Capítulo 40 - Tsunami.

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Camila

Eu me deixei levar ainda mais pelo estado de torpor. O homem balançou meu ombro com delicadeza, e eu não queria falar, mas ele não parava de me perguntar se eu conseguia ouvi-lo. Eu me virei na direção da voz dele e pisquei, tentando achar o foco com meus olhos inchados e marejados de lágrimas.

— Qual é o seu nome? — perguntou ele. — Um dos outros helicópteros acabou de tirar uma mulher da água.

Eu me esforcei para me sentar, querendo ouvir com clareza o que ele ia me contar.

— Disseram que ela está procurando por uma pessoa chamada Camila.

Levei um momento para registrar suas palavras, mas, quando compreendi, experimentei o júbilo, puro e genuíno, pela primeira vez em toda a minha vida.

— Eu sou Camila. — Enrolei os braços em volta de mim mesma e comecei a balançar para a frente e para trás, soluçando.

Aterrissamos no hospital, me colocaram em uma maca e me levaram para dentro. Dois homens me transferiram da maca para uma cama de hospital; e nenhum deles falava inglês. Enquanto me levavam, passei por um telefone público pendurado em uma parede.

Um telefone. Aqui tem um telefone.

Virei a cabeça em direção ao telefone enquanto nos distanciávamos e entrei em pânico por não conseguir lembrar imediatamente o número dos meus pais.

O hospital transbordava de pacientes. As pessoas se sentavam no chão do saguão, aguardando atendimento. Uma enfermeira se aproximou de mim e falou suavemente em uma língua que não entendi. Sorrindo e dando tapinhas em meu braço, ela puncionou a pele nas costas da minha mão com uma agulha e pendurou uma bolsa de soro em uma haste perto da cama.

— Preciso encontrar Lauren. — falei, mas ela balançou a cabeça e, ao reparar meu tremor, puxou o lençol até meu pescoço.

O caos de tantas vozes, apenas algumas delas falando inglês, soava como um trovão nos meus ouvidos, mais alto do que qualquer outra coisa que eu tivesse escutado nos últimos três anos e meio.

Inalei o odor de desinfetante e pisquei com as luzes fluorescentes que incomodavam meus olhos. Alguém empurrou minha cama para um corredor. Fiquei deitada de costas, lutando para permanecer acordada.

Onde está Lauren? 

Eu queria telefonar para os meus pais, mas não tinha forças nem para me mexer. Adormeci por um minuto, despertando assustada quando ouvi passos se aproximarem. Uma voz disse:

— A Guarda Costeira acabou de trazer a moça. Acho que estão procurando por ela.

Alguns segundos depois, uma mão puxou o lençol que me cobria, e Lauren desceu da cama dela e subiu na minha, tentando não enrolar os fios de nossos soros. Ela enroscou os braços ao meu redor e desmoronou, encostando o rosto no meu pescoço. Minhas lágrimas começaram a rolar pelo alívio de senti-lo em meus braços.

— Você conseguiu — disse ela, tremendo sem parar. — Eu amo você, Camila — sussurrou.

— Também amo você.

Tentei contar para ela sobre o telefone público, mas fui vencida pelo cansaço, e minhas palavras enroladas não faziam nenhum sentido.

Adormeci.

* * *

— Você pode me ouvir?

Alguém balançou meu ombro com delicadeza. Abri os olhos e, por um instante, não tinha ideia de onde estava.

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