmente sempre seria.

— O que você quer dizer com provavelmente?

Ela pensou por um minuto.

— Eu me lembro de algo sobre uma chance mínima de a fertilidade poder voltar, mas que eu não deveria contar com isso. Era por isso que todo mundo queria que eu guardasse meu esperma em um banco. Eles disseram que era o único jeito de ter certeza.

— Isso parece bem estéril para mim. — Eu me sentei, me sentindo um pouco enjoada. — Não tem como eu estar grávida. Entre nós dois, provavelmente é impossível. Tenho certeza de que é só um verme. Só Deus sabe o que está vivendo no meu estômago.

Ela pegou minha mão.

— Tudo bem.

Mais tarde naquela noite, logo antes de dormir, ela disse:

— E se você estiver grávida, Camila? Sei que você quer um bebê.

Ela me abraçou mais forte.

— Ai, Lauren. Não diga isso. Não aqui. Não na ilha. O bebê teria chances mínimas de sobreviver. Quando você estava doente e pensei que talvez fosse morrer, foi quase mais do que eu podia lidar. Se tivéssemos que assistir ao nosso bebê morrer, eu iria querer morrer também.

Ela suspirou.

— Eu sei. Você está certa.

Não vomitei na manhã seguinte ou em nenhuma manhã depois daquilo. Minha barriga continuou chapada, e não tive que me preocupar em ter um bebê na ilha.

* * *

Lauren andou até a casa carregando a vara de pescar.

— Alguma coisa grande acabou de partir a linha. — Ela entrou e voltou para fora. — Este é o seu último brinco. Não sei o que vamos fazer quando perdermos este.

Ela balançou a cabeça e se virou para sair, voltando à água para pegar peixe suficiente para nossa próxima refeição.

— Lauren?

Ela olhou por cima do ombro.

— Oi, amor.

— Não consigo encontrar Galinha.

— Ela vai aparecer. Eu ajudo a procurar quando voltar, está bem?

Procuramos por toda parte. Ela já tinha se afastado antes, mas nunca por muito tempo. Eu não a via desde de manhã cedinho, e ela ainda não tinha voltado quando Lauren e eu fomos para cama.

— Vamos procurar de novo amanhã, Camila.

Eu estava sentada embaixo da cobertura no dia seguinte, descascando uma fruta-pão, quando Lauren chegou. Eu sabia pela expressão no seu rosto que ela tinha más notícias.

— Você deve ter encontrado Galinha. Ela está morta?

Ela confirmou com a cabeça.

— Onde?

— Na floresta.

Lauren se sentou, e coloquei a cabeça no seu colo, as lágrimas escorrendo.

— Ela estava morta havia pelo menos um dia — contou Lauren. — Eu a enterrei perto do John.

Lauren e eu comíamos nossa comida assim que a abatíamos, porque nos preocupávamos com uma eventual intoxicação alimentar. Saber que Galinha estava morta havia muito tempo nos salvou de preparar uma refeição com nosso animal de estimação.

Lauren e eu éramos, afinal, extremamente pragmáticas.

Alguns dias depois, na manhã da véspera de Natal, não tive vontade de sair da cama. Encolhida, fingia estar dormindo sempre que Lauren vinha me ver. Chorei um bocado. Ela me deixou assim nesse dia, mas, na manhã seguinte, insistiu para que eu me levantasse.

— É Natal, Mila — disse ela, se abaixando ao lado do bote salva-vidas até que sua cabeça estivesse no mesmo nível da minha.

Olhei dentro dos olhos dela, alarmada em ver como eles pareceram sem vida. A cor rodeando suas pupilas pareceram ter um tom mais apagado do que eu me lembrava.

Sair da cama naquele dia foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Só não me entreguei por completo porque senti que não faltava muito para eu fazer Lauren atingir meu nível de desânimo, e isso era uma coisa com a qual eu simplesmente não conseguiria lidar.

Ela me convenceu a ir até a água.

— Vai fazer você se sentir melhor.

— Tudo bem.

Boiei, sentindo-me sem peso e sem substância, como se meu corpo estivesse se quebrando de dentro para fora, o que era verdade, de certa forma. Os golfinhos se juntaram a nós e trouxeram um sorriso genuíno ao meu rosto, mesmo que por apenas um minuto.

Sentamo-nos na areia depois, como havíamos feito tantas vezes. Lauren se sentou atrás de mim, e eu me apoiei em seu peito. Ela me abraçou. Pensei na minha família reunida na casa dos meus pais, em volta da grande mesa de carvalho da sala de jantar, comendo a ceia de Natal. Minha mãe teria passado o dia cozinhando, e meu pai teria ficado ao lado dela, atrapalhando.

— Será que Papai Noel foi generoso com Chloe e Joe? — refleti.

Eu sentia falta de ver meus sobrinhos crescerem.

— Quantos anos eles têm agora? — perguntou Lauren.

— Joe está com oito. Chloe acabou de fazer seis. Espero que ainda acreditem em Papai Noel.

A não ser que alguém tivesse estragado a fantasia, eles provavelmente ainda acreditavam.

— Prometo que eu e você vamos passar o Natal juntos em Chicago no próximo ano, Camila. — Ela me apertou com força e não soltou. — Mas você tem que me prometer que não vai desistir, está bem?

— Não vou desistir — falei.

E agora nós duas estávamos falando da boca para fora.

O calendário na minha agenda acabou no final do mês, então eu teria que encontrar outra maneira de me manter atualizada com a passagem do tempo em 2005.

Talvez não me preocupasse em fazer isso.

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