Capítulo 14

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Não pude deixar de estranhar o lugar para onde o rapaz estava a me levar para buscar seu carro, e só pude me tranquilizar perto daquele beco onde estávamos assim que vi Payton pegando a chaves de seu carro no bolso da jaqueta que usava e destravando o veículo. O carro de Payton poderia ser considerado definitivamente um carro de luxo, um daqueles que se encaixaria melhor com um motorista do que com o próprio dono a dirigir, mas aparentemente Payton não se importa com isso, já que o mesmo entrou no lado do motorista depois de abrir a porta do passageiro de forma gentil para que eu entrasse, o que me deixou ainda mais desconfiada das verdadeiras - e novas - intenções do rapaz de olhos castanhos. Me acolhi no confortável banco de couro claro do carro enquanto sentia o motor suave do veículo fazer quase nenhum barulho assim que Payton ligou o carro.

Meus ombros estavam doendo tal como os meus pés devido a minha corrida para que Payton não me alcançasse, o que acabou sendo uma grande perda de tempo, visto que agora eu estou dentro do carro dele tentando convencer a mim mesma de que Payton não tentaria nada contra mim até que eu chegasse em casa, e também nos próximos dias em que teria que trabalhar para ele. Porém, eu ainda não conseguia garantir a mim mesma de que eu conseguiria me segurar até o final da noite, e só fui capaz de perceber isso assim que peguei-me a observar fixamente a forma como Payton dirigia ao meu lado; ele mordia o lábio inferior levemente enquanto focava-se no caminho, passando os dedos ao redor de sua boca como se estivesse a pensar em algo, levantando as sobrancelhas sempre que mudava de faixa ou virava em alguma rua. Respirei fundo e saí do pequeno transe que me encontrava, trazendo-me de volta para a realidade e fazendo questão de me lembrar do que já havia acontecido e do que mais poderia acontecer futuramente.

"Megan? Sem querer ser chato ou algo do tipo, mas vou ser obrigado a te tirar do seu próprio mundinho por um tempo. Acho que você ainda não percebeu, mas eu estou dirigindo em círculos em volta da Times Square já faz dez minutos, não sei o lugar certo onde você mora." Payton avisou, e quando me dei conta estávamos mais um vez na rua do Friday's mesmo depois de minutos dentro do carro em movimento.

"Você vai precisar atravessar a ponte do Brooklyn, depois é só seguir entre as ruas do Bronx até os arredores e-" Eu tentei continuar a explicar o caminho, mas antes mesmo que pudesse concluir Payton pegou um aparelho dentro do carro e me entregou, me deixando sem saber o que fazer.

"Pode ligar, é um GPS." Explicou, apertando um botão na lateral do aparelho e ligando o mesmo e o brilho que surgiu na tela pareceu um pouco excessivo demais para mim. "Não é difícil de mexer, só colocar o endereço e aqui e depois colocar nesse suporte." Ele indicou para um suporte logo em cima do painel do carro, e logo comecei a digitar o meu endereço, em seguida colocando o GPS sobre o painel do carro. Payton olhou rapidamente para o endereço e para a rota que teria que seguir, e pelo visto acabou se surpreendendo com alguma coisa, o que pude supor que fosse por conta da localização. "Não acha que mora muito longe de onde costuma trabalhar, Megan? Fica nos arredores mais distantes do Bronx, um dos lugares mais perigosos de toda Nova York, além de ser bem longe de Manhattan." Payton comentou enquanto dirigia, desta vez saindo da zona de movimentação da Times Square.

"Eu sei que é muito mais longe do que o próprio Bronx e que é um lugar perigoso, assim que me mudei de Nova Jersey para cá fui difícil me acostumar, mas agora já não me importo tanto. Tem uma estação de metrô e um posto policial perto do meu apartamento, além disso eu tenho um celular e uma colega de apartamento que querendo ou não me deixa mais segura." Respondi em defesa, encarando a movimentação sem fim da cidade por trás da janela escura do carro, perguntando a mim mesma para onde tantas pessoas vão e de onde exatamente elas vêm. São tantas pessoas vivendo nas ruas para uma cidade tão grande quanto Nova York, e tenho total certeza que somente os prédios de Manhattan poderiam abrigar cada uma delas sem problemas, além das casas do subúrbio e do Brooklyn.

"Mesmo assim, Megan, tem muitos apartamentos bons e mais seguro bem mais perto do centro, você deveria repensar e se mudar para Manhattan. Não quero receber um telefonema dizendo que você foi assassinada enquanto tentava pegar o metrô para ir trabalhar." Revogou o de olhos castanhos, o que me fez entrar em um assunto que a todo custo eu tentava evitar.

