24 - Rosas vermelhas

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"Não foi suficiente, pelo que notei."

Lucía deslizou a caneta sobre o papel e fechou a pasta, mantendo-a na mesa sob suas mãos, apenas para que Miranda ficasse por mais tempo. Elas trocaram um olhar fixo e silencioso por alguns segundos, até uma delas se pronunciar.

"Eu mandei algumas coisas para você mais cedo e você se recusou a verificar." Disse Lucía.

"Eu também disse que não é minha responsabilidade."

"Sim, mas você sempre me ajuda em todos os departamentos, sempre foi meu braço direito. Não entendo essa revolta de repente."

"Revolta? Não há nenhuma revolta, Lucía. Você me confiou a responsabilidade de um departamento, e nunca falhei com meu trabalho. Ajudei você desde o seu primeiro dia por ter uma certa… gratidão. Mas acho que está na hora de você andar com as próprias pernas. Você é a chefe, não eu, delegue funções, cobre dos outros departamentos, faça seu trabalho. Afinal, eu não estarei aqui para sempre, certo?" Finalizou com um largo sorriso predador.

"Por que está falando isso?"

"Não sei, por quê?" Miranda enrugou a testa e levou a mão ao peito, encenando estar confusa.

Lucía piscou atordoada. O que fez Miranda duvidar se ela havia se dado conta de que ela estava totalmente ciente dos planos de mandá-la para longe.

"Que seja" Lucía sacudiu o assunto momentâneamente. "Eu não estava aqui na sexta. Mas eu li a ata da reunião e soube das suas observações que me impossibilitaram de contratar a equipe que eu estava treinando. Eu espero que isso não seja um ataque pessoal."

"Eu não tenho nada contra você." Bufou em total desprezo. "Dei a minha opinião profissional, penso no melhor para a revista. Preciso do formulário para usar o estúdio." Ela puxou a pasta com um movimento lépido e leve, e caminhou na direção da porta, mas parou no meio da sala e disse olhando por cima do ombro: "Vou precisar substituir o fotógrafo."

Já na antessala, Miranda encostou seu lado na mesa de Celine e pegou o telefone dela, discando um número que ela tinha na memória. A jovem piscou observando a mulher com uma certa admiração e um fundo de medo.

"Estou preocupada com você, Celine." Disse Miranda, levando o telefone ao rosto.

"Eu também." Respondeu a jovem, distraidamente. "Quero dizer, por quê?"

"Alô? James, querido! Como você está? É claro que eu preciso de alguma coisa, por que outro motivo eu ligaria? Eu preciso de um fotógrafo com urgência, você conhece algum disponível na capital?" Puxando o bloco de notas e a caneta de Celine, Miranda começou a anotar. "Okay, obrigada, querido, preciso voltar ao trabalho." Ela empurrou o bloco de volta para a jovem e disse sem pausas. "Você vai ligar para esse número e marcar uma reunião urgente com o RH, diga que é indicação de Hamilton. Essa sessão precisa ser feita até amanhã com Claude, combine os detalhes com ele. Quero as fotografias na minha sala na quarta. Isso é tudo."

Finalizou, saindo rapidamente da antessala, batendo opressivamente seus saltos no piso frio e polido.

°°☉°°

Era uma noite como tantas outras. Miranda chegaria no conforto de sua casa quente, silenciosa e solitária, faria um café fumegante, espalharia as pastas na mesa de centro, e trabalharia em seu sofá aconchegante vestindo um robe leve.

Girou a chave na fechadura e abriu a porta da casa, ligou a luz do corredor e fez seu ritual de chegada. Até que algo incomum chamou sua atenção, a iluminação da TV se movimentando em uma dança de luzes e sombras nas paredes da casa.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Where stories live. Discover now