"Não é assim tão simples, Payton. Os apartamentos longe do centro são bem mais baratos, e o aluguel e todas as outras contas não ficam caros para mim, ainda mais dividindo tudo com uma outra pessoa. Eu não trabalho só para pagar minhas contas e me manter aqui, eu também pago parte dos meus estudos." Tentei explicar sem deixar claro que falar sobre dinheiro me deixava totalmente desconfortável.

"Bem, vendo por esse lado até que faz sentindo." A resposta de Payton acabou por me surpreender um pouco, já que eu estava esperando palavras sobre como morar em Manhattan poderia ser melhor apesar de tudo, e não algo mais compreensivo como o que ele havia respondido. "E essa tal colega de apartamento? Vocês são amigas de infância ou algo do tipo?"

"Bem, Becky e eu costumávamos estudar juntas, mas ela largou o curso de mode e design logo no primeiro semestre, antes disso nós conversávamos mais e como as duas precisavam de um lugar fixo para morar até nos formamos e nos estabelecemos na cidade, acabamos concordando em morar juntas. No começo até deu certo, mas agora tem sido frustrante morar com ela."

"Por que? Ela é uma daquelas pessoas que mexe nas suas coisas e come as suas panquecas de manhã?" Payton perguntou em um tom de humor, e eu não evitei em rir com o seu comentário antes de responder do que realmente se tratava.

"Não me incomodaria se o assunto fosse panquecas. Becky consegue ser bem irritante e escandalosa, além de querer saber tudo sobre a minha vida quando não fala absolutamente nada de si mesma. E também é irritante ouvir o quanto ela geme sempre que leva alguém para o nosso apartamento. Perdi a conta de quantas vezes eu precisei levantar da cama depois do meio dia para garantir que não encontraria nenhum garoto nu deitado no meu sofá, já que fiquei com um trauma depois da última vez que isso aconteceu." Divaguei um pouco enojada somente por lembrar daquela cena que me assombra até hoje.

"Me sinto estranho ouvindo todas essas coisas." Ele fez uma cara meio estranha como se pudesse vomitar a qualquer momento, o que me fez rir mais uma vez antes que o silêncio perturbador voltasse a se instalar no carro.

Eu jamais imaginei que pudesse ter uma conversa tão aberta e tão saudável com alguém que conheço a poucos dias e que me fez passar pelos momentos mais constrangedores e mais nervosos da minha vida; peguei a mim mesma a pensar na teoria de que Payton gostaria de recomeçar novamente as coisas entre nós, e que talvez não precisasse voltar a contar aquelas histórias para ele. Payton pode ser muito mais legal e amigável quando não está tentando me provocar ou insistindo com pedidos estranhos, e pela primeira vez desde que nos conhecemos, eu não sinto vontade alguma de bater ou xingar o rapaz de qualquer nome que venha a minha mente, apenas ficar em paz e em um clima leve como estamos no momento, mesmo com o silêncio inquebrável entre nós. Até agora.

"Megan, sabe o que eu estou pensando, o que pode ser bom para você?" Ele questionou sem que eu esperasse quebrando o silêncio entre nós. Estávamos atravessando o ponte do Brooklyn milagrosamente sem trânsito algum devido ao horário, já que era quase meia-noite no momento. Encarei Payton de lado esperando que o mesmo continuasse a falar, e ao mesmo tempo que fiquei curiosa em saber o que poderia se tratar, um certo medo não deixou de dominar parte de mim, já que eu não sabia exatamente o que esperar de Payton àquela altura.

"O que foi, Payton?" Perguntei com certa insegurança ao perceber o sorriso do rapaz, e quando me dei conta estava olhando fixamente para ele enquanto mordia meu lábio inferior com mais força do que deveria, já que estava começando a sentir o sangue pela minha boca. Eu me sentia nervosa por motivo nenhum, como se já pudesse imaginar que o que Payton iria me dizer a seguir iria me surpreender mais do que qualquer outra coisa que já poderia ter saído da boca do rapaz de olhos castanhos.

"O que você acha de passar a morar comigo?"

𝐋𝐚𝐭𝐞𝐫  𝐒𝐭𝐨𝐫𝐢𝐞𝐬 - 𝐏𝐚𝐲𝐭𝐨𝐧 𝐌𝐨𝐨𝐫𝐦𝐞𝐢𝐞𝐫 Where stories live. Discover